O
futuro do negro brasileiro é o da resistência organizada e do combate
prático ao racismo estrutural. Os meios? Tomar tudo o que lhes falta.
Guilherme
Simões - Carta Maior
Não.
Este não é mais um texto sobre as aberrantes estatísticas sobre a violência e
marginalização contra o povo negro que tanto vemos quando se aproxima o 20 de
novembro. Quem for ler isso aqui, tá careca de saber que dos 60 mil homicídios
anuais no Brasil, 77% vitimam negros ou que a cada 10 mortos pela PM
brasileira, 7 são negros. Não escandaliza ninguém que 80% dos nossos 13 milhões
de analfabetos sejam negros ou ainda que 60% dos desempregados sejam negros ou
negras. Carne de vaca falar que em média a renda dos negros é 40% inferior à
dos brancos. As estatísticas específicas sobre as mulheres negras também
arrepiam, apesar de não surpreenderem. Estatísticas falam por si, mas você já
não as ouvem, não é?
Aqui no estado do Rio de Janeiro em 2015 são cerca de 7 milhões de negros, ou seja, cerca da metade da população do estado e mais do que o número de escravizados durante três séculos em todo o país. Foram por volta de 5 milhões. Etnias e culturas “misturadas” pelo ímpeto vampiresco do capitalismo que nascia (que horror de parto!). O sofrimento desses séculos pouco está registrado. A velha história dos vencedores. Nas escolas, os alunos aprendem que a escravidão no Brasil “durou” entre meados do século XVII até o glorioso 13 de maio de 1888. A participação dos negros em nossa história resume-se quase que totalmente ao trabalho durante os grandes ciclos econômicos (cana, ouro e café). Após a princesa portuguesa assinar a tal lei áurea, os negros despejados, quer dizer, livres, tornam-se no máximo personagens de (boa) literatura e protagonistas de páginas policiais. Suas manifestações culturais desde então foram tratadas como algo abjeto e/ou como crime: do samba ao candomblé, da feijoada ao cabelo duro que insiste em crescer. Escolas de samba quase industrializadas, conservadorismo cristão, chefs de cozinha gourmet e chapinha que o digam. Isso tudo (e muito, muito mais) fundamentam a ideia de que o racismo é estrutural e jamais será superado nesta forma de organizar a vida social que necessita da hierarquização racial.
Muito se fala na necessidade de políticas públicas para a população negra. Mas, como esperar política pública para negros no cenário tão “pouco miscigenado” de nossas instituições? Um exemplo interessante está no lugar mais alto do poder institucional brasileiro: o único presidente negro do Brasil (Nilo Peçanha) só chegou lá após a morte do que havia sido eleito (Afonso Pena). Além disso, como depender de um Estado que atuou histórica e sistematicamente marginalizando as populações negras? Ao ocupar morros como única forma de sobreviver na cidade, os negros passam a ser perseguidos. Milhares despejados (de novo!). O Estado sempre reinventando seu aparato repressivo. Da escravidão legal à UPP. Nas escolas (das luzes, diga-se) a obrigatoriedade do ensino da História e Cultura Afro-brasileira só aparece em 2003, com a lei 10.639. Mesmo assim, essa “obrigatoriedade” é bastante relativizada e os conteúdos trabalhados como uma excentricidade, quase como se a história da população negra fosse um detalhe na formação do país. Junto com esta, outras leis, como a 12.288/10 que institui o estatuto da Igualdade Racial e a 12.711/12 que institui cotas raciais nas universidades federais formam um “pacotão” das chamadas ações afirmativas as quais, apesar de significarem uma espécie de avanço, não são mais do que uma gota no oceano do racismo institucional.
