João
Quartim de Moraes*, São Paulo – Correio do Brasil, opinião
Antes
do não esclarecido acidente aéreo em que pereceu Eduardo Campos, quando subia a
expectativa de votação no senador Aécio Neves, a Bolsa de Valores
subia junto, com regularidade bastante para sugerir uma lei mercadológica. A
presença em sua equipe de Armínio Fraga e outros expoentes da “turma da grana”
oferecia aos abutres da especulação tentadoras perspectivas.
O
Banco Santander, habituado a apostar contra o real e contra a Petrobras,
apoiou-se no “efeito Aécio” para interferir a seu favor na campanha
presidencial.
Antes
do não esclarecido acidente aéreo em que pereceu Eduardo Campos, quando subia a
expectativa de votação no senador Aécio Neves, a Bolsa de Valores subia junto,
com regularidade bastante para sugerir uma lei mercadológica. A presença em sua
equipe de Armínio Fraga e outros expoentes da “turma da grana” oferecia aos
abutres da especulação tentadoras perspectivas. O Banco Santander, habituado a
apostar contra o real e contra a Petrobras, apoiou-se no “efeito Aécio” para
interferir a seu favor na campanha presidencial.
Eleito
governador de Minas Gerais em 2002 e reeleito em 2006 com confortável maioria,
o garboso tucano das Alterosas seguirá fielmente o “pensamento único”
neoliberal, promovendo privatizações, “enxugamento” de empregos, redução das
prestações sociais do Estado, degradação dos serviços públicos. Sua folha
corrida inspirava total confiança à burguesia bem pensante, aos financistas, ao
agronegócio. Mas embora tivesse subido o suficiente nas sondagens para animar
os especuladores, ele não chegava a ameaçar a reeleição da presidente Dilma. No
máximo, poderia provocar um segundo turno em que perderia por pouco.
A
situação mudou com a entrada de Marina da Silva na disputa. Seu sucesso nas
primeiras sondagens eleitorais abriu para os círculos dirigentes da classe
dominante e para a direita em geral uma esperança concreta de vitória na
disputa pela presidência, após três sucessivas derrotas para o centro-esquerda
(Lula em 2002 e 2006; Dilma em 2010). Eles teriam preferido alguém do meio
deles, nascido em berço esplêndido como eles, politicamente estável e
ideologicamente estático, previsível e confiável como Aécio, mas apoiariam
qualquer candidato com chances de alijar do governo federal o PT e seus
aliados. Para eles, longe de constituir um obstáculo, o primarismo das noções
econômicas de Marina é garantia de que ela vai continuar comendo na mão dos
dois neoliberais de choque que são seus principais conselheiros: André Lara
Resende (que após assessorar Fernando Collor no confisco da poupança popular, juntou-se
aos fundamentalistas de mercado a serviço de FHC) e Eduardo Gianetti
(eco-capitalista, autor de alguns livros de autoajuda).
O
objetivo principal dos banqueiros e outros agiotas da finança, que estavam
ganhando rios de dinheiro fácil com juros extorsivos, é reverter a redução das
taxas de juros promovida pela presidente Dilma. Eles não ousaram atacar
diretamente a medida, mesmo porque, da boca para fora, o patronato industrial
apoiou a iniciativa, que encorajava os investimentos produtivos. Mas os grandes
grupos industriais, habituados a obter do BNDES empréstimos para investimento a
juros baratos e a aplicar seus lucros a taxas elevadas no mercado financeiro,
reagiram à queda dessas taxas recorrendo à posição monopolista que ocupam em
seus respectivos ramos produtivos para aumentar os preços. A tendência dos
grandes trustes a ampliar seus ganhos pela especulação vem de longe. Quando
estourou a crise aguda do capitalismo internacional em 2008, três deles,
Aracruz, Sadia e Votorantim foram pegos com a mão na cumbuca da jogatina
financeira.
Ao
sabotarem o esforço do governo para baixar os juros a um nível mais próximo à
média internacional, banqueiros e magnatas da indústria provocaram as fortes
tensões inflacionárias e a estagnação dos investimentos produtivos que travaram
o crescimento econômico nacional.
As
sondagens eleitorais divulgadas na última semana de agosto, apresentando empate
no primeiro turno e vitória nítida de Marina no segundo, suscitaram eufórico
alvoroço dos abutres da finança. Levado ao paroxismo, o “efeito Aécio” virou
“efeito Marina”. O jornal Valor (de troca), de 28 de agosto,
trombeteou feliz: “Mercado ‘compra’ Marina”. Não fica claro o significado das
aspas em “compra”, mas o fato é que na Bovespa, houve forte alta no preço das
ações mais importantes, que atingiram um pico no dia 3 de setembro quando
Petrobras chegou a R$ 24,00 e o Banco do Brasil a R$ 38,00. Nesse mesmo dia,
porém divulgou-se nova pesquisa em
que Dilma aparecia um ponto à frente de Marina no primeiro
turno, embora esta conservasse vantagem no segundo. Foi o que bastou para a
bolsa cair no dia seguinte. A conclusão se impõe: Marina não é só a candidata
do Clube Militar, das “ongs” made in USA, do fundamentalista Malafaia e
consortes. É também a musa dos banqueiros e outros especuladores.
*João
Quartim de Moraes, é professor da Unicamp e da Fundação Maurício
Grabois, seção São Paulo.
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