terça-feira, 23 de setembro de 2014

Moçambique – Abate de rinocerontes e elefantes: Combate arrojado evitará extinção




Medidas arrojadas, que passam pela detenção e condenação a penas pesadas dos caçadores furtivos, devem ser tomadas urgentemente por forma a evitar a extinção do rinoceronte e do elefante nas reservas nacionais, bem como assegurar a conservação da biodiversidade.

Esta posição foi defendida ontem, em Maputo, pelo administrador do Parque Nacional do Limpopo, António Abacar, e por Carlos Pereira, investigador da World Conservation Society, no seminário sobre a caça furtiva em Moçambique, organizado pela Procuradoria -Geral da República. O primeiro falava sobre a situação do rinoceronte e o segundo sobre o elefante, duas espécies de animais que têm estado na mira da rede internacional de caçadores furtivos, daí que a lei recentemente aprovada refere que a medida com pena máxima de 12 anos aos infractores deve ser aplicada, pois não só constitui ameaça à biodiversidade, mas também à segurança internacional.

Dados tornados públicos ontem indicam que na década de 70, o país contava com uma população de elefantes estimada em 50 mil animais, números que nos últimos tempos baixaram para 16.700 elefantes. No que diz respeito ao rinoceronte, o país conta actualmente com cerca de 19 mil animais, na sua maioria concentrados nas províncias de Niassa, Cabo Delgado, Tete e um pouco na zona sul. Em tempos, Moçambique já teve o dobro dos rinocerontes que tem agora mas, devido às acções dos caçadores furtivos, muitos vão sendo dizimados.

O abate indiscriminado do rinoceronte e do elefante não só atinge as reservas nacionais, uma vez que os furtivos estendem as suas acções para a vizinha África do Sul, mais concretamente no Kruger Park. Só em 2008, foram apanhados pela guarda-fiscal daquele país um total de 280 moçambicanos. Em 2013, foram abatidos pelos caçadores furtivos moçambicanos um total de 461 rinocerontes, 288 dos quais no Kruger Park. Aliás, segundo o administrador do Parque Nacional do Limpopo, António Abacar, 75 por cento da caça furtiva que se verifica no Kruger Park tem nos seus executores os caçadores furtivos moçambicanos.

“A caça furtiva é uma realidade e as suas causas e manifestações desafiam o Ministério Público a tomar medidas contundentes com vista a sua eliminação. Os nossos fiscais têm sofrido constantes ameaças de morte, muitas vezes por meio de mensagens anónimas. O ano passado perdemos um colega que foi morto pelos furtivos que queriam arrombar o cofre onde estavam depositadas armas e outras peças de animais apreendidas. Ao todo já morreram sete colegas vítimas dos furtivos” - lamentou António Abacar.

Por seu turno, o investigador Carlos Pereira, da World Conservation Society, alertou para o facto de nos próximos 30 anos, caso não haja uma intervenção contundente, o elefante vir a ser dado como extinto.

“Temos que agir rápido e decididamente. Infelizmente, o nosso país faz parte do grupo dos nove que ainda não conseguiram combater a caça furtiva”, disse Carlos Pereira, sublinhando que os criminosos ganham entre oito a dez milhões de dólares pelo tráfico dos animais, onde por cada participação no abate um furtivo ganha sete por cento do valor e o restante fica para os mandantes” - disse Pereira.

Entretanto, a Procuradora Geral da República, Biatriz Buchili, destacou a urgência de se formarem agentes da Polícia e magistrados para trabalharem na protecção da caça furtiva. Segundo ela, é preciso que se tomarem medidas excepcionais para combater a caça furtiva, isto desde os mandantes, passando pelos operativos e o mercado para onde é encaminhado o produto.

O evento, que termina hoje, conta com a presença de magistrados do Ministério Público e judiciais, administradores dos distritos de Massingir, Magude, Matutuíne, Chicualacuala, Mágoè e Mavago, de comandantes dos principais distritos assolados pela caça furtiva, dos administradores de seis reservas nacionais, sociedade civil, entre outros.

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