Então, como escrever sobre o racismo sem ser lido como “mais um texto-denúncia”? Como discutir a questão sem ser tratado como “minoria”, sendo que muito mais da metade do país é negra (mais de 50% autodeclaradamente)? Como apresentar a situação do negro brasileiro não como de “um setor” da sociedade, mas sim relacionando tal situação com o destino de toda a sociedade? Eis um desafio. Quase tão grande quanto enfrentar o racismo na prática. A polifonia das redes sociais ajuda a levar a discussão mais longe, mas leva consigo também a mais nefasta conduta racista. A questão torna-se parte do cardápio ornitorrinco que a internet oferece e atinge-se, no máximo, a uma moralização da questão: “é errado ser racista, todos somos iguais”. Blá. Os movimentos negros dividem-se na busca pela melhor forma de fazer o combate. O povo negro? Segue morrendo nas mãos do Estado, sendo encarcerado, e tudo aquilo que você já sabe, mas também já naturalizou. O povo negro? Segue ignorando a maior parte das teses escritas sobre o racismo nas universidades que eles não frequentam, assim como segue sendo apartado e isolado na cidade em que vive.
O negro brasileiro coincide com o marginal brasileiro. Essa é a história de boa parte da classe trabalhadora daqui. Sua única possibilidade de sobrevivência com dignidade não está no favor paternalista, nem na culpabilização dos indivíduos não-negros. O futuro do negro brasileiro é o da resistência organizada e do combate prático ao racismo estrutural. Os meios? Tomar tudo o que lhes falta. Ocupar terrenos pra morar, resgatar tudo o que lhe pertence no âmbito da cultura, ocupar espaços institucionais pra fazer política, responder a cada ofensa racista. No Brasil, somente os negros unidos aos não-negros marginalizados podem construir um futuro humano, esquecido e desprezado pelo capitalismo. (FIM)
Aqui no estado do Rio de Janeiro em 2015 são cerca de 7 milhões de negros, ou seja, cerca da metade da população do estado e mais do que o número de escravizados durante três séculos em todo o país. Foram por volta de 5 milhões. Etnias e culturas “misturadas” pelo ímpeto vampiresco do capitalismo que nascia (que horror de parto!). O sofrimento desses séculos pouco está registrado. A velha história dos vencedores. Nas escolas, os alunos aprendem que a escravidão no Brasil “durou” entre meados do século XVII até o glorioso 13 de maio de 1888. A participação dos negros em nossa história resume-se quase que totalmente ao trabalho durante os grandes ciclos econômicos (cana, ouro e café). Após a princesa portuguesa assinar a tal lei áurea, os negros despejados, quer dizer, livres, tornam-se no máximo personagens de (boa) literatura e protagonistas de páginas policiais. Suas manifestações culturais desde então foram tratadas como algo abjeto e/ou como crime: do samba ao candomblé, da feijoada ao cabelo duro que insiste em crescer. Escolas de samba quase industrializadas, conservadorismo cristão, chefs de cozinha gourmet e chapinha que o digam. Isso tudo (e muito, muito mais) fundamentam a ideia de que o racismo é estrutural e jamais será superado nesta forma de organizar a vida social que necessita da hierarquização racial.
Muito se fala na necessidade de políticas públicas para a população negra. Mas, como esperar política pública para negros no cenário tão “pouco miscigenado” de nossas instituições? Um exemplo interessante está no lugar mais alto do poder institucional brasileiro: o único presidente negro do Brasil (Nilo Peçanha) só chegou lá após a morte do que havia sido eleito (Afonso Pena). Além disso, como depender de um Estado que atuou histórica e sistematicamente marginalizando as populações negras? Ao ocupar morros como única forma de sobreviver na cidade, os negros passam a ser perseguidos. Milhares despejados (de novo!). O Estado sempre reinventando seu aparato repressivo. Da escravidão legal à UPP. Nas escolas (das luzes, diga-se) a obrigatoriedade do ensino da História e Cultura Afro-brasileira só aparece em 2003, com a lei 10.639. Mesmo assim, essa “obrigatoriedade” é bastante relativizada e os conteúdos trabalhados como uma excentricidade, quase como se a história da população negra fosse um detalhe na formação do país. Junto com esta, outras leis, como a 12.288/10 que institui o estatuto da Igualdade Racial e a 12.711/12 que institui cotas raciais nas universidades federais formam um “pacotão” das chamadas ações afirmativas as quais, apesar de significarem uma espécie de avanço, não são mais do que uma gota no oceano do racismo institucional.
