A
autonomia para a “província” de Cabinda é uma das teses que a UNITA defende.
Seria meio caminho andado… se os donos do poder da potência ocupante, Angola, a
isso estivessem receptivos. Mas não estão. O MPLA não vai nisso.
Orlando
Castro
AUNITA
elegeu a descentralização político-administrativa de Cabinda, por entender que
é a via para a resolução da “complexidade dos problemas históricos” do que
chama enclave.
A
UNITA refere que só essa “descentralização” permite “maior agilidade, participação
democrática e eficiência” na administração territorial e “consolidação da paz
política e social” em Cabinda.
E
eu penso, desde há muito tempo, que Cabinda não faz parte de Angola e que, por
isso, deve ser um país independente. Dir-me-ão alguns, sobretudo os que se
julgam donos de uma verdade adquirida nos areópagos da baixa política angolana
ou portuguesa, que isso é uma utopia.
Mais
coisa menos coisa, são os mesmos que há 41 anos diziam o mesmo a propósito da
independência de Angola, são os mesmos que há diziam algo semelhante a
propósito do Kosovo, são os mesmos que nesta altura dizem o mesmo quanto ao
País Basco.
Mas,
tal como se disse em relação a Angola e ao Kosovo, um dia destes estará por
aqui alguém a falar da efectiva independência de Cabinda.
Creio
que só por manifesta falta de seriedade intelectual, típica dos diferentes
órgãos de soberania portugueses (Presidência da República, Governo e
Parlamento), é que pode dizer-se que Cabinda é parte integrante de Angola.
Cabinda
só passou a ser supostamente parte de Angola quando, em 1975, os sipaios
portugueses ao serviço do comunismo e os três movimentos ditos de libertação
(MPLA, FNLA e UNITA) resolveram nos Acordos do Alvor integrar Cabinda em
Angola.
Cabinda,
com uma superfície de cerca de 10.000 quilómetros quadrados e uma população
estimada em 300.000 habitantes, é palco de uma luta armada independentista
liderada pela FLEC desde 1975, na exacta altura em que, sem ser ouvida ou
achada, foi comprada pelo MPLA nos saldos lançados pelos então donos do poder
em Portugal, de que são exemplos, entre outros, Melo Antunes, Rosa Coutinho,
Costa Gomes, Mário Soares, Almeida Santos.
Até
à vitória final, continuará a indiferença (comprada com o petróleo de Cabinda),
seja de Portugal, da Comunidade de Países de Língua Portuguesa ou até mesmo da
comunidade internacional.
E
é pena, sobretudo quanto a Portugal, que à luz do direito internacional ainda é
a potência administrante de Cabinda. Lisboa terá um dia de perceber que Cabinda
não é, nunca foi, nunca será uma província de Angola.
Por
manifesta ignorância histórica e política, bem como por subordinação aos
interesses económicos de Angola, os governantes portugueses fingem, ao
contrário do que dizem pensar do Kosovo, que Cabinda sempre foi parte
integrante de Angola. Mas se estudarem alguma coisa sobre o assunto, verão que
nunca foi assim, mau grado o branqueamento dado à situação pelos subscritores
portugueses dos Acordos do Alvor.
Os
cabindas continuam a reivindicar, e desde 1975 fazem-no com armas na mão, a
independência do seu território. No intervalo dos tiros, e antes disso de uma
forma pacífica, nomeadamente quando Portugal anunciou, em 1974, o direito à
independência dos territórios que ocupava, a população de Cabinda reafirma que
o seu caso nada tem a ver com Angola.
Relembre-se
aos que não sabem e aos que sabem mas não querem saber, que Cabinda e Angola
passaram para a esfera colonial portuguesa em circunstâncias muito diferentes,
para além de serem mais as características (étnicas, sociais, culturais etc.)
que afastam cabindas e angolanos do que as que os unem.
Acresce
a separação física dos territórios e o facto de só em 1956, Portugal ter
optado, por economia de meios, pela junção administrativa dos dois territórios.
Deixem-me,
por fim, dizer-vos que só é derrotado quem deixa de lutar. Por isso, Cabinda
acabará por ser independente. É que os cabindas nunca deixarão de lutar. E
ainda bem que assim é, digo eu que, também – mas não só – por ter esta opinião,
estou na linha de fogo do regime de Eduardo dos Santos, um presidente nunca
nominalmente eleito e que está no poder desde 1979.
Folha
8 (ao)
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