segunda-feira, 13 de abril de 2015

OS INTOLERÁVEIS ATAQUES XENÓFOBOS NA ÁFRICA DO SUL



Roger Godwin - Jornal de Angola, opinião

Como se já não bastassem todos os problemas sociais que vinham atormentando a vida dos sul-africanos, ou talvez devido a isso mesmo, o país tem vindo a ser cenário de uma onda de intoleráveis ataques xenófobos colocando em causa das minorias, sobretudo as estrangeiras.

O mais recente caso de intolerância aconteceu na cidade de Durban e obrigou mesmo à intervenção das forças da ordem, que assim se viram obrigadas a efectuar 17 detenções numa acção que causou ainda uma dezena de feridos ligeiros.

Contra os detidos e tentando de algum modo desencorajar outras manifestações do género, pendem  acusações de tentativa de assalto á mão armada e de homicídio o que pode fazer com que os detidos possam vir a ser penalizados em pesadas sentenças de prisão efectiva.

Periodicamente, a África do Sul é varrida com situações deste tipo e que configuram perigosas perseguições contra determinadas minorias estrangeiras, em acções que pretendem servir de antídoto contra os problemas sociais que assolam o país e para os quais, apesar dos reconhecidos esforços do Presidente Jacob Zuma, tardam soluções minimamente viáveis. Desta vez o detonador foi “accionado” pelo “rei”zulu, Goodwill Zwelithini, quando em finais do mês passado apelou à perseguição e expulsão do país, sem piedade, dos emigrantes oriundos da República Democrática do Congo (RDC).

Segundo o “rei”, esses emigrantes estavam na origem de assaltos a residências e a lojas de cidadãos sul-africanos residentes em Durban, na sequência dos quais se registaram três mortes.De imediato, uma onda de vingança levou a que fossem atacadas algumas habitações de cidadãos congoleses o que originou violentos confrontos, durante os quais ficaram feridas 250 pessoas.

Para tentar acalmar a situação, o ministro do Interior, MalusiGigaba, foi à televisão apelar aos líderes sul-africanos, sobretudo os religiosos e étnicos, para que parassem com os apelos à violência prometendo uma intervenção musculada da polícia para evitar confrontos físicos e salvaguardar assim a integridade dos visados.

Ao mesmo tempo, aquele membro do governo prometeu a aplicação rigorosa da lei em vigor para a instalação de emigrantes no país, uma resposta directa a uma das exigências feitas por alguns sectores da sociedade sul-africana. Mas, a verdade é que o rastilho já estava aceso a o barril de pólvora acabou por explodir por via de manifestações realizadas em Durban e durante as quais foi resolvido dar uma evidência mais exuberante, a todo um descontentamento que já se estava a acumular desde há algum tempo.

Um dos filhos do presidente Jacob Zuma, Edward Zuma, foi citado como tendo apoiado o apelo do “rei”Zuku e “aconselhado” os emigrantes a regressarem aos seus países sob pena de terem que ser expulsos à força de um país que “não os quer no seu território”.

Para minimizar a situação, o presidente de um comité de solidariedade para com os emigrantes, Raphael Baheybwa-Kambambire, de nacionalidade congolesa, liderou uma delegação de líderes religiosos que se encontrou a semana passada com o “rei”zulu para tentar encontrar uma forma de minimizar os estragos que já haviam sido feitos.

Desse encontro não resultou nada de garantido para a integridade física dos emigrantes ficando, contudo, o “rei”zulu de moderar o seu discurso, salvaguardando os emigrantes que se encontram em situação legal. De acordo com dados fornecidos pela polícia sul-africana, desde 2008 morreram 62 pessoas em virtude de ataques xenófobos, sendo na sua maioria cidadãos emigrantes de Moçambique, Zimbabwe e RDC.

Recentemente, as autoridades sul-africanas aumentaram as exigências no que respeita aos requisitos a serem preenchidos pelos emigrantes que queiram legalizar a sua situação de permanência no país.

Esse apertar da malha migratória deixa de fora mais de dois milhões de cidadãos que já se encontram na África do Sul, sendo os emigrantes do Zimbabwe os mais visados.De acordo com dados das autoridades sul-africanas, mais de 800 mil zimbabweanos têm que abandonar o país até Junho deste ano, o mesmo acontecendo com 400 mil moçambicanos e 300 mil congoleses.

No início do ano, o subúrbio do Soweto foi palco de violentos confrontos entre sul-africanos e emigrantes ilegais, que viram as suas casas serem incendiadas e os seus bens pilhados.Uma semana depois desses acontecimentos, as esquadras de polícia locais foram invadidas por outros emigrantes ilegais, como forma de protesto pelo facto das forças da ordem não terem intervindo de modo a evitar essa violência que causou dez mortos e ferimentos em centenas de pessoas, na sua maioria velhos, mulheres e crianças.

Estes ataques xenófobos registados periodicamente na África do Sul sucedem na sequência das dificuldades sociais em que vive a maioria da população, sem emprego, habitação e apenas com meios mínimos de sobrevivência. Desde que tomou posse que o Presidente Jacob Zuma tem vindo a intensificar os seus esforços, no sentido de resolver alguns dos inúmeros problemas sociais do país, restando agora saber se o ritmo de resolução dessas assimetrias se compadece com a crescente onda de ataques xenófobos que ameaça perigar a já de si instável segurança interna.


Depois de ter perdido nas urnas mais umas eleições, a minoria zulu joga agora uma cartada extremamente perigosa e que consiste em agitar aquilo que os sul-africanos tinham de mais sagrado: a salutar e harmoniosa convivência na diferença, para salvaguardar os soberanos interesses do país.

Sem comentários:

Mais lidas da semana