Imprensa
desta manhã dá destaque à forma como o primeiro-ministro, na terceira vez que
tentou explicar a polémica das contribuições em falta à Segurança Social, optou
por lançar um contra-ataque e lembrar... o caso Sócrates.
Martim
Silva - Expresso
O
caso das contribuições (não) pagas por Passos Coelho à Segurança Social ganhou
fortes contornos políticos nas últimas horas, sobretudo graças à intervenção do
primeiro-ministro, esta terça-feira no Porto, no fecho das Jornadas
Parlamentares do PSD, em que numa fuga para a frente fez alusão à situação de
José Sócrates. Dizendo que ele, Passos, ao contrário de outros não usou a
política para enriquecer.
Isso
mesmo titula o "Diário de Notícias" desta quarta-feira: "Passos
Coelho chama Sócrates para o debate. Oposição aperta o certo". Da mesma
forma, o "Diário Económico" diz que o PM está a tentar tornar o caso
num caso político e afirma: "Passos antecipa-se e tenta esvaziar impacto
de mais polémicas fiscais" e "oposição exige mais explicações".
Além
disso, o "Diário Económico" lembra o percurso profissional de Passos
de 1991 até aos dias de hoje. Foi deputado entre 1991 e 1999 pelo PSD (e aqui,
no final deste período, entra o polémico caso da sua relação com uma ONG da
Tecnoforma). Entre a saída do Parlamento e a entrada na Fomentinvest de Ângelo
Correia (2004) foi consultor da Tecnoforma. No grupo Fomentinvest esteve Passos
até assumir a candidatura ao PSD e, posteriormente, a primeiro-ministro.
No
jornal "i", dá-se destaque ao caso na primeira página: "Presidente
do PS ataca discurso de Passos". Isto porque, afirma Carlos César,
"de nada vale criticar um ex-primeiro-ministro que está detido ou
ministros do PSD que estão ou já estiveram detidos. Esses não estão em funções
nem são candidatos". A resposta mostra a forma como os socialistas tentam
resolver a quadratura do círculo neste caso (como atacar um PM por falhas
quando um ex-PM socialista está detido por alegadas falhas graves), depois das
referências e comparações com o caso Sócrates.
Finalmente,
no "Público", que tem dado grande destaque ao caso, volta a fazer-se
manchete hoje com o título "Passos Coelho admite mas minimiza problemas no
seu cadastro fiscal". O jornal explica a estratégia do chefe do Governo,
na terceira vez em três dias que falou (diretamente ou pelo gabinete) do caso.
"Dívidas à Segurança Social ficaram para trás no discurso. O
primeiro-ministro preferiu preparar o terreno para eventuais problemas futuros,
confirmando que a sua relação com o fisco nem sempre foi perfeita".
No
"Correio da Manhã", que é o jornal que esta manhã prefere centrar a
sua atenção no caso propriamente dito, desvalorizando o ângulo político,
afirma-se que "Segurança Social esconde dívida". Isto porque, segundo
o matutino, o Instituto da Segurança Social não revela o valor total da dívida
acumulada por Passos entre 1999, quando deixou de ser deputado, e 2004. O
instituto alega que se trata de informações pessoais para não esclarecer a
discrepância, detetada pelo "Público", entre o valor regularizado por
Passos e o total das dívidas à Segurança Social.
Críticas
a Passos
Em matéria de opinião, Passos é muito criticado pelo seu comportamento e pela resposta dada.
Começamos
pelo editorial do "Público", não assinado, que pergunta:
"Interessa a vida fiscal de Passos Coelho?". E dá a resposta:
"Não é para satisfazer a curiosidade dos jornalistas que os titulares de
cargos públicos e políticos são obrigados a declarar rendimentos no Tribunal
Constitucional. Passos deve aceitar o escrutínio aos seus rendimentos e, quando
confrontado com o que o próprio apelida de 'imperfeições', tem a obrigação de
as explicar de uma forma convincente e cabal".
No
editorial do "DN", Joana Petiz afirma que "a partir do momento
em que sequer ponderou candidatar-se a primeiro-ministro, deveria ter a certeza
de que não tinha telhados de vidro. Não é o risco de ser atacado pela oposição
que está em causa. É mesmo uma questão moral: um primeiro-ministro tem de estar
acima de suspeita".
Já
no "Jornal de Negócios", também em editorial, André Veríssimo titula
"Passos Coelho, cidadão imperfeito", lembrando o que o PM disse na
véspera sobre não ser perfeito. E o editorialista remata: "O
primeiro-ministro tem de ter consciência de que dele não se aceita que seja
menos do que perfeito".
E
no "i", Luís Rosa afirma que "Passos comete um erro ao utilizar
o caso Sócrates como arma de arremesso, tal como é asneira o PS cavalgar a onda
da falha do primeiro-ministro. Não é assim que se ganham eleições".
Além
do que se lê nas páginas dos jornais, destaque para Pedro Santana Lopes, que
ontem à noite, na SIC Notícias, defendeu que Passos Coelho peça desculpa aos
portugueses por se ter esquecido de pagar as suas contribuições à Segurança
Social. "Houve manifestamente uma falha que o primeiro-ministro deve
clarificar". António Vitorino, parceiro de comentário, concordou com a
necessidade do pedido de desculpas.
Em
sentido contrário, o número dois do PSD, e ministro no Governo de Passos,
Moreira da Silva defendeu o primeiro-ministro, em declarações à Rádio
Renascença, dizendo que foi transparente e célere nas explicações que deu.
Maria
do Rosário Gama, presidente da APRe!, a associação de reformados, vai mais
longe e reclama mesmo a demissão de Passos Coelho.
Para
terminar, destaque para a rádio TSF, que dá nota do caso de um cidadão que foi
penhorado por dívidas à Segurança Social. E que agora, perante o caso,
pergunta: "Vim agora a saber que ninguém pode ser executado sem receber
uma carta registada e agora gostaria de saber onde posso pedir o meu dinheiro
de volta". O cidadão em causa chama-se Manuel Pinto.
Na foto: Pela terceira vez em três dias, Passos Coelho voltou a falar, no fecho das Jornadas Parlamentares do PSD, sobre a polémicas das suas dívidas à Segurança Social / João Coelho/Lusa
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