terça-feira, 20 de outubro de 2015

Portugal. E AGORA CAVACO?



Paula Ferreira – Jornal de Notícias, opinião

Durante esta semana, se nada de anormal acontecer, saberemos quem nos vai governar. O presidente da República deve anunciar ao país quem nomeará como primeiro-ministro. Até agora, temos vivido um impasse. Cavaco Silva, ao longo dos últimos meses, não se cansou de apelar ao consenso e de definir como meta de fim de mandato nomear um Governo estável - portanto, com apoio parlamentar. Os resultados de 4 de outubro são conhecidos de todos, e não apontam em tal sentido. Neste momento, a possibilidade de haver um executivo com apoio parlamentar está à esquerda do espetro político.

Será Cavaco Silva, que garantiu durante o fim de semana ter sido este um dos cenários analisados, capaz de nomear um Governo liderado por António Costa, apoiado por Catarina Martins e Jerónimo de Sousa? Se o fizesse, assistiríamos a algo ainda mais espantoso do que temos vivido nos últimos dias, com os comunistas a declararem apoio a uma solução governativa liderada pelos socialistas. Contudo, se não o fizer, é caso para perguntar: estamos a assistir a uma peça que vai à cena, num teatro em que na plateia estão sentados os portugueses?

Ontem, Passos Coelho foi prestar contas ao presidente da República. Incumbido de encontrar uma solução estável de governação, Passos esteve dependente das propostas de um PS que parece apostado em não deixar cair o apoio manifestado, desde a noite das eleições, pelo BE e PCP. O objetivo comum dos partidos à esquerda do PS é afastar a Direita do poder, e sua política austeritária, assumindo deixar entre parênteses algumas das bandeiras dos seus programas eleitorais. Uma questão se levanta: terá o PSD feito os esforços necessários para conseguir um acordo parlamentar? Não sabemos. Mas a perceção que fica é de que foi António Costa a assumir esse papel à Esquerda, perante o "fazer de morto" da coligação PàF.

Se a solução mais estável for um Governo socialista, apoiado no Parlamento pelos partidos à Esquerda e o PAN, Cavaco Silva terá consciência de que Costa - embora o PS não seja o Syriza, nunca foi - será a continuidade dos últimos quatro anos. Um risco? Um risco, claro, que a Europa estará a acompanhar com a máxima atenção. Comunistas num Governo europeu? A experiência grega mostrou-nos, de forma clara, que se assim for a guerra surda será aberta.

Cavaco parece condenado a dar posse a Passos Coelho. Nada de surpreendente se recordarmos a relação que manteve com o Executivo na última legislatura. Mesmo sabendo que será um Governo a prazo. A não ser que Cavaco esteja a fazer as mesmas contas que António Costa para ver quem, dentro do PS, pode apoiar o Governo de Direita. E se a rebelião acontecer no Largo do Rato, poderá ser suficiente para manter vivo o "arco da governabilidade".

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