sábado, 19 de setembro de 2015

Portugal. AS PERGUNTAS QUE FICARAM POR FAZER



É difícil não ver ou ouvir um debate político sem ficar com algumas perguntas que gostaríamos de ter feito. Dos candidatos a futuro primeiro ministro, eu gostava sobretudo de saber como iriam reagir a quatro ameaças económicas ao funcionamento do nosso Estado de direito e da nossa economia de mercado.

Ricardo Reis – Dinheiro Vivo, opinião

Primeiro, o que faria o candidato se no seu mandato um grande banco português repentinamente ficasse insolvente? O actual governo teve o caso BES, o anterior teve o BPN. A resposta não foi ideal em nenhum dos dois casos. Estes dois episódios muito provavelmente custarão mais do que as perdas dos pensionistas durante a última legislatura. O que fariam no futuro Pedro Passos Coelho ou António Costa? Outro benefício desta pergunta é que permitia perceber qual dos dois percebe o que está em jogo na nova união bancaria europeia e quais são os seus reais poderes.

Segundo, como vão os dois lidar com a perda permanente de soberania fiscal? No mínimo, a aplicação do fundo de garantia de depósitos da união bancária nos próximos doze meses vai exigir um maior controlo sobre as contas do Estado por parte das instituições europeias. A provável criação de um instrumento de dívida europeia e de um fundo de resgate para responder a futuras crises na zona euro vão dar ainda mais poder a Bruxelas para ditar as finanças públicas portuguesas. No extremo, a vaga a favor do federalismo europeu deixaria o governo português com pouco controlo sobre o seu défice ou despesa pública. Em vez de perguntar quem chamou a troika ou melhor lidou com ela, gostava que os candidatos respondessem: o que pensam e vão fazer acerca da troika permanente que se está a desenhar em Bruxelas?

Terceiro, como vêm os candidatos o papel de regulador do Estado? Não passa uma semana sem que eu ouça pelo menos um português queixar-se do comportamento abusivo por parte de uma companhia de telecomunicações, electricidade, entre outras. Fica a impressão clara que os reguladores não estão a conseguir proteger os consumidores destas empresas monopolistas. O que vão Pedro Passos Coelho ou António Costa fazer para proteger o mercado: mudar a legislação, dar outros poderes aos reguladores, promover a concorrência e a informação do consumidor, pressionar o sector da justiça a defender de forma mais célere os consumidores?

Quarto, qual vai ser a nova etapa no funcionamento da máquina fiscal em Portugal? Mais do que saber se os impostos vão subir ou baixar, os portugueses hoje queixam-se do sufoco das multas constantes das finanças, que têm de ser pagas de imediato para depois ficar anos à espera de uma explicação ou pela correção de claros erros e injustiças. Os dois candidatos vão fazer o quê para recuperar a sentido de justiça por parte dos contribuintes em relação às finanças?

Eu não tenho resposta fácil a nenhuma destas quatro perguntas. Mas quem quer ser meu primeiro ministro devia ter pelo menos uma ideia clara acerca destes desafios ao papel do Estado português.

Sem comentários:

Mais lidas da semana