Folha
8 Digital, 29 novembro 2014
Manuel
Hilberto de Carvalho, “Ganga”, angolano, jovem militante e dirigente da
CASA-CE, foi assassinado há um ano. Quem disparou foram elementos da Guarda
Presidencial. No dia 12 de Dezembro de 2013 foi apresentada a respectiva
queixa na DNIAP e na PGR. É este o país que a maioria não quer mas que uma
minoria mantém acorrentado dentro do cárcere do regime.
Assim
sendo, ninguém foi nem será detido e o caso continua no âmbito das supostas
averiguações policiais. As autoridades procuram ainda o candeeiro que
encandeou o autor dos tiros, originando assim que o tiro para o ar acertasse em
cheio na vítima.
Nesse
fatídico dia, “Ganga” (um angolano de alma e coração) colava cartazes
anti-Governo no âmbito de uma manifestação contra a repressão e em repúdio
pelas violações sistemáticas dos direitos humanos por parte do regime. Foi um
crime de lesa-majestade punível, como se verificou, com a pena de morte
imediata e sem julgamento. Tudo a bem da casta superior que dirige o nosso
(mais deles do que nosso, é por enquanto certo) país.
Julgando-se
iguais aos restantes angolanos, os jovens que colavam cartazes foram
diplomaticamente abordados pelos serviçais da Guarda Presidencial que se
apresentaram armados até aos dentes e os convidaram a subir, com a sua ajuda –
como é óbvio, para as viaturas de serviço. As testemunhas deste civilizado
acto de cidadania e de respeito integral pelos direitos humanos dizem que os
guardas proferiram “palavras agressivas e ameaças de morte”. Nada de mais
errado. Eles limitaram-se a um cordial “sejam bem-vindos a bordo das nossas
viaturas”.
A
marcha, quase com características nupciais, não foi bem interpretada pelo
“Ganga” que, desconfiado com tanta cordialidade que quase roçava uma
declaração de amor, não compreendeu que a chegada ao perímetro do Palácio
Presidencial visava uma recepção democrática por parte do Presidente. Vai
daí, “Ganga” tentou fugir. Chateados, os homens do Presidente dispararam para
o ar mas as balas, teimosas, acabaram por o assassinar.
Até
agora, seguindo a tradição regime(ntal), ninguém foi responsabilizado. Tanto
quanto se crê, a culpa é apenas das balas que desobedeceram e em vez de irem
para o ar foram direitinhas ao corpo do “Ganga”.
“Ganga”
foi fisicamente assassinado. No entanto, os seus carrascos (os que dispararam e
os que os autorizam a disparar) não conseguiram matar a sua alma e o seu
espírito de resistência. Ele é, aliás, o “patrono da juventude patriótica de
Angola”.
A
Procuradoria-Geral da República garante que continua a investigar a morte de
“Ganga”. Talvez um dia destes descubram uma zungueira para culpar. Aliás, para
o regime o importante é matar os opositores. O resto é tudo uma questão de
formalidades. Se for preciso arranjar bodes expiatórios, eles serão fabricados
e punidos. E é por isso que o jornalista Ricardo de Melo foi morto, tal como
Nfulumpinga Landu Victor, líder do PDP-ANA.
A
guarda do Presidente é que matou, obviamente são os guardas do Presidente da
República que podem matar. Mas é o Presidente que dá ordens. Ou não?
Na
altura, segundo o porta-voz do Comando Geral da Polícia Nacional do MPLA (que
alguns de nós teimam, ingenuamente, em dizer que é de Angola), Aristófanes dos
Santos, o grupo, do qual “Ganga” fazia parte “foi detido quando procedia à
afixação indevida de cartazes de propaganda subversiva de carácter ofensivo e
injurioso ao Estado e aos seus dirigentes, tendo os mesmos sido prontamente
neutralizados por uma patrulha da Guarnição do Palácio Presidencial, resultando
na sua detenção”.
Simples.
Se alguém, que não seja do regime, foge é porque está comprometido com um
golpe de Estado e, por isso, é abatido. Se não foge, é preso, torturado e
encaminhado para a cadeia de segurança mais do que máxima, ou seja para a
cadeia alimentar dos jacarés.
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