Norberto
Sateco – O País (ao)
Angola
reduziu o número de pessoas que padecem de má nutrição para a metade, durante
os últimos 25 anos, diz relatório do Fundo das Nações Unidas para a Alimentação
(FAO), publicado nesta Quarta-feira, 17, em Roma. Enquanto
isso, especialistas comunitários angolanos manifestam dúvidas quanto à
fiabilidade destes dados
No
mais recente relatório do Fundo das Nações Unidas para a Alimentação (FAO),
relativo à Insegurança Alimentar no Mundo, Angola aparece com indicadores
bastantes animadores.
O
documento a que OPAÍS teve acesso, refere que o nosso país registou uma redução
“acentuada” de pessoas que enfrentam diariamente o paradigma da desnutrição.
As
mais de 6 milhões de pessoas que viviam nesta condição nos anos de 1990/1992
(aquando do fim do conflito armado) baixou para os actuais 3,9 milhões, tendo
assim reduzido para metade da sua população desnutrida em apenas 25 anos. Ainda
no mesmo documento apresentando pelo director-geral da FAO, José Graziano da
Silva, Angola conta actualmente com 3,9 milhões de pessoas sub-nutridas, que
implica estarem relegados à condição de má alimentação 18% de toda a população
do país.
“Até
1992, a
taxa de pessoas subnutridas era de 63,3% do total da população, enquanto neste
ano fixouse em 18%, colocando Angola, desta forma, no ranking de países que
alcançaram progressos face ao Objectivo de Desenvolvimento do Milénio traçado
para 2015” ,
refere o relatório.
Entretanto,
estes dados colocam Angola num lugar confortável ao nível do mundo, em
consequência das políticas implementadas pelo executivo no apoio aos pequenos e
médios agricultores, com destaque para a agricultura familiar que representa 75
por cento da produção nacional, segundo afirmou, recentemente, na região da
Kibala, Kuanza-Sul, o titular da pasta da Agricultura, Afonso Pedro Canga.
Entretanto,
em Janeiro deste ano, a Organização Não Governamental (Oxfam) avaliou a
situação alimentar de 125 países e colocou Angola entre os três países com
maior índice de sub-nutrição do mundo.
Moçambique
e a Guiné-Bissau também figuram na lista dentre os 30 piores colocados. Segundo
a argumentação de Deborah Hardoon, pesquisadora da Oxfam, não é a falta de
comida que atira o país para o fim da tabela mas são essencialmente os preços
elevados que se praticam sobre os produtos alimentares.
Dezasseis
por cento das crianças angolanas, por exemplo, estão abaixo do peso ideal,
segundo o estudo da mesma ONG Internacional. Contudo, destaca a pesquisadora
que é o factor da volatilidade dos preços da comida que atira Angola para as
piores posições.
“Em
Angola assistimos valores muito altos de venda de comida e um recorde de
instabilidade no preço dos alimentos”, explicou, tendo acrescentado um outro
problema relacionado com o acesso a água potável.
Reacções
De
acordo fontes do Ministério da Agricultura a que O PAÍS teve acesso, são vários
os projectos que têm sido levados a cabo ao nível das comunidades rurais, em
parceria com a FAO, para se atingir esta cifra, tomando como exemplo as escolas
de campo nas províncias do Bié e Huambo, onde os camponeses são sensibilizados
para novas práticas e técnicas de cultivo com vista a maximizar a produção e
melhorar a sua condição económica.
As
inquietações que são recorrentemente apresentadas pelos pequenos e médios
agricultores, de falta de apoios financeiros do Estado, têm estado a
agudizar-se segundo O PAÍS apurou junto da fonte, que disse bastar um olhar
para a verba destinada ao sector da agricultura familiar estimada num valor de
1,3 mil milhões de Kwanzas, montante que no ano seguinte manteve-se quase
inalterável com 1,4 milhões de Kwanzas.
O
responsável do Departamento de Segurança Alimentar do Ministério da
Agricultura, contactado para ajudar a compreender estes números disse não estar
ao corrente do referido relatório, tendo prometido pronunciar-se numa próxima
oportunidade.
Relatório
deixa dúvidas
Já
para o activista comunitário, Pio Wakussanga os números apresentados pela FAO
deixam muitas dúvidas, uma vez que o levantamento estatístico que na maior
parte das vezes é feito não tem sido abrangente e inclusivo nas comunidades
mais afectadas pela fome.
Para
o também sociólogo, olhando para os últimos anos em que o país viveu a seca,
várias pessoas ficaram relegadas à condição de má nutrição, daí não intender
estes dados apresentados pelo Fundo das Nações Unidas para a Alimentação. “Eu
não sei onde a FAO foi buscar estes dados.
Ao
nível do interior de Angola a população vive fome e sede devido à falta de
água. A situação já existe em algumas zonas há mais de três anos e não tem
evoluído, antes pelo contrário, tem piorado”, esclareceu o entrevistado.
O
também clérigo católico apontou um outro problema que “até hoje não tem tido
pernas para andar”, relativo à sexta básica das famílias afectadas pela fome
devido à seca no Cunene e na região dos Gambos, na Huíla.
As
800 mil famílias afectadas pela crise, na última região citada, subiram
drasticamente embora reconheça a intenção do Executivo construir diques para
reservar água com o fito de implementar culturas resistentes e dar de beber ao
gado. Este especialista comunitário manifestou também preocupação quanto ao
êxodo rural que se regista nas comunidades.
Sem comentários:
Enviar um comentário