O
'Apartheid Social' passa longe de ser apenas uma metáfora no Brasil: PM carioca
recolhe menores negros que se encaminham às badaladas praias da Zona Sul.
Marcos
Sacramento - Diário do Centro do Mundo – Carta Maior
No
início do ano, auge do verão, a colunista Hildegard Angel escreveu um texto
onde sugeria a redução de linhas de ônibus ou cobrança de entrada nas praias da
Zona Sul do Rio de Janeiro como forma de inibir os arrastões.
A proposta de Angel foi absurda, mas na prática há anos o Estado promove ações para restringir o acesso de moradores da periferia às praias da Zona Sul, como neste domingo, quando 15 jovens foram abordados em um ônibus e recolhidos pela Polícia Militar sem qualquer acusação contra eles.
Conforme uma conselheira tutelar informou ao jornal Extra, os abusos aos direitos básicos dos jovens e adolescentes são rotina nos finais de semana ensolarados. “No início, o critério era estar sem documento e dinheiro para a passagem. Agora, está sem critério nenhum. É pobre? Vem para cá. Só pegam quem está indo para as praias da Zona Sul. Tem menores que, mesmo com os documentos, são recolhidos. Isso é segregação. Só hoje (domingo) foram cerca de 70. Ontem (sábado), foram 90.”
Tentativas de restringir a presença de moradores da periferia nas praias badaladas do Rio são corriqueiras como o mate gelado e o biscoito Globo vendidos nas areias. As ideias defendidas no infeliz artigo de Hildegard Angel são estapafúrdias mas são inéditas.
Em 1992, uma onda de arrastões no Rio de Janeiro foi notícia no país inteiro e inspirou manchetes e editoriais alarmistas, com sugestões preconceituosas para manter as praias foram do alcance da população mais pobre. Um deles, do Jornal do Brasil, sugeria o policiamento e controle das linhas de ônibus que ligam a Zona Norte à Zona Sul, conforme observa o artigo “Arrastão Midiático e Racismo no Rio de Janeiro”, do pesquisador e professor da UFMG Dalmir Francisco.
No caso ocorrido no último domingo, nem existe a justificativa da chamada “onda de arrastões nas praias”. A Polícia Militar deu uma explicação esfarrapada para a ação dos policiais, informando por nota que elas “ocorreram visando a proteger menores em situação de risco ou em flagrante de ato infracional”.
Proteção é oferecer à garotada moradia digna, saneamento, escolas e um sistema público de transporte público confortável que permita o acesso ao lazer e à cultura onde eles bem entenderem. Abordar sem motivos e infringir o direito de ir e vir só protege os interesses de quem acredita que as praias devem ser feudos restritos a uma minoria endinheirada.
A fala de um dos adolescentes abordados sintetiza a falta de políticas públicas para oferecer dignidade a uma juventude que se espreme em ônibus lotados só para curtir uma praia. “Nós “é” humilhado na favela e na “pista””, disse o menino de 14 anos.
Há grande chance dele não ter a mínima ideia de quem seja Hildegard Angel e da sugestão dela para controlar o acesso dos pobres às praias da Zona Sul, mas uma coisa é certa: ele conhece na pele o significado da palavra segregação.
A proposta de Angel foi absurda, mas na prática há anos o Estado promove ações para restringir o acesso de moradores da periferia às praias da Zona Sul, como neste domingo, quando 15 jovens foram abordados em um ônibus e recolhidos pela Polícia Militar sem qualquer acusação contra eles.
Conforme uma conselheira tutelar informou ao jornal Extra, os abusos aos direitos básicos dos jovens e adolescentes são rotina nos finais de semana ensolarados. “No início, o critério era estar sem documento e dinheiro para a passagem. Agora, está sem critério nenhum. É pobre? Vem para cá. Só pegam quem está indo para as praias da Zona Sul. Tem menores que, mesmo com os documentos, são recolhidos. Isso é segregação. Só hoje (domingo) foram cerca de 70. Ontem (sábado), foram 90.”
Tentativas de restringir a presença de moradores da periferia nas praias badaladas do Rio são corriqueiras como o mate gelado e o biscoito Globo vendidos nas areias. As ideias defendidas no infeliz artigo de Hildegard Angel são estapafúrdias mas são inéditas.
Em 1992, uma onda de arrastões no Rio de Janeiro foi notícia no país inteiro e inspirou manchetes e editoriais alarmistas, com sugestões preconceituosas para manter as praias foram do alcance da população mais pobre. Um deles, do Jornal do Brasil, sugeria o policiamento e controle das linhas de ônibus que ligam a Zona Norte à Zona Sul, conforme observa o artigo “Arrastão Midiático e Racismo no Rio de Janeiro”, do pesquisador e professor da UFMG Dalmir Francisco.
No caso ocorrido no último domingo, nem existe a justificativa da chamada “onda de arrastões nas praias”. A Polícia Militar deu uma explicação esfarrapada para a ação dos policiais, informando por nota que elas “ocorreram visando a proteger menores em situação de risco ou em flagrante de ato infracional”.
Proteção é oferecer à garotada moradia digna, saneamento, escolas e um sistema público de transporte público confortável que permita o acesso ao lazer e à cultura onde eles bem entenderem. Abordar sem motivos e infringir o direito de ir e vir só protege os interesses de quem acredita que as praias devem ser feudos restritos a uma minoria endinheirada.
A fala de um dos adolescentes abordados sintetiza a falta de políticas públicas para oferecer dignidade a uma juventude que se espreme em ônibus lotados só para curtir uma praia. “Nós “é” humilhado na favela e na “pista””, disse o menino de 14 anos.
Há grande chance dele não ter a mínima ideia de quem seja Hildegard Angel e da sugestão dela para controlar o acesso dos pobres às praias da Zona Sul, mas uma coisa é certa: ele conhece na pele o significado da palavra segregação.
Créditos
da foto: reprodução
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