Pedro
Tadeu – Diário de Notícias, opinião
Há
exatamente 70 dias titulei aqui uma previsão fatal: "Vítor Bento a caminho da centrifugação"... Bingo!
Remover
Vítor Bento da liderança do Novo Banco passou a ser uma inevitabilidade na
própria hora em que o então conselheiro de Estado aceitou presidir ao, ainda, Banco
Espírito Santo.
O
candidato a banqueiro moralista tinha utilidade: dar cobertura, com a sua
credibilidade pessoal, a uma operação de risco. Mas a partir do momento em que
restos mortais do BES pudessem ser servidos à mesa financeira, a sua presença atrapalharia
os comensais.
Estes
senhores desejam deglutir rapidamente, inteiro ou aos pedaços, o cozinhado
extraído para o "banco bom": uma bandeja cheia de agências bancárias
espalhadas pelo País, milhares de milhões em depósitos, créditos e negócios
potencialmente fantásticos, como a seguradora Tranquilidade (que Bento ainda
vendeu por 44 milhões) ou a Espírito Santo Saúde.
Vítor
Bento, Moreira Rato e José Honório, nomeados até 2017, tinham um aparente plano
sensato: reestruturar o Novo Banco, em dois ou três anos, de forma a ter
condições para o capitalizar em bolsa, pagando nessa altura ao Fundo de
Resolução os 4,9 mil milhões mais juros com que iniciaram a atividade.
Agora
a turba mediática, o governador do Banco de Portugal, o primeiro-ministro e a
Comissão Europeia propagandeiam a necessidade da venda rápida do Novo Banco, a
quem der mais, por causa dos "riscos" de prolongar no tempo a
governação acordada (sim, acordada, não tenho dúvidas) com Vítor Bento.
"Os
bancos concorrentes são acionistas do Novo Banco e não podem ter esse ponto de
interrogação nos seus balanços", explicou ontem Passos Coelho.
Vejamos:
inicialmente a banca só tinha no Fundo de Resolução, através de contribuições
previstas na lei - que pagaria sempre, houvesse ou não caso BES -, 367 milhões
de euros. O Banco de Portugal queria apenas mais 133 milhões. Os generosos
banqueiros resolveram, porém, investir mais 633 milhões. O Estado, através de
reservas da troika, emprestou 3,9 mil milhões. Para explicar o raciocínio de
Passos Coelho o resultado final é este: os 20 % da banca no Fundo de Resolução
mandam mais do que os 80% do Estado. Por isso "há que vender depressa o
Novo Banco, depressa"...
Vítor
Bento, feito idiota útil, lá foi centrifugado para o vácuo profissional, com um
capcioso carimbo de "falta de patriotismo", punhalado por Paulo
Portas e jornalistas míopes. E os banqueiros, lestos, arranjaram um dos seus
para liderar a comissão liquidatária que distribuirá os despojos do "banco
bom". Ricardo Salgado, em fundo, sorri.
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