Que
países podem promover maiores avanços na proteção do clima, quais poderão
tentar frear as iniciativas, e por quê? Um perfil dos protagonistas da
Conferência sobre Mudanças Climáticas da ONU, em Lima.
As
últimas conferências do clima promovidas pelas Nações Unidas terminaram em
frustração, sem que fossem atingidos acordos visando a redução das mudanças
climáticas globais. Assim, é estranhamente positivo o ambiente na 20ª
Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 20), que se
realiza de 1º a 12 de dezembro na capital peruana, Lima.
O
motivo por que até mesmo especialistas veteranos estão cautelosamente
otimistas, são os ambiciosos planos para redução de emissões de dióxido de
carbono, anunciados em novembro pela China e os Estados Unidos. Os analistas
consideram esse passo importante: apesar de, juntas, as duas potências
econômicas produzirem a mesma quantidade de CO2 que o resto do mundo, elas têm
se especializado em frear as iniciativas globais de proteção ao clima.
Programa
"colossal"
Reimund
Schwarze, especialista em política climática internacional do Centro Helmholtz
de Pesquisa Ambiental (UFZ), chama a atenção para a relevância de a China ter
assumido sua responsabilidade política. Até então, o país se considerava
"em desenvolvimento", usando isso como argumento para defender suas
emissões.
"Agora
os chineses dizem: 'Bem, como maiores emissores de CO2 do mundo, temos uma
responsabilidade própria, e nisso estamos sozinhos'", observa o
economista. Concretamente, isso significa que, pela primeira vez, Pequim
anunciou uma data para a redução de seus gases-estufa: 2030.
No
entanto, permanece totalmente indefinido o que acontecerá até essa data, pois o
presidente chinês e secretário-geral do Partido Comunista, Xi Jinping, ainda
não divulgou quaisquer dados concretos. Nesse aspecto, o chefe de Estado dos
EUA, Barack Obama, já foi mais longe. Ele promete que até 2025 seu país
restringirá o CO2 emitido entre 26% e 28%, em relação aos níveis de 2005.
Washington
e Pequim também planejam cooperar para expandir as energias renováveis. A China
anunciou o aumento em 20% da utilização de energias verdes, nos próximos 16
anos.
"É
realmente um programa colossal", saúda Schwarze. "No entanto, ao se
suprimir a utilização do carvão mineral, não ficou claro quais tecnologias
estão por trás das alternativas. Possivelmente trata-se de grandes usinas
hidrelétricas, que também não deixam de ser problemáticas."
UE
como região-modelo
A
mudança da postura sino-americana poderá significar para a União Europeia, que
costuma pressionar por alvos mais ambiciosos nos cortes das emissões de CO2, a
perda seu papel de liderança na proteção do clima.
Ainda
assim, em outubro de 2014 a
UE se tornou a primeira região global a anunciar metas
climáticas concretas, em antecipação à conferência de Lima. Após intensas
discussões, os Estados do bloco concordaram em reduzir a emissão de gases do
efeito estufa em 40% até 2030, em comparação aos níveis de 1990.
"Essas
metas ainda são, certamente, ambiciosas, e a UE continua sendo vista como
líder", comenta Schwarze. Sönke Kreft, líder da equipe de políticas
climáticas internacionais da ONG alemã Germanwatch, é, por sua vez, mais
crítico. Pois quem pretenda ter liderança global em Lima e convencer as outras
nações, também precisa de grande credibilidade em sua própria política
climática.
"A
redução de 40% simplesmente não basta. Na verdade, precisaríamos de 55% para
atingir as nossas metas", afirma Kreft, referindo-se ao limite,
estabelecido pela comunidade internacional, de 2ºC de aquecimento global até
2050, em relação ao início da industrialização.
Índia,
a grande incógnita
Schwarze
ressalva que a Índia é "a grande incógnita", no quarteto completado
pela UA, China e EUA. E sem ela, "nenhum acordo sobre as mudanças
climáticas terá êxito". De fato, nos últimos meses o país de 1,3 bilhão de
habitantes e terceiro maior emissor de gases-estufa tem se mostrado
extremamente reservado em questões climáticas.
O
presidente indiano, Pranab Mukherjee, não compareceu à cúpula do clima em Nova York , em setembro,
enviando em seu lugar o ministro do Meio Ambiente Prakah Javadekari. A
Alemanha, aliás, agiu da mesma forma.
Nova
Déli igualmente se absteve da recente conferência de doadores para o Fundo
Verde do Clima, realizada em Berlim. Assim como a China, o país não enviou
representantes, esquivando -se, assim, do financiamento de medidas de proteção
do clima. Aparentemente, o primeiro-ministro Narendra Modi deu maior
importância à COP 20 em Lima, onde se encontra uma delegação de alto escalão do
governo indiano.
Pontos
de atrito e chances
Espera-se
lançar em Lima as bases para um novo acordo, contendo um cronograma para a
diminuição das emissões de CO2 em mais de 190 países. Os Estados exportadores
de petróleo, em especial, adotam uma postura refratária a metas climáticas mais
abrangentes. Porém mesmo entre as nações favoráveis a um acordo vinculativo,
são numerosos os pontos de conflito.
Sönke
Kreft acredita que os diferentes graus de contribuição – "quem faz o
quê" – serão alvo de debates acalorados. E Reimund Schwarze antecipa
atritos, contrapondo os EUA e a UE, de um lado, à China, do outro.
Quanto
à Índia, ele acredita que o modo mais fácil de convencê-la será apoiar seu
setor de energia com tecnologia e expertise. E para a Alemanha essa seria uma
ocasião de se engajar nessa área específica do auxílio ao desenvolvimento,
complementa o economista do Centro Helmholtz.
Clara
Walther (rc) – Deutsche Welle
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