Bocas
do Inferno
Mário Motta, Lisboa
A
mansidão com que a comunicação social tem tratado os incidentes que envolveram
polícias e cidadãos, a lavagem que está a ser operada por este sistema
repressivo sobre a má conduta de muitos agentes policiais nos incidentes em
Lisboa e em Guimarães vem à tona quando, mesmo em artigos de opinião, nos
jornais, a mansidão ou carneirismo pró-sistema repressivo e antidemocrático é
mais que evidente. Não se trata de aqui se acusar a eito a PSP mas sim de dar
eco à exigência de que aquela corporação está a ser invadida por pessoas que
não reúnem condições para lidar com os cidadãos e assegurarem em pleno as
qualidades que proporcionem segurança a quem pacificamente anda pelas ruas, nos
transportes, em eventos ou em qualquer outro lugar público. Vimos com
apreeensão que o evidente esteja a ser negado aos portugueses. A PSP precisa de
sanear os agentes que não oferecem competências para cumprir devidamente as
suas missões. O que vimos são agentes a lidar com qualquer cidadão pacífico de
modo violento, como se todos nós fossemos criminosos. Para muitos agentes da
PSP os portugueses são o inimigo, o ladrão, o assassino, o terrorista, o
prevaricador, o infrator sistemático. Quem os instrui assim e lhes mete isso na
cabeça erra em toda a plenitude. Já basta que certos agentes ainda a cheirar a
leite materno se deslumbrem com os poderes que consideram ter e ultrapassem as
regras exigidas a polícias numa sociedade e país que, em principio, se devia
regular pelo respeito à democracia, direitos dos cidadãos e direitos humanos.
Vimos
os excessos condenáveis no Marquês de Pombal por parte de agentes da PSP –
agentes que atiravam garrafas e pedras para os magotes de pessoas, acertando em
culpados e inocentes. Vimos o que aconteceu em Guimarães com um comandante de
setor criminalista (alguém com responsabilidades acrescidas). Vimos um cidadão
com 70 anos ser esmurrado por ele, duas vezes, sem que tivesse esboçado
qualquer movimento agressivo. Vimos o agente subcomissário, no ocorrido em
Guimarães, usar de violência premeditada e excessiva, socorrendo-se inclusive
de um bastão de aço depois de usar o bastão comprido que normalmente usam. Tudo
isso para espancar e aterrorizar um cidadão que não esboçou o mínimo movimento
agressivo nem estava em situação irregular. Que, para cúmulo estava acompanhado
do pai (idoso esmurrado) e de duas crianças.
É
evidente que o subcomissário ao mudar de bastão, para o de aço, fê-lo por ser
costume quando espanca alguém. Só que neste caso fê-lo à vista de um país
inteiro. Do mundo inteiro. Lamentavelmente este subcomissário terrorista
continua ao serviço em vez de o suspenderem enquanto procedem às investigações
anunciadas e que vão levar muito tempo. O tempo necessário para a “poeira assentar”
(para se esquecer e abafarem o caso). O termo de dar tempo para a “poeira assentar”
foi usado por um vizinho vimaranense do subcomissário do terror quando
entrevistado por um jornal (JN) sobre o seu paradeiro, informando que o agente
se refugiara em casa de seu pai numa localidade próxima de Guimarães… Foi para
lá “até a poeira assentar”.
Não
existe a presunção de inocência para agentes como o de Guimarães ou muitos no
Marquês de Pombal. Atiram-se a todos e qualquer um, seja homem ou mulher, novo
ou velho, culpado ou inocente. Aliás, para agentes assim deformados, por tão
mal-formados, não existem inocentes. É aquilo que os seus comportamentos
evidenciam. É aquilo que vimos.
O
que aquela espécie de agentes parece não compreender é que só uma minoria dos
cidadãos são energúmenos que utilizam métodos fora das leis. Também parece não
compreenderem que eles fazem parte de uma minoria de energúmenos na PSP, que
usam critérios não consentâneos com as regras, com as leis que devem proteger e
proporcionar segurança aos cidadãos. O código de ética naquela profissão
exigente é relegado para escanteio.
É
certo que a profissão de polícia não é fácil (como muitas outras) mas daí a
desculparem-se agentes que nos seus critérios e métodos conspurcam a
instituição PSP é o mesmo que estarmos a brincar com o fogo e a caminharmos
para suportarmos uma corporação que proporciona o contrário de segurança e
civilidade.
Existe
uma ladainha de alguns que referem os polícias que são mortos, que morrem em serviço. Só por si a
morte de agentes em serviço é muito lamentável e de inequívoca repulsa por
parte de todos nós. Mas perguntemos o que dizem as estatísticas e vimos que
morrem muitos mais operários em serviço na construção civil e noutras
profissões do que na polícia. Isto não é um consolo mas cansa ouvir os que
estão sempre a referir que a polícia é uma profissão de risco que deve ter
muito mais regalias que os outros cidadãos. Claro que é uma profissão de risco
e que até exige espírito de sacrifico e nervos de aço mas daí a quererem que sejam
considerados uns “super” vai uma grande distância. Não são. Aliás, este subcomissário de
Guimarães tem sido referido por colegas como um “superpolícia”. Pois. Olhem bem
o resultado…
Louvem-se
a maioria dos bons polícias na PSP. Expulsem os que descredibilizam a
instituição. Salve-se a PSP. Também dela depende a nossa segurança e a
democracia. Saneamento de chefias e de agentes deformados é urgente. A ministra
tem de saber agir em prol da reposição do bom nome da Polícia de Segurança Pública.
Se não souber, saneie-se também a ministra.
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