segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

“TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO”



Tiago Mota Saraiva – jornal i, opinião

No mesmo dia do ataque ao "Charlie Hebdo" também foram assassinadas trinta pessoas no Iémen pela explosão de um carro bomba. Mas os dois miseráveis atentados tiveram uma repercussão desproporcionada nas nossas emoções.

Ao acompanhar os acontecimentos em França todos sentimos que podia ser cá, na rua de cada um. Que podia estar alguém que conhecêssemos naquele supermercado ou gráfica. As imagens de terror atemorizam-nos em função da capacidade de nos imaginarmos dentro da cena. Nesse sentido, as genuínas reacções de solidariedade para com as horas de terror vividas em França são humanas e devem ser valorizadas.

Ao invés, o trabalhar desta comoção colectiva demonstra uma frieza impiedosa. A manifestação convocada por Hollande - que a 29.08.2013 o "Charlie Hebdo" acusava de gastar os impostos a financiar a matança do povo sírio - é de um aproveitamento abjecto. Cria-se um acontecimento maior para encerrar a verdade oficial e manter o clima de medo. A receita é conhecida e de má memória.

Sobre o atentado fica muito por explicar mas corre-se o risco de não sabermos muito mais. Desde questões essenciais sobre a célula que fez a operação - as suas ligações, fontes de financiamento e armamento, beneficiários ou mandantes - a detalhes estranhos - como se justifica que comandos treinados percam a sua identificação no automóvel ou deixem que um civil, dentro da gráfica, dê o sinal para o início da operação policial, ou o que levou um agente que participava nas investigações a suicidar-se durante a primeira noite.

Ainda que não avente qualquer explicações, no clima mediático criado, levantar dúvidas sobre a verdade oficial tenderá a aprisionar-me no campo das teorias da conspiração. Porque no controlado regime em que vivemos eles não são Charlie, nem querem que sejamos.

Escreve à segunda-feira

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