sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Moçambique: Esperança que não haja mais guerra. Basta as vítimas da fúria das intempéries



Jornal de Notícias, editorial

Já estamos em 2015! O ano novo que ontem iniciou abre um ciclo de 365 dias de novas oportunidades que os moçambicanos terão para enfrentar desafios e realizar sonhos de desenvolvimento individual e colectivo.

Por tradição, quando um ano chega ao fim e um novo começa não resistimos à tentação de fazer uma retrospectiva do que conseguimos realizar ao longo dos doze meses passados, ao mesmo tempo que avançamos com o desenho de novos objectivos com o esboço daquilo que pretendemos que seja o ano seguinte.

Como cidadãos, olhamos para trás e orgulhamo-nos dos nossos feitos no plano social, os sucessos que logramos para nós e para as nossas famílias. Mas como nação também reflectimos sobre os passos que demos rumo à meta colectiva. Neste exercício muitas vezes nos vangloriamos pela qualidade de soluções que fomos encontrando para os problemas.

Fazendo este exercício temos a oportunidade de identificar, reconhecer e corrigir as falhas que cometemos e que condicionaram, em grande ou pequena medida, a nossa caminhada individual e colectiva.

Na verdade, só identificando e reconhecendo os nossos pontos fracos poderemos consolidar os pontos fortes. E precisamos disso para estabelecer melhores objectivos e metas para o futuro e definir estratégias adequadas e exequíveis para o seu alcance.

2014 foi, no nosso entender, um ano de muito trabalho para os moçambicanos. Um ano que exigiu muito esforço e sacrifício, individual e colectivo. Chegado ao fim, todos testemunhamos um nível de realizações que nos orgulham como nação.

Foi um ano difícil, que ficou profundamente marcado pelas hostilidades com que a natureza desafiou os moçambicanos logo no início do ano, cheias e inundações que geraram prejuízos profundos na economia e na sociedade, alguns dos quais vão levar anos a ser suplantados.

Ainda hoje há zonas do país que estão a ser fustigadas pelas chuvas, em mais uma das suas incursões que começou na região sul na semana passada.

No entanto, para um ano que corria com manchas devido ao conflito armado, foi refrescante testemunhar, uma vez mais, a maturidade com que os moçambicanos souberam encontrar uma solução à sua dimensão, tal que rapidamente devolveu a esperança de se continuar a trilhar os caminhos do desenvolvimento, dentro de um quadro de normalidade constitucional.

Mais, 2014 ficará marcado na história de Moçambique como o ano das quintas eleições gerais e multipartidárias. O nosso entendimento é que o coro de contestações geradas à volta do processo é algo normal em processos do género, sobretudo quando eles se desenvolvem em democracias ainda jovens, que precisam de vários ensaios para atingir o ponto óptimo.

Ficaram mais lições que certamente serão tidas em conta na organização de futuros processos, porque acreditamos que o desejo de todos moçambicanos é que os processos eleitorais que organizam sejam tão exemplares como têm sido os passos dados na construção de uma democracia moderna.

E acreditamos que todos nós continuaremos a dar e a receber lições ao longo do tempo que nos conduzirão à melhoria permanente dos processos, a uma maior clareza na definição dos objectivos e metas de desenvolvimento, e à escolha de estratégias acertadas para avançar.

Na verdade, nada melhor para os moçambicanos que terminar o ano com clareza sobre os resultados eleitorais, fechar o ano com uma nova aposta na condução dos destinos do país. A validação, na última terça-feira, dos resultados eleitorais pelo Conselho Constitucional, não é senão uma clara demonstração da vontade que os moçambicanos têm de continuar a trilhar os caminhos do desenvolvimento por via de processos democráticos ajustados à Constituição.

Não temos dúvidas que os últimos pronunciamentos do líder da Renamo, Afonso Dhlakama, não só desafinam o ritmo de reconciliação com que os moçambicanos vêm caminhando nos últimos anos como também ameaçam a harmonia social e desafiam o desiderato colectivo de viver em paz para melhor trabalhar pelo desenvolvimento do país.

Acreditamos que a razão acabará vencendo e Afonso Dhlakama vai perceber que não é da guerra e desordem que nós precisamos, neste momento. Na verdade, o que almejamos é a construção de uma sociedade de paz e justiça social, de igualdade de direitos, de respeito pelas diferenças e, sobretudo, pela Constituição e pelas demais leis que regem sociedades civilizadas como a nossa.

*Título PG

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