Então, como escrever sobre o racismo sem ser lido como “mais um texto-denúncia”? Como discutir a questão sem ser tratado como “minoria”, sendo que muito mais da metade do país é negra (mais de 50% autodeclaradamente)? Como apresentar a situação do negro brasileiro não como de “um setor” da sociedade, mas sim relacionando tal situação com o destino de toda a sociedade? Eis um desafio. Quase tão grande quanto enfrentar o racismo na prática. A polifonia das redes sociais ajuda a levar a discussão mais longe, mas leva consigo também a mais nefasta conduta racista. A questão torna-se parte do cardápio ornitorrinco que a internet oferece e atinge-se, no máximo, a uma moralização da questão: “é errado ser racista, todos somos iguais”. Blá. Os movimentos negros dividem-se na busca pela melhor forma de fazer o combate. O povo negro? Segue morrendo nas mãos do Estado, sendo encarcerado, e tudo aquilo que você já sabe, mas também já naturalizou. O povo negro? Segue ignorando a maior parte das teses escritas sobre o racismo nas universidades que eles não frequentam, assim como segue sendo apartado e isolado na cidade em que vive.
O negro brasileiro coincide com o marginal brasileiro. Essa é a história de boa parte da classe trabalhadora daqui. Sua única possibilidade de sobrevivência com dignidade não está no favor paternalista, nem na culpabilização dos indivíduos não-negros. O futuro do negro brasileiro é o da resistência organizada e do combate prático ao racismo estrutural. Os meios? Tomar tudo o que lhes falta. Ocupar terrenos pra morar, resgatar tudo o que lhe pertence no âmbito da cultura, ocupar espaços institucionais pra fazer política, responder a cada ofensa racista. No Brasil, somente os negros unidos aos não-negros marginalizados podem construir um futuro humano, esquecido e desprezado pelo capitalismo. (FIM)
SOBRE
SER NEGRA E LUTAR CONTRA O SILENCIAMENTO
Se
você é uma mulher negra, não se cale. Nós não estamos ganhando nada com o nosso
silêncio. As outras pessoas que aprendam a ouvir.
Julia
Drummond* – Carta Maior
Esse
texto é para todas/os, mas principalmente para as mulheres negras e eventuais
brancas/os curiosas/os.
Aos que não me conhecem, meu nome é Júlia, tenho 23 anos, sou mulher cis, hetero, negra e universitária. Me formei recentemente em Direito na USP e acabei de ser aprovada no mestrado em Direitos Humanos na mesma Universidade.
Parece muito prepotente da minha parte sair divulgando o meu currículo, mas parei de falsa humildade porque a verdade é que as pessoas nunca esperam que eu ocupe este lugar, a menos que já me conheçam. Faço parte da exceção que confirma a regra, ou seja, sou aquele ponto preto num mar de gente branca, desde a minha Faculdade até o meu trabalho.
E sobre o que é este texto? É sobre silenciamento e lugar de fala. O que quero dizer com esses termos? Recentemente me vi em situações que mostraram o quanto o tempo todo as pessoas aparentemente mais legais, abertas e cults não fazem questão de me ouvir quando o que tenho pra falar questiona as posições que elas ocupam na sociedade. Eu não pretendo, com esse texto, fazer análises profundas sobre o que as leva a agir assim, mas apenas mostrar como isso acontece, para que, eventualmente, possamos nos unir para combater esse problema (não, não é simples, mas entender como acontece é um bom começo).
Não faz muito tempo, conversava com um rapaz branco e universitário e ele ficou impressionado com o fato de toda vez que falo de raça ou gênero cito fonte, ano, dados estatísticos e cruzo referências bibliográficas. Eu não tinha reparado que estava fazendo isso, mas percerbi que esse comportamento é consequência dos constantes questionamentos que sofro sobre os assuntos de que expresso.
