segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Independência na Escócia vai demorar a entrar em pleno funcionamento - previsão




A implementação da independência da Escócia vai demorar mais do que os 18 meses que o Partido Nacionalista Escocês determinou caso o "sim" vença no referendo de quinta-feira, afirmou o professor de direito Jo Murkens.

"Mesmo que corra bem e sejam pragmáticos, deve demorar pelo menos dois ou três anos. Mas ninguém sabe o que vai acontecer", disse à agência Lusa o académico da universidade London School of Economics (LSE) que participou na escrita, ainda em 2002, de um "Guia Prático" para a independência escocesa.

O Partido Nacionalista Escocês (SNP, sigla inglesa) projetou para 24 de março de 2016 o dia da independência num documento em que delineou o roteiro para a autonomia total e separação do resto do Reino Unido.

Mas, segundo Murkens, "há muitas coisas a discutir, desde a defesa nacional -- em que a União Europeia e os EUA [enquanto proprietários dos mísseis nucleares] terão uma palavra a dizer - à moeda, a questões como o financiamento das universidades, a [televisão pública] BBC ou o serviço nacional de saúde".  

O especialista referiu a questão dos submarinos nucleares britânicos, que o SNP pretende desalojar da base naval de Faslane, na costa leste da Escócia, como um exemplo das complicações que podem surgir durante as negociações com o Governo britânico.

"O problema é que não existe mais nenhum lugar no Reino Unido para onde os levar. Construir uma nova base custará milhares de milhões de libras", estimou. 

O académico da LSE referiu que grande parte da incerteza sobre a transição surge do próprio formato que os nacionalistas escoceses escolheram para a independência do país.

"Representa alguma mudança, mas não total. Querem controlar a política fiscal, mas ao mesmo tempo querem manter o serviço nacional de saúde, a rainha e a libra. O que eles querem não é uma secessão, mas algo com um grau de continuidade", vincou.

As contradições continuam, disse Murkens à Lusa, sobre a relação com a União Europeia, à qual a Escócia independente pretende aderir tão rápido quanto possível.

"É interessante", indicou, "porque ao mesmo tempo recusa aderir ao euro [moeda única] ou ao acordo de Schengen [que permite aos cidadãos europeus passarem fronteiras europeias sem controlo dos documentos de identificação]".

Ao todo, quase 4,3 milhões de residentes no país com idade a partir dos 16 anos estão registados para responder "sim" ou "não" na quinta-feira à pergunta: "Deve a Escócia ser um país independente?".

Lusa, em Notícias ao Minuto

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