quinta-feira, 25 de junho de 2015

Moçambique 40 anos. O dia em que a palavra paz correu de boca em boca na Machava



Henrique Botequilha e Estêvão Chavisso - Lusa

As bancadas do estádio da Machava, nos arredores de Maputo, estiveram hoje, dia 25 de junho, quase repletas de pessoas no dia das celebrações dos 40 anos da independência de Moçambique, em que a palavra paz andou na boca de todos.

“Agora, Moçambique tem como principal desafio a consolidação da unidade nacional. Infelizmente, ainda há algumas diferenças entre as pessoas, mas acredito que com mais anos as coisas vão melhorar”, disse à Lusa o professor Sidónio Simão, que, em 1975, com apenas 15 anos, esteve no mesmo local a assistir à histórica proclamação de independência de Samora Machel.

Logo nas primeiras horas do dia, multidões concentraram-se às portas do estádio, entre pessoas para assistir às cerimónias e vendedores informais, numa festa que começou perto das 11:00 (10:00 em Lisboa), atrasada, como há 40 anos.

Agitando pequenas bandeiras moçambicanas, patrocinadas pela Igreja Universal do Reino de Deus, e muitas delas trajadas de vermelho, amarelo e verde, em alusão às cores da nação, os espetadores da cerimónia ouvidos pela Lusa enalteceram os progressos obtidos em 40 anos e reiteraram a necessidade da manutenção da paz, quando o país atravessa a ameaça de instabilidade política e militar provocada pela crise com a oposição da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana).

“Não queremos mais guerra e não queremos que surjam oportunistas com objetivos de nos colonizar. Que continuemos independentes”, declarou à Lusa Ilda Alberto, uma doméstica de 36 anos.

“Veja como estou vestido, estou de branco para reiterar a necessidade da paz no país. Queria que futuramente os moçambicanos pudessem andar sem problemas e que essas pessoas envolvidas nesses confrontos armados se entendessem para que os moçambicanos andem livres”, disse por seu lado Arifo Zacarias, 42 anos, comerciante.

Por oposição a um discurso todo ele orientado para a paz e unidade, incluindo o discurso do próprio Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, grande parte do espetáculo hoje oferecido na Machava foi protagonizado por eventos militares. Durante mais de meia-hora, centenas de elementos de todas as forças militares e policiais do país desfilaram à volta do estádio, em passo de ganso e depois disso as bancadas estremeceram com passagens rasantes sucessivas de caças aéreos MIG e outras aeronaves que libertavam fumaça colorida, representando as cores nacionais.

A chegada da chama da unidade nacional, que atravessou nos últimos dois meses todo o país, da província de Cabo Delgado, no norte, a Maputo, foi outro dos momentos mais marcantes da manhã. Após uma entrada triunfal na caixa aberta de uma “pick up”, saudando a assistência, o Presidente da República, Filipe Nyusi, recebeu a tocha de moçambicanos nascidos há exatamente 40 anos e acendeu uma pira instalada no ponto mais destacado do estádio, simbolizando a integridade territorial do país.

“Esta é uma data de grande alegria para o povo moçambicano. É um momento ímpar”, afirma João Raul, um alfaiate de 55 anos que, se fez ao estádio nas primeiras horas do dia levando um neto ao colo. “Espero que meu neto France Alberto comemore mais datas similares nos próximos tempos”, salientou, antes de tomar o seu lugar no estádio, onde também houve aterragens de paraquedistas com bandeiras moçambicanas e imagens dos “fundadores” Samora Machel e Eduardo Mondlane.

“O [primeiro]Presidente Samora Machel guiou-nos para a independência, mas também não podemos esquecer de Eduardo Mondlane [primeiro presidente da Frelimo]que arquitetou da nossa unidade nacional”, diz à Lusa o régulo Jorge Machava, que, à semelhança de todos os interlocutores, também sinalizou a paz como fundamental para os próximos 40 anos.

Além dos antigos chefes de Estado moçambicanos Joaquim Chissano e Armando Guebuza, membros do primeiro Governo criado em 25 de junho de 1975 e chefiado por Samora Machel, a cerimónia foi também testemunhada por vários estadistas da África austral, num contexto bem diferente de há quatro décadas, quando Moçambique nasceu ameaçado pelos “regimes segregacionistas da África do Sul e da Rodésia do Sul, atual Zimbabué.

Hoje marcaram presença na Machava os presidentes do Zimbabué, Robert Mugabe, Zâmbia, Edgar Lungu, Namíbia, Hage Geingob, Tanzânia, Jakaya Kikwete, e Malauí, Peter Mutharika. Portugal esteve representado pelo ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete.

Foto. Milhares de pessoas estiveram presentes na cerimónia da celebração dos 40 anos de independência do país. Foto António Silva



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