segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

"Educação" e "moderação" são o que distingue Hong Kong de Paris -- União Islâmica




Hong Kong, China, 26 jan (Lusa) - A União Islâmica de Hong Kong considera que o ataque ao jornal satírico Charlie Hebdo e o clima de tensão que se sente na Europa em torno das comunidades muçulmanas são fruto de um conhecimento deficitário sobre a religião.

"A diferença entre Paris e Hong Kong é a educação. Depende de quem ensinar sobre o Islão. Aqui, os nossos imãs falam de moderação", afirma Rahmatullah Mohamed Omar, secretário-geral da União Islâmica de Hong Kong, em declarações à agência Lusa.

Com uma comunidade de cerca de 300.000 muçulmanos, vindos de países tão distintos como Paquistão, Índia, China, Indonésia ou Malásia, Hong Kong é uma cidade "tolerante", onde há "harmonia religiosa", considera Omar.

"Há muito diálogo inter-fé, não há problemas. Mas temos de ensinar os mais novos. Perceber a religião dos outros é muito importante. Eu fui educado num colégio católico e percebo bem isso", diz o responsável.

A União Islâmica de Hong Kong, localizada em Wanchai, é uma organização polivalente, oferecendo vários serviços à comunidade. Além de um jardim-de-infância, acolhe o único restaurante de ?dim sum' com carne ?halal', tem uma biblioteca e espaços de oração. Juntamente com outras organizações, gere quatro das seis mesquitas da cidade, que conta também com 15 madrassas, onde o Corão é ensinado a crianças após o horário escolar.

A união dedica-se ainda a várias causas solidárias, enviando dinheiro para a manutenção da mesquita de Macau, fornecendo apoio financeiro a requerentes de asilo em Hong Kong, doando fundos a zonas afetadas por desastres naturais e gerindo um abrigo para empregadas domésticas na cidade, entre outras.

Para o bem-estar da comunidade, salientam a boa relação com o Governo de Hong Kong, que tem vindo a ceder terrenos para as mesquitas.

"O Governo sabe que não somos extremistas e que estamos a promover o Islão como algo pacífico e tolerante", garante o responsável.

A união tem vindo a desenvolver várias atividades para a promoção do diálogo, incluindo seminários com académicos chineses. O centro é também visitado frequentemente por escolas, onde os rituais islâmicos são explicados às crianças, e durante a época do Ramadão os habitantes da cidade são incentivados a assistir à quebra do jejum e colocar as suas questões.

Apesar da pujança da comunidade e da ausência aparente de conflitos, o ataque ao Charlie Hebdo não passou despercebido e após a publicação do último cartoon, no dia 14, houve mesmo membros das organizações muçulmanas que quiseram organizar um protesto, mas o imã Uthman Yang afastou a ideia.

"Disse-lhes que talvez possamos escrever artigos a explicar a vida do profeta, o importante é comunicar mais. Aqui queremos passar uma imagem clara. O Estado Islâmico, por exemplo, é contra os ensinamentos do Islão", sublinha o imã.

A equipa não esconde o seu desconforto com os cartoons franceses, mas garante que nada justifica o ataque. "Na religião não se pode desenhar nenhum profeta. Deviam respeitar a nossa fé, mas o Corão ensina-nos a ser pacientes e tolerantes. A violência não é correta, mas é verdade que alguns muçulmanos são muito agressivos", conclui Yang.

ISG// PJA

Sem comentários:

Mais lidas da semana