quarta-feira, 8 de outubro de 2014

RADICAIS FUSTIGADOS NA SOMÁLIA



Roger Godwin – Jornal de Angola, opinião

As forças militares do governo da Somália, com o determinante e prestimoso apoio dos militares da União Africana, estão a conseguir triunfos importantes num constante fustigar dos radicais islâmicos do grupo al-Shabab o que pode culminar, a curto prazo, com o enfraquecimento significativo destes rebeldes e seu consequente enquadramento na vida normal do país


Um golpe decisivo contra o al-Shabab foi dado quando a 1 de Setembro um drone norte-americano bombardeou com mísseis e bombas um comboio de camiões que circulava perto da cidade de Barawe, a 220 quilómetros da capital, Mogadíscio, matando centenas de rebeldes entre os quais Ahmed Abdi Godane, considerado um dos mais ferozes e radicais chefes dos rebeldes.

Esta operação foi feita em coordenação entre o exército da Somália e as forças militares da União Africana, que a partir dessa altura intensificaram os ataques para a ocupação de Barawe, onde o al-Shabab tinha o seu principal quartel-general e de onde preparava os ataques contra a cidade de Mogadíscio. Após quase um mês de intensos combates, neste fim-de-semana, o governo da Somália anunciou, finalmente, a ocupação daquela cidade, naquilo que foi um passo decisivo para o desmantelamento, espera-se que definitivo, do al-Shabab, grupo responsável pela morte de milhares de pessoas e por uma prolongada e sangrenta guerra civil.

Uma semana depois da morte do seu líder, um porta-voz do al-Shabab usou as redes sociais para anunciar que um primo do seu antigo líder, Ahamad Umar Ubidah, seria a partir de então o novo chefe do grupo naquilo que, em primeira instância, foi entendido como uma tentativa para dar a ideia de que os rebeldes continuavam determinados a lutar contra o governo da Somália. ­Porém, a verdade é que Ahamad Ubidah havia sido expulso do restrito grupo que lidera o al-Shabab, tendo mesmo sido acusado, há cinco anos, de ser um espião infiltrado na organização com o objectivo de a desviar das suas tentativas de imposição de um Estado islâmico na Somália.

Alguns especialistas sobre o que se vem passando na Somália especulam que uma eventual ascensão de Ubidah poderá também significar que a liderança do al-Shabab foi agora ocupada por elementos menos radicais que os anteriores, restando saber qual a correlação de forças existentes entre duas eventuais tendências, uma de linha dura e uma outra mais dialogante e menos interessada no derramamento de sangue.

Os defensores desta ideia apontam, também, para o perigo de se poder estar perante uma tentativa dos rebeldes ganharem tempo para se reorganizarem e assim recuperarem da morte do antigo líder, dando a ideia de que estariam num movimento de reflexão e aproximação ao governo.

Independentemente daquilo que possa ser a estratégia do al-Shabab e as engenharias políticas para as entender, importa sublinhar que as forças governamentais, com o indispensável apoio da União Africana, estão visivelmente determinadas em prosseguir os combates para desalojar os rebeldes das poucas posições que ainda ocupam e a partir das quais possuem alguma capacidade para resistir durante mais algum tempo. Países vizinhos da Somália, como o Quénia, por exemplo, seguem com particular atenção os últimos desenvolvimentos que envolvem o al-Shabab, com receio de que possam ser vítimas imediatas de uma debandada desordenada dos rebeldes islâmicos que optem por atravessar as fronteiras. No caso do Quénia, onde se especula que possam estar abrigados milhares de militantes islâmicos da Somália, o caso ganha uma maior dimensão uma vez que foi a partir da cidade de Barawe que se movimentaram os elementos que há um ano atacaram um dos principais centros comerciais de Nairobi.

Embora os autores efectivos do ataque nunca tenham sido descobertos, existem poucas dúvidas de que se tratavam de militantes radicais islâmicos do al-Shabab provenientes do interior da Somália, mais concretamente da cidade mais próxima da fronteira entre os dois países: Barawe.

O actual ponto da situação no que respeita ao empenhamento para neutralizar o al-Shabab aconselha a que seja feito um esforço adicional no sentido de redobrar os apoios às acções conjuntas das forças militares da Somália e da União Africana para impedir que o grupo se reorganize.

Nesse sentido importa estar atento às habituais estratégias de dilatação de tempo, como sejam as de pedidos de negociações ou os anúncios de novas direcções “mais dialogantes”, habitualmente feitos por quem está já numa situação de desespero de causa quase perdida.

Se as forças empenhadas em libertar a Somália dos perigos protagonizados pelos radicais islâmicos não aproveitarem as conquistas feitas no terreno de combate para impor uma total libertação do país, correrão sérios riscos de, a breve prazo, se verem confrontadas com um al-Shabab ainda mais forte e sangrento, intransigente na sua determinação em continuar a lutar pela imposição de um Estado islâmico. Com o al-Shabab a ser fustigado na Somália e o Boko Haram a sofrer os primeiros sérios reveses na Nigéria, o mundo africano pode começar a ter esperança de poder vencer as tentativas de islamização forçada de que tem vindo a ser vítima e de assim prosseguir o seu caminho rumo a um crescimento e desenvolvimento determinante para o seu futuro.

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