Tiago
Mota Saraiva – jornal i, opinião
No
mesmo dia do ataque ao "Charlie Hebdo" também foram assassinadas
trinta pessoas no Iémen pela explosão de um carro bomba. Mas os dois miseráveis
atentados tiveram uma repercussão desproporcionada nas nossas emoções.
Ao
acompanhar os acontecimentos em França todos sentimos que podia ser cá, na rua
de cada um. Que podia estar alguém que conhecêssemos naquele supermercado ou
gráfica. As imagens de terror atemorizam-nos em função da capacidade de nos
imaginarmos dentro da cena. Nesse sentido, as genuínas reacções de
solidariedade para com as horas de terror vividas em França são humanas e devem
ser valorizadas.
Ao
invés, o trabalhar desta comoção colectiva demonstra uma frieza impiedosa. A
manifestação convocada por Hollande - que a 29.08.2013 o "Charlie Hebdo"
acusava de gastar os impostos a financiar a matança do povo sírio - é de um
aproveitamento abjecto. Cria-se um acontecimento maior para encerrar a verdade
oficial e manter o clima de medo. A receita é conhecida e de má memória.
Sobre
o atentado fica muito por explicar mas corre-se o risco de não sabermos muito
mais. Desde questões essenciais sobre a célula que fez a operação - as suas
ligações, fontes de financiamento e armamento, beneficiários ou mandantes - a
detalhes estranhos - como se justifica que comandos treinados percam a sua
identificação no automóvel ou deixem que um civil, dentro da gráfica, dê o
sinal para o início da operação policial, ou o que levou um agente que
participava nas investigações a suicidar-se durante a primeira noite.
Ainda
que não avente qualquer explicações, no clima mediático criado, levantar
dúvidas sobre a verdade oficial tenderá a aprisionar-me no campo das teorias da
conspiração. Porque no controlado regime em que vivemos eles não são Charlie,
nem querem que sejamos.
Escreve
à segunda-feira
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