O
economista britânico Stuart Holland disse hoje em Lisboa que a Europa está
"na iminência de um IV Reich", referindo-se à situação na Grécia e à
"hegemonia de Berlim" na União Europeia.
"Temos
uma hegemonia alemã que (os antigos chanceleres) Willy Brandt e Helmut Kohl não
queriam. Eles não queriam uma Europa alemã, mas Angela Merkel que não tem as
referências da Europa Ocidental não aceita conceitos como a
solidariedade", disse à Lusa o economista britânico, à margem da
conferência "Grécia e Agora?", que decorre na Faculdade de Direito da
Universidade de Lisboa.
Stuart
Holland disse que a hegemonia de Berlim face aos restantes países da Europa
pode levar a um "IV Reich" - numa referência à terminologia
nacional-socialista (nazi), que chamava 'III Reich' ao regime de Hitler -, para
criticar diretamente a chanceler alemã.
Questionado
sobre as críticas do governo português, às posições do governo grego, liderado
pelo partido da esquerda radical Syriza, o economista britânico ironizou,
afirmando que o chefe do governo português está a "fazer o jogo de
Berlim".
"Eu
creio que é admirável. Ele (Pedro Passos Coelho) vai para eleições com cartazes
que mostram a bênção de Angela Merkel. Deus o ajude. Deus ajude Portugal",
afirmou.
Para
Holland, critico das medidas de austeridade impostas ao Estado grego desde
2012, existe presentemente na Europa uma situação política que desvirtua os
tratados europeus e, sobretudo, o Tratado de Roma que, afirmou, estabelecia
compromissos sobre "padrões de vida, coesão económica e social e
solidariedade".
"Já
não temos isso. Nem sequer intenções e procedimentos comunitários. Por parte da
Alemanha, por exemplo, no quadro do Eurogrupo não existe e isto é uma
tragédia", lamentou o economista.
Mesmo
assim, o antigo conselheiro do Partido Trabalhista britânico disse que há
processos institucionais como a "cooperação reforçada" que pode ser
usada "contra" Berlim.
Stuart
Holland explicou que a Alemanha pensa erradamente que tem poder de veto sobre a
'cooperação reforçada' tendo utilizado o processo para "flanquear" o
Reino Unido.
"A
Alemanha usou isto na proposta das taxas sobre as transações financeiras para
ultrapassar David Cameron. O resto da Europa, especialmente os grandes países:
França, Itália, Polónia, Reino Unido devem fazer o mesmo para flanquear a
Alemanha e negar assim o 'IV Reich'", afirmou.
Stuart
Holland, 75 anos, antigo conselheiro do primeiro-ministro trabalhista Harold
Wilson e autor do livro "Europe in Question: And what to do about
it", entre outros, é declaradamente defensor das propostas
anti-austeridade do ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis, de quem
é amigo.
A
conferência "Grécia e Agora?", organizada pelo Instituto de Direito
Económico, Financeiro e Fiscal e pelo Instituto Europeu, conta com as
presenças, entre outros, do académico grego Elias Souziakis, do economista e
antigo líder do Bloco de Esquerda Francisco Louçã, da deputada do PSD Mónica
Ferro, de Rui Tavares, do Partido Livre e do antigo presidente da Assembleia da
República, Mota Amaral.
Lusa,
em Notícias ao Minuto
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