Nós, mulheres negras, somos muito questionadas a todo momento, e a experiência me diz que, primeiramente, as pessoas - aqui me refiro às e aos militantes de esquerda - não pressupõem que a gente possua acúmulo acadêmico, o que é uma postura elitista, como se não bastasse ser também racista e sexista, porque exige um conhecimento restrito ao círculo delas/es que silencia a vivência de quem sofre a opressão e, muitas vezes, não ocupa este lugar no qual eu tenho o privilégio de estar.
Cito alguns exemplos de casos que representam esse silenciamento: ao conversar com um outro rapaz sobre atitudes machistas que adotou (e possivelmente continua adotando), fui questionada sobre cada item da minha fala, com argumentos que variavam desde “você precisa entender que teses sociológicas têm suas limitações quando aplicadas na vida privada” até “você está me tratando como um machista qualquer e invalidando a minha militância”.
Sobre o primeiro argumento, pedi fontes, afinal, se é pra jogar com academicismo, que seja com propriedade. Ele não as tinha. Sobre o segundo, perguntei por que se achava tão especial em relação aos outros homens. Por que ele é de esquerda? Não entendi.
A lição que se pode tirar desse exemplo pessoal, é que o rapaz me enalteceu como feminista e mulher negra enquanto eu não apontei o machismo dele. Mas, ao fazê-lo, de repente todo o meu acúmulo e, muito pior, a minha vivência foi ignorada, porque o conhecimento dele teoricamente valeria muito mais. Não, não vale. Ele não sabe o que é ser mulher negra, ser estereotipada, objetificada, preterida nas relações, tratada como segunda classe. Ponto final.
Outro exemplo, e este vale também para as feministas brancas, são as maneiras como o feminismo vem se propagando midiaticamente. Para além da discussão sobre as diversas vertentes feministas (a que eu procuro adotar é a do feminismo interseccional), o que está posto é que mulheres como a JoutJout, a Clarice Falcão e a Emma Watson vêm ganhando destaque. Não acho ruim que elas falem sobre o que falam, mas devemos nos perguntar por que a voz delas é ouvida e a nossa não.
Essa é outra forma de nos silenciar: apenas se importar com a opinião de quem já é privilegiada/o, seja essa pessoa uma mulher branca (sim, ela sofre machismo, mas ela vai continuar não sendo confundida com a vendedora da loja ou morrendo 10% menos por feminicídio, enquanto as mulheres negras morrem 54% mais) ou um homem branco.
Assim, deixando um pouco da minha reflexão: se você é uma mulher negra, não se cale. Nós não estamos ganhando nada com o nosso silêncio. Pode ser o que for, desde a sua opinião sobre qualquer coisa que não pareça relevante até a denúncia de um relacionamento abusivo por parte de alguém machista ou racista (ou os dois) escroto. Às demais pessoas: se querem tornar nossas vidas mais dignas, aprendam a ouvir. Como suspeito que isso não vai acontecer sem reclamações e resistências, não vamos e não devemos mais esperar outro punhado de séculos para que nos vejam como sujeitos de direitos que somos. Foi-se o tempo do medo e da espera de respeito que não veio: a gente vai se empoderando pra falar na marra.
*Julia Drummond é advogada, mestranda em Direitos Humanos na USP, mulher negra e feminista.
Aos que não me conhecem, meu nome é Júlia, tenho 23 anos, sou mulher cis, hetero, negra e universitária. Me formei recentemente em Direito na USP e acabei de ser aprovada no mestrado em Direitos Humanos na mesma Universidade.
Parece muito prepotente da minha parte sair divulgando o meu currículo, mas parei de falsa humildade porque a verdade é que as pessoas nunca esperam que eu ocupe este lugar, a menos que já me conheçam. Faço parte da exceção que confirma a regra, ou seja, sou aquele ponto preto num mar de gente branca, desde a minha Faculdade até o meu trabalho.
