O
que é que os políticos nunca dizem mas deviam dizer? Em “Dito por não dito”, e
agora que estamos na última semana de campanha eleitoral, o Expresso coloca a
questão a personalidades de vários sectores da sociedade portuguesa - e ainda
outras duas perguntas: o que é os políticos deviam saber e não sabem e o que é
que deviam fazer e não fazem? Começamos com a ilustradora Catarina Sobral,
vencedora no ano passado de um dos mais prestigiados prémios internacionais de
ilustração.
um
avô que tem todo o tempo do mundo e um dr. Sebastião que não tem tempo a
perder. Cruzam-se todos os dias à mesma hora, mas não podiam ser mais
diferentes um do outro. O avô tem aulas de pilates, faz piqueniques no jardim
e, apesar da idade, continua um romântico que ainda escreve cartas de amor.
Ridículas, como são todas as cartas de amor… Já o dr. Sebastião anda sempre
numa azáfama entre a casa, o trabalho, o computador, os emails, os gráficos, as
apresentações, as filas de trânsito…
“O
meu avô” é um livro ilustrado sobre o tempo e as diferentes vivências da
temporalidade, “esse sentimento moderno de falta constante de tempo, de não se
ter tempo para nada, de stress diário”. Uma espécie de descrição dos tempos
modernos e uma apologia dos tempos em que havia um pouco mais de tempo. A obra
valeu no ano passado a Catarina Sobral, 29 anos, o prémio internacional de
ilustração na prestigiada Feira do Livro Infantil de Bolonha em Itália.
A
metáfora poderia servir também para os desafios que colocámos a Catarina: como
podem os nossos políticos fazer então um melhor uso do seu tempo? O que podem
dizer e não dizem? “Que a cultura é fundamental para o país.” O que podem fazer
e afinal não fazem? “Deviam parar de resgatar bancos e resgatar famílias.” E o
que deviam saber e não sabem? “O que é viver no mundo real, fora das jotinhas,
dos carros de luxo e dos fatos engomados. O que é viver com um salário minímo
ou ser um trabalhador a recibos verdes.”
O
primeiro livro de ilustrações de Catarina Sobral, publicado em 2011 pela Orféu
Negro, intitulava-se “A greve” e coincidiu com uma altura em que o país
conheceu maior agitação social e um agravamento da situação económica. No ano
seguinte veio “Achimpa”, já com técnicas diferentes. Das colagens e monotipia
passou para as tintas a óleo e lápis de cera. “Gosto de mudar de técnicas
consoante o tema, mas também de experimentar, de inovar, de não me sentir
aborrecida por estar sempre a fazer as mesmas coisas.”
Os
livros procuram sempre atingir vários públicos. “Quero sempre fazer algo que
seja tão bom para crianças como para adultos.” Em “O meu avô”, por exemplo, os
adultos mais atentos poderão encontrar referências a Fernando Pessoa, Almada
Negreiros, Jacques Tati, Manet e Andy Warhol.
Depois
do livro que lhe valeu o prémio de ilustração internacional, Catarina Sobral
publicou, já este ano, “A sereia e os gigantes”, em que faz a sua própria interpretação
de uma lenda sobre a origem da Praia da Rocha, no Algarve, onde passou vários
verões quando ia de férias para o Algarve. Está também a preparar uma
curta-metragem de animação.
DITO
POR NÃO DITO - JOÃO
SANTOS DUARTE - JOÃO ROBERTO
- Expresso
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