Nuno
Castel-Branco e Fernando Mbanze vão a julgamento na segunda-feira (31.08), por
divulgarem carta aberta dirigida ao então Presidente, Armando Guebuza. Está
prevista uma manifestação pacífica em frente ao tribunal.
Uma
carta dirigida ao Presidente da República de Moçambique, na altura Armando
Guebuza, vai levar o economista Nuno Castel-Branco e o jornalista Fernando
Mbanze à barra do tribunal.
Castel-Branco,
autor da carta, é acusados de crimes contra a segurança do Estado. Mbanze, de
abuso da liberdade de imprensa.
A
audiência terá lugar segunda-feira (31.08), no Tribunal Judicial KaMpfumo, em
Maputo. Várias organizações prometem manifestar-se em conjunto à porta do
tribunal, por considerarem se tratar de uma afronta às liberdades de expressão
e de imprensa.
O
caso é visto como uma forma de intimidação aos jornalistas, em particular aos
cidadãos no exercício dos seus direitos e liberdades fundamentais de cidadania.
Também
o jornalista moçambicano, Fernando Veloso, do semanário Canal de Moçambique,
deve enfrentar julgamento por ter divulgado a referida carta embora ainda não
tenha sido notificado por se encontrar fora do país.
Manifestação
pacífica à porta do tribunal
O
especialista de imprensa do Programa Para Fortalecimento da Mídia em Moçambique
implementado pela IREX, Arsénio Manhice, declara que esta audiência é "uma
ameaça às batalhas conquistadas no que diz respeito à liberdade de expressão e
de imprensa em Moçambique".
Para
Manhice, "os dois jornalistas devem ser ilibados porque publicaram a carta
no exercício profissional e para permitir maior divulgação da opinião do
professor Nuno Castel-Branco".
O
caso tem sido debatido entre várias associações moçambicanas. As organizações
de jornalistas demonstram repúdio, por considerarem que não existe crime e
prometem ações de solidariedade.
O
Instituto de Comunicação Social da África Austral Moçambique (MISA-Moçambique)
considerou este julgamento "inconstitucional". Membros de diversas
associações da imprensa e da sociedade civil vão juntar-se numa manifestação
pacífica para dizer "não à intimidação, não à ameaça por expressarem as
suas ideias e defenderem a liberdade de expressão e imprensa", adianta
Manhice.
Lei
contra a segurança do Estado deve ser revista
Tomás
Vieira Mário, presidente do Conselho Superior de Comunicação Social em
Moçambique, disse à agência Lusa que este "pode se tratar de um julgamento
político, caso a crítica de um cidadão se transforme em crime".
Também
em declarações à Lusa, o jornalista Fernando Gonçalves, presidente do
MISA-Moçambique, garante que "estas acusações mancham a imagem de
Moçambique internacionalmente". O jornalista lamenta que ainda se
"considere a crítica a um chefe de Estado um ato de subversão".
Ambos
os dirigentes concordam que esta seria uma oportunidade para rever a lei sobre
os crimes contra a segurança do Estado, que foi aprovada num "contexto
politico monopartidário", diferente do atual.
Teresa Pina, diretora executiva da secção portuguesa da AI, lembra que "estes casos deviam ter sido arquivados porque de acordo com a Lei da Amnistia, aprovada em agosto do ano passado [pelo Parlamento] em Moçambique, todas as ofensas relacionadas com segurança de Estado, cometidas no período que abrange estes factos, deviam ser arquivadas".
Teresa Pina, diretora executiva da secção portuguesa da AI, lembra que "estes casos deviam ter sido arquivados porque de acordo com a Lei da Amnistia, aprovada em agosto do ano passado [pelo Parlamento] em Moçambique, todas as ofensas relacionadas com segurança de Estado, cometidas no período que abrange estes factos, deviam ser arquivadas".
A
Amnistia Internacional (AI) em Portugal deu início a uma petição na internet.
Réus
esperam ser absolvidos
O
jornalista Fernando Mbanze aguarda pelo início do julgamento e a sua
expectativa é de que "corra bem e seja feita justiça", considerando
que a melhor decisão será a sua "absolvição".
Entretanto,
o economista Carlos Nuno Castel-Branco, em entrevista à DW África desde
Manchester, no início deste mês de agosto, pediu que a audiência seja
"aberta e divulgada ao público".
O
professor, que já se encontra em Moçambique, "aguarda pelo julgamento com
tranquilidade" refere o jornalista Fernando Mbanze.
Manuel
Ribeiro / Lusa - Deutsche Welle – Na foto: Carlos Nuno Castel-Branco
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