E sobre o que é este texto? É sobre silenciamento e lugar de fala. O que quero dizer com esses termos? Recentemente me vi em situações que mostraram o quanto o tempo todo as pessoas aparentemente mais legais, abertas e cults não fazem questão de me ouvir quando o que tenho pra falar questiona as posições que elas ocupam na sociedade. Eu não pretendo, com esse texto, fazer análises profundas sobre o que as leva a agir assim, mas apenas mostrar como isso acontece, para que, eventualmente, possamos nos unir para combater esse problema (não, não é simples, mas entender como acontece é um bom começo).
Não faz muito tempo, conversava com um rapaz branco e universitário e ele ficou impressionado com o fato de toda vez que falo de raça ou gênero cito fonte, ano, dados estatísticos e cruzo referências bibliográficas. Eu não tinha reparado que estava fazendo isso, mas percerbi que esse comportamento é consequência dos constantes questionamentos que sofro sobre os assuntos de que expresso.
Nós, mulheres negras, somos muito questionadas a todo momento, e a experiência me diz que, primeiramente, as pessoas - aqui me refiro às e aos militantes de esquerda - não pressupõem que a gente possua acúmulo acadêmico, o que é uma postura elitista, como se não bastasse ser também racista e sexista, porque exige um conhecimento restrito ao círculo delas/es que silencia a vivência de quem sofre a opressão e, muitas vezes, não ocupa este lugar no qual eu tenho o privilégio de estar.
Cito alguns exemplos de casos que representam esse silenciamento: ao conversar com um outro rapaz sobre atitudes machistas que adotou (e possivelmente continua adotando), fui questionada sobre cada item da minha fala, com argumentos que variavam desde “você precisa entender que teses sociológicas têm suas limitações quando aplicadas na vida privada” até “você está me tratando como um machista qualquer e invalidando a minha militância”.
Sobre o primeiro argumento, pedi fontes, afinal, se é pra jogar com academicismo, que seja com propriedade. Ele não as tinha. Sobre o segundo, perguntei por que se achava tão especial em relação aos outros homens. Por que ele é de esquerda? Não entendi.
A lição que se pode tirar desse exemplo pessoal, é que o rapaz me enalteceu como feminista e mulher negra enquanto eu não apontei o machismo dele. Mas, ao fazê-lo, de repente todo o meu acúmulo e, muito pior, a minha vivência foi ignorada, porque o conhecimento dele teoricamente valeria muito mais. Não, não vale. Ele não sabe o que é ser mulher negra, ser estereotipada, objetificada, preterida nas relações, tratada como segunda classe. Ponto final.
Outro exemplo, e este vale também para as feministas brancas, são as maneiras como o feminismo vem se propagando midiaticamente. Para além da discussão sobre as diversas vertentes feministas (a que eu procuro adotar é a do feminismo interseccional), o que está posto é que mulheres como a JoutJout, a Clarice Falcão e a Emma Watson vêm ganhando destaque. Não acho ruim que elas falem sobre o que falam, mas devemos nos perguntar por que a voz delas é ouvida e a nossa não.
Essa é outra forma de nos silenciar: apenas se importar com a opinião de quem já é privilegiada/o, seja essa pessoa uma mulher branca (sim, ela sofre machismo, mas ela vai continuar não sendo confundida com a vendedora da loja ou morrendo 10% menos por feminicídio, enquanto as mulheres negras morrem 54% mais) ou um homem branco.
Assim, deixando um pouco da minha reflexão: se você é uma mulher negra, não se cale. Nós não estamos ganhando nada com o nosso silêncio. Pode ser o que for, desde a sua opinião sobre qualquer coisa que não pareça relevante até a denúncia de um relacionamento abusivo por parte de alguém machista ou racista (ou os dois) escroto. Às demais pessoas: se querem tornar nossas vidas mais dignas, aprendam a ouvir. Como suspeito que isso não vai acontecer sem reclamações e resistências, não vamos e não devemos mais esperar outro punhado de séculos para que nos vejam como sujeitos de direitos que somos. Foi-se o tempo do medo e da espera de respeito que não veio: a gente vai se empoderando pra falar na marra.
*Julia Drummond é advogada, mestranda em Direitos Humanos na USP, mulher negra e feminista.
Créditos
da foto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil
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