Machado
Marques – Téla Nón, opinião
Será
legítimo o Estado impor a todos os cidadãos as suas decisões, inclusive aos
cidadãos que delas discordam?
O
Estado, através das suas estruturas, tem o poder de aprovar as leis e de as
fazer aplicar. Pode proibir atos, alguns considerados do domínio da vida
privada; Pode aplicar sanções às pessoas que não cumprem as leis, mesmo que
delas discordem ou então por uma questão de natureza moral. Pode instituir um
regime de descriminação racial.
A
literatura, ao longo do tempo, tem demonstrado diferentes estados que excederam
o exercício desta autoridade.
A
autoridade pode ser ilegítima ou legítima, sendo legítima quando está associada
aos direitos humanos.
Locke
e Rousseau defendem que o Estado tem legitimidade para intervir na sociedade
quando não coloca em jogo os direitos humanos, os direitos naturais do homem.
Esta ideia está presente na Declaração de Independência dos Estados Unidos da
América, que incluiu o direito à vida, à liberdade e à felicidade.
Os
poderes legítimos do Estado são-lhe atribuídos voluntariamente pelos cidadãos,
em que o Estado não pode ir além do poder que recebeu pelos cidadãos, e como os
cidadãos não podem legitimamente violar os direitos dos outros, não podem
transferir esse poder para o Estado. Logo, o Estado não pode desrespeitar o
direito de todos, apesar de deter o monopólio de aplicação de justiça.
O
Estado pode exercer poder com o consentimento dos que lhe são sujeitos.
Contudo,
a eleição democrática e livre é feita através do voto e nem todos votam ou se
votam, votam contra. No entanto, o Estado exerce autoridade sobre todos os
cidadãos e não apenas sobre alguns, o que põe em causa a legitimidade do Estado
quando este afirma respeitar o direito à vida, à liberdade, e à felicidade de
todos os cidadãos.
Os
sinais de desagregação da autoridade do Estado são bem visíveis e mais
frequentes do que imaginamos. Quando um aluno bate num professor, quando uma
força de segurança impede o cumprimento de uma ordem emanado pelo tribunal,
quando um dirigente e/ou político é indiciado pela prática de certos crimes e
não se apresenta ao diante das autoridades para prestar declarações/depoimento
(…) um Estado que cinicamente não aceita as críticas, os profundos sentimentos
do povo, também não tem autoridade de exercer a sua autoridade (…) o que temos
é a completa inversão da pirâmide de valores, é o fracasso das estruturas em
que assenta o Estado de Direito.
Impressiona-
me a condescendência de uma cultura que assiste passivamente a tudo isto. Sendo
o homem lobo do homem, como disse Hobbes, se a autoridade do Estado não for
exercida com responsabilidade e sem transigir na defesa da liberdade e da
segurança, acabamos por morrer às mãos uns dos outros, tornando este pelo
arquipélago um estado selvático.
Todavia
como disse Locke, “o uso da força sem autoridade põe sempre aquele que a
emprega em estado de guerra, como agressor, e sujeita-se a ser tratado nos
mesmos termos.
Por
que razão todo este blá, blá, blá em torno da autoridade do Estado?
No
meu ver, a autoridade do Estado é um palavrão, indispensável para que o Estado
possa desempenhar a sua função.
Analisando
o papel do Estado São-tomense, no que concerne ao capítulo “A Autoridade do
Estado”, este deixou muito a desejar; após a independência tivemos um estado
repressivo, onde a autoridade de um estado repressivo, apenas servia para
amedrontar o “Zé Povinho” enquanto na cúpula do famoso Comité Central, fazia-se
olhos grossos às arbitrariedades dos seus membros, apenas via ao público
retalhos dos fatos distorcidos para se justificar escorraçamento deste membro.
Após
as primeiras eleições livres verificaram algumas alterações, como é óbvio,
apenas para fazer o inglês ver, o “modus operandus”, alterou… O Estado passou a
fazer o ouvido do mercador face aos lamentos do povo…face aos desmandos de
alguns cidadãos…face ao saque dos dirigentes aos cofres do Estado …
É
hora do ESTADO, dizer chega!
Esta
autoridade deve se fazer sentir sobretudo na Escola, na Administração Pública,
nos Tribunais, na Segurança Pública.
Não
há dúvidas que um dos maiores males da nossa sociedade é a falta de Autoridade
do Estado Democrático.
Todos
devem ter consciência da lei!
Machado
Marques é advogado
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