terça-feira, 2 de dezembro de 2014

CONFERÊNCIA SOBRE MUDANÇAS CLIMÁTICAS DE LIMA E SEUS PROTAGONISTAS




Que países podem promover maiores avanços na proteção do clima, quais poderão tentar frear as iniciativas, e por quê? Um perfil dos protagonistas da Conferência sobre Mudanças Climáticas da ONU, em Lima.

As últimas conferências do clima promovidas pelas Nações Unidas terminaram em frustração, sem que fossem atingidos acordos visando a redução das mudanças climáticas globais. Assim, é estranhamente positivo o ambiente na 20ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 20), que se realiza de 1º a 12 de dezembro na capital peruana, Lima.

O motivo por que até mesmo especialistas veteranos estão cautelosamente otimistas, são os ambiciosos planos para redução de emissões de dióxido de carbono, anunciados em novembro pela China e os Estados Unidos. Os analistas consideram esse passo importante: apesar de, juntas, as duas potências econômicas produzirem a mesma quantidade de CO2 que o resto do mundo, elas têm se especializado em frear as iniciativas globais de proteção ao clima.

Programa "colossal"

Reimund Schwarze, especialista em política climática internacional do Centro Helmholtz de Pesquisa Ambiental (UFZ), chama a atenção para a relevância de a China ter assumido sua responsabilidade política. Até então, o país se considerava "em desenvolvimento", usando isso como argumento para defender suas emissões.

"Agora os chineses dizem: 'Bem, como maiores emissores de CO2 do mundo, temos uma responsabilidade própria, e nisso estamos sozinhos'", observa o economista. Concretamente, isso significa que, pela primeira vez, Pequim anunciou uma data para a redução de seus gases-estufa: 2030.

No entanto, permanece totalmente indefinido o que acontecerá até essa data, pois o presidente chinês e secretário-geral do Partido Comunista, Xi Jinping, ainda não divulgou quaisquer dados concretos. Nesse aspecto, o chefe de Estado dos EUA, Barack Obama, já foi mais longe. Ele promete que até 2025 seu país restringirá o CO2 emitido entre 26% e 28%, em relação aos níveis de 2005.

Washington e Pequim também planejam cooperar para expandir as energias renováveis. A China anunciou o aumento em 20% da utilização de energias verdes, nos próximos 16 anos.
"É realmente um programa colossal", saúda Schwarze. "No entanto, ao se suprimir a utilização do carvão mineral, não ficou claro quais tecnologias estão por trás das alternativas. Possivelmente trata-se de grandes usinas hidrelétricas, que também não deixam de ser problemáticas."

UE como região-modelo

A mudança da postura sino-americana poderá significar para a União Europeia, que costuma pressionar por alvos mais ambiciosos nos cortes das emissões de CO2, a perda seu papel de liderança na proteção do clima.

Ainda assim, em outubro de 2014 a UE se tornou a primeira região global a anunciar metas climáticas concretas, em antecipação à conferência de Lima. Após intensas discussões, os Estados do bloco concordaram em reduzir a emissão de gases do efeito estufa em 40% até 2030, em comparação aos níveis de 1990.

"Essas metas ainda são, certamente, ambiciosas, e a UE continua sendo vista como líder", comenta Schwarze. Sönke Kreft, líder da equipe de políticas climáticas internacionais da ONG alemã Germanwatch, é, por sua vez, mais crítico. Pois quem pretenda ter liderança global em Lima e convencer as outras nações, também precisa de grande credibilidade em sua própria política climática.

"A redução de 40% simplesmente não basta. Na verdade, precisaríamos de 55% para atingir as nossas metas", afirma Kreft, referindo-se ao limite, estabelecido pela comunidade internacional, de 2ºC de aquecimento global até 2050, em relação ao início da industrialização.

Índia, a grande incógnita

Schwarze ressalva que a Índia é "a grande incógnita", no quarteto completado pela UA, China e EUA. E sem ela, "nenhum acordo sobre as mudanças climáticas terá êxito". De fato, nos últimos meses o país de 1,3 bilhão de habitantes e terceiro maior emissor de gases-estufa tem se mostrado extremamente reservado em questões climáticas.

O presidente indiano, Pranab Mukherjee, não compareceu à cúpula do clima em Nova York, em setembro, enviando em seu lugar o ministro do Meio Ambiente Prakah Javadekari. A Alemanha, aliás, agiu da mesma forma.

Nova Déli igualmente se absteve da recente conferência de doadores para o Fundo Verde do Clima, realizada em Berlim. Assim como a China, o país não enviou representantes, esquivando -se, assim, do financiamento de medidas de proteção do clima. Aparentemente, o primeiro-ministro Narendra Modi deu maior importância à COP 20 em Lima, onde se encontra uma delegação de alto escalão do governo indiano.

Pontos de atrito e chances

Espera-se lançar em Lima as bases para um novo acordo, contendo um cronograma para a diminuição das emissões de CO2 em mais de 190 países. Os Estados exportadores de petróleo, em especial, adotam uma postura refratária a metas climáticas mais abrangentes. Porém mesmo entre as nações favoráveis a um acordo vinculativo, são numerosos os pontos de conflito.

Sönke Kreft acredita que os diferentes graus de contribuição – "quem faz o quê" – serão alvo de debates acalorados. E Reimund Schwarze antecipa atritos, contrapondo os EUA e a UE, de um lado, à China, do outro.

Quanto à Índia, ele acredita que o modo mais fácil de convencê-la será apoiar seu setor de energia com tecnologia e expertise. E para a Alemanha essa seria uma ocasião de se engajar nessa área específica do auxílio ao desenvolvimento, complementa o economista do Centro Helmholtz.

Clara Walther (rc) – Deutsche Welle

Sem comentários:

Mais lidas da semana