Técnicos
da organização dirigida por Christine Lagarde concluíram na última quarta-feira
a visita de consultas a Portugal e defenderam num relatório a necessidade de
uma "reforma abrangente dos salários e das pensões", advertindo que
"a recuperação em curso é ainda demasiado modesta para levar o produto e o
emprego aos níveis anteriores à crise". O oposto de uma intervenção de
Paulo Portas no mesmo dia.
Numa
visita às minas de Aljustrel esta sexta-feira, o vice-primeiro-ministro, Paulo
Portas, voltou a apresentar a situação económica de Portugal de forma muito
positiva e quase eufórica. Para ele, Portugal tem “níveis de crescimento
económico superiores a muitos outros países da União Europeia e claramente está
entre os países que crescem mais na zona euro”, prevendo que Portugal vai
“crescer, nos próximos anos, claramente acima dos 2%” e que vai conseguir, ao
mesmo tempo, três coisas: “moderação fiscal, criação de emprego e serviço da
dívida e isso só se faz com um crescimento sólido e sustentado”.
Ora
no mesmo dia, o Fundo Monetário Internacional divulgou um comunicado com uma perspetiva bastante
diferente: “As perspetivas para o médio prazo ainda estão nubladas pelo
legado de problemas” que o país atravessa, como “o fraco investimento, os
'stocks' elevados de dívida pública e privada, o endividamento excessivo do
setor empresarial e o abrandamento do mercado de trabalho”.
Previsões
sombrias
As
previsões para o crescimento de Portugal contidas no relatório são também
diferentes das de Paulo Portas. Em vez de “claramente acima dos 2%”, o FMI
prevê que a economia portuguesa cresça 1,6% este ano, 1,5% no próximo ano e
1,4% em 2016. Estas projeções também são mais pessimistas que as do governo,
que projeta crescimentos de 1,6%, de 2% e de 2,4% neste e nos dois anos
seguintes.
Quanto
às finanças públicas, o Fundo projeta um défice orçamental de 3,2% este ano, de
2,8% em 2016 e de 2,5% em 2017, e uma dívida pública decrescente mas acima dos
120% (caindo dos 126,3% estimados para este ano para os 122,7% previstos para
2017).
Os
técnicos do FMI insistem na necessidade de Portugal cortar mais na despesa
pública, realizando uma "reforma abrangente dos salários e das
pensões" e de "continuar as reformas estruturais" para melhorar
a competitividade. "É importar racionalizar mais a despesa pública através
de uma reforma abrangente dos salários e das pensões e de reformas fiscais amplas
para melhorar a Administração Pública e mitigar os riscos decorrentes das
entidades públicas", advoga o comunicado do FMI.
O
Fundo Monetário recomenda que Portugal aproveite as baixas taxas de juro, a
depreciação do euro e os baixos preços do petróleo para "atacar as
restantes vulnerabilidades, reconstruir 'almofadas' orçamentais e acelerar as
reformas estruturais chave".
Sistema
bancário sobrecarregado de créditos malparados
Quanto
ao sistema bancário, o FMI afirmou que o setor em Portugal está a reduzir a
dependência do financiamento junto do Eurosistema, mas advertiu que “continua
não lucrativo e sobrecarregado pelo 'stock' crescente de créditos malparados”.
A
instituição defendeu que “são precisas ações para garantir que os bancos mantêm
os níveis de capital e de provisões adequados e aceleram o pagamento de
dívidas” e recomendou “mais esforços para melhorar a eficiência do
enquadramento relativo às insolvências e para promover um financiamento às
empresas”.
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