Hong
Kong, China, 26 jan (Lusa) - A União Islâmica de Hong Kong considera que o
ataque ao jornal satírico Charlie Hebdo e o clima de tensão que se sente na
Europa em torno das comunidades muçulmanas são fruto de um conhecimento
deficitário sobre a religião.
"A
diferença entre Paris e Hong Kong é a educação. Depende de quem ensinar sobre o
Islão. Aqui, os nossos imãs falam de moderação", afirma Rahmatullah
Mohamed Omar, secretário-geral da União Islâmica de Hong Kong, em declarações à
agência Lusa.
Com
uma comunidade de cerca de 300.000 muçulmanos, vindos de países tão distintos
como Paquistão, Índia, China, Indonésia ou Malásia, Hong Kong é uma cidade
"tolerante", onde há "harmonia religiosa", considera Omar.
"Há
muito diálogo inter-fé, não há problemas. Mas temos de ensinar os mais novos.
Perceber a religião dos outros é muito importante. Eu fui educado num colégio
católico e percebo bem isso", diz o responsável.
A
União Islâmica de Hong Kong, localizada em Wanchai, é uma organização
polivalente, oferecendo vários serviços à comunidade. Além de um
jardim-de-infância, acolhe o único restaurante de ?dim sum' com carne ?halal',
tem uma biblioteca e espaços de oração. Juntamente com outras organizações,
gere quatro das seis mesquitas da cidade, que conta também com 15 madrassas,
onde o Corão é ensinado a crianças após o horário escolar.
A
união dedica-se ainda a várias causas solidárias, enviando dinheiro para a
manutenção da mesquita de Macau, fornecendo apoio financeiro a requerentes de
asilo em Hong Kong ,
doando fundos a zonas afetadas por desastres naturais e gerindo um abrigo para
empregadas domésticas na cidade, entre outras.
Para
o bem-estar da comunidade, salientam a boa relação com o Governo de Hong Kong,
que tem vindo a ceder terrenos para as mesquitas.
"O
Governo sabe que não somos extremistas e que estamos a promover o Islão como
algo pacífico e tolerante", garante o responsável.
A
união tem vindo a desenvolver várias atividades para a promoção do diálogo,
incluindo seminários com académicos chineses. O centro é também visitado
frequentemente por escolas, onde os rituais islâmicos são explicados às
crianças, e durante a época do Ramadão os habitantes da cidade são incentivados
a assistir à quebra do jejum e colocar as suas questões.
Apesar
da pujança da comunidade e da ausência aparente de conflitos, o ataque ao
Charlie Hebdo não passou despercebido e após a publicação do último cartoon, no
dia 14, houve mesmo membros das organizações muçulmanas que quiseram organizar
um protesto, mas o imã Uthman Yang afastou a ideia.
"Disse-lhes
que talvez possamos escrever artigos a explicar a vida do profeta, o importante
é comunicar mais. Aqui queremos passar uma imagem clara. O Estado Islâmico, por
exemplo, é contra os ensinamentos do Islão", sublinha o imã.
A
equipa não esconde o seu desconforto com os cartoons franceses, mas garante que
nada justifica o ataque. "Na religião não se pode desenhar nenhum profeta.
Deviam respeitar a nossa fé, mas o Corão ensina-nos a ser pacientes e
tolerantes. A violência não é correta, mas é verdade que alguns muçulmanos são
muito agressivos", conclui Yang.
ISG//
PJA
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