segunda-feira, 27 de abril de 2015

Bombeiros de Bissau dispõem apenas de três carros para combater incêndios no país




O Diretor dos Serviços de Tática Operativa dos Bombeiros Humanitários de Bissau, Luis da Silva, revelou em declarações exclusivas ao semanário O Democrata que aquela corporação humanitária possui atualmente apenas três viaturas de combate ao fogo a nível de todo o território nacional. Informou ainda que devido à limitação de meios materiais e financeiros, os Bombeiros actuam na cidade de Bissau e nos bairros periféricos da capital.

Uma equipa de reportagem do jornal “O Democrata” deslocou-se aos serviços dos Bombeiros para inteirar das condições de trabalho naquela corporação. A nossa reportagem constatou “in loco” o posicionamento das viaturas no parque, sob o edifício principal, onde se nota que a maioria das viaturas de combate aos incêndios está inoperacional.

“O Democrata” apurou que a situação de falta de meios com que o serviço de bombeiros se depara pode no futuro minar a capacidade operacional desta corporação. Segundo informações, os bombeiros estão muito limitados neste momento devido à falta de meios que os permita combater incêndios sem pôr em risco as vidas dos seus operacionais.

O diretor de Serviço da Táctica Operativa de Serviço Nacional da Proteção Civil dos Bombeiros Humanitários de Bissau disse ainda ao nosso jornal que a capacidade operativa dos Bombeiros é limitada devido à falta de meios necessários e incapazes de combater incêndios que se registem em materiais diversos de forma combinada com radiações e libertação de gás tóxico.

Luís da Silva confessou que os serviços dos Bombeiros da Guiné-Bissau não têm capacidade de dar resposta para certos tipos de incêndio, porque não têm meios de proteção para os seus técnicos.

“O combate ao incêndio ocorrido na Central Elétrica foi duro para o corpo dos bombeiros, porque o fumo que o fogo libertava era pesado e tóxico. Para combater incêndios desta natureza é necessário ter meios de proteção como aparelhos isolantes, circuito aberto, proteção individual e máscaras antigás, mas não temos tudo isso”, realça.

Neste sentido, assegura Luís da Silva que para combater incêndios que envolvam diferentes tipos de produtos, desde os inflamáveis até aos papeis, os homens da sua corporação arriscam-se utilizando equipamento inapropriado como (roupa molhada) para se proteger e poder aproximar-se do fogo.

“Na Guiné-Bissau, é um risco lidar com incêndios desta dimensão. Aliás, a vida de bombeiro guineense por natureza é de risco, porque não temos meios que os bombeiros dos outros países têm. Fatos de aproximação de temperatura, aparelho isolante, circuito aberto, proteção individual e máscaras antigás. Todos esses materiais permitem que o bombeiro em combate ao incêndio penetre e respire facilmente através do aparelho isolante e do filtro de gás da máscara”, explica.

O responsável pelo serviço de táctica operativa de serviço nacional da proteção civil dos Bombeiros Humanitários de Bissau nega, no entanto, que a incapacidade operativa dos bombeiros esteja ligada à falta de recursos humanos ou a incapacidade técnica dos agentes dos bombeiros, que diz estarem cheios de energia e de conhecimentos para combater qualquer tipo de incêndio, desde que sejam disponibilizados os meios.

Afirmou neste particular que os bombeiros têm apenas três carros de combate ao incêndio para todo o território nacional; um primeiro chamado carro de reconhecimento com capacidade para mil e duzentos litros de água, um segundo de três mil litros de água e um terceiro carro de cinco mil litros de água. Às vezes não conseguem cobrir incêndios de grandes dimensões, sobretudo quando usam o “carrinho” de apenas mil e duzentos litros.

“Recorrentemente os bombeiros são criticados na sua atuação. Ora a população diz que os bombeiros deslocam-se para combate a incêndios sem água ou vendem água. Dizem assim, porque desconhecem por completo as capacidades dos carros. Em nenhuma parte do mundo um carro de bombeiros anda sem água”, nota.

Segundo Luís da Silva, cada uma das linhas de agulheta 50 utilizada para lançar água gasta três litros e meio de água por segundo o que significa que em um minuto terá de gastar duzentos e dez litros de água. E tendo quatro linhas disponíveis significa que em apenas um minuto e meio o carro fica sem água não por culpa ou incapacidade dos seus técnicos, mas pela capacidade do carro, que não consegue levar mais litros para além do seu limite.

Luís da Silva referiu igualmente que em certas ocasiões os chefes que comandam as operações são obrigados a fazer preliminarmente um trabalho de base para determinar a superfície do incêndio, avaliação da situação, tomada de decisões e cálculo das forças e meios disponíveis para saber se a capacidade da resposta corresponde ou não à superfície do incêndio e que tipo de ataque será necessário. Se intensivo (combater apenas o perímetro em chamas de dentro para fora) ou defensivo (proteger as partes sob ameaça, quando a capacidade de resposta é limitada).

De acordo com este responsável, neste momento quatro viaturas estão inoperacionais devido a problemas ligeiros (duas ambulâncias de combate a incêndios e duas ambulâncias de assistência).

“É URGENTE ABRIR SERVIÇOS DOS BOMBEIROS NAS REGIÕES E NOS SECTORES”

Um dos operadores de serviço da táctica operativa explicou à nossa reportagem que neste momento não estão em condições técnicas e materiais de combater grandes incêndios. Este homem, um dos que arrisca as suas próprias vidas para salvar outras, mostrou-se indignado com a situação de “abandono e desprezo” a que os sucessivos governantes deixaram os Bombeiros de Bissau. Na visão do nosso interlocutor, é urgente abrir serviços de bombeiros nas regiões do país, bem como nos sectores, acrescentando que é “é impensável achar que os Bombeiros de Bissau podem cobrir todo o território nacional”, por isso deve-se começar a pensar na possibilidade de abrir outros serviços nas regiões.

Sublinhou igualmente que é “irracional” pensar que equipar ou adoptar os bombeiros de meios e materiais de combate ao incêndio é gastar dinheiro. Rematou assinalado que os operacionais da corporação que combate o fogo não podem trabalhar sem meios e materiais que os proteja.

“Se houver um incêndio de grandes dimensões no país, a única coisa que poderemos fazer é tentar trabalhar para controla-lo, porque não temos materiais de trabalho que nos permitam combater o fogo, ou seja, para entrar e tentar apagar o fogo. Outra coisa é que as nossas viaturas não têm capacidade de levar grande quantidade de água. Portanto isso também é uma das desvantagens. As autoridades devem pensar seriamente sobre o que querem, ou melhor, que tipo de serviços querem que os bombeiros prestem ao país “, exortou o operacional da corporação humanitária de Bissau

O nosso interlucotor avançou ainda que é urgente mudar o rosto dos Serviços dos Bombeiros, tendo acrescentado que o executivo deve adotar aquela instituição de meios de trabalhos necessários.

“Deve-se arranjar novas viaturas que consigam levar grandes quantidades de água, bem como comprar equipamentos de combate aos incêndios. É preciso também formar e reciclar os homens dos bombeiros de acordo com a evolução do mundo. É urgente abrir serviços dos bombeiros nas regiões e nos sectores, porque é impensável achar que a corporação de Bissau pode cobrir todo o território nacional”, vincou o nosso interlucotor, que entretanto, exortou ainda as autoridades no sentido de priorizar os bombeiros para que não venham a arrepender-se mais tarde.

Filomeno Sambú – O Democrata (gb)

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