O
Governo moçambicano negou hoje a existência de um plano para eliminar o líder
da Renamo, Afonso Dhlakama, e justificou as operações contra o maior partido de
oposição com ameaças ao estado de direito e posse ilegal de armas.
Falando
hoje numa sessão de perguntas ao Governo no parlamento, o ministro do Interior,
Basílio Monteiro, disse que o executivo "não coloca e nem quer colocar
como hipótese assassinar indivíduos, muito menos o líder da Renamo [Resistência
Nacional Moçambicana]".
O
grupo parlamentar da Renamo acusou hoje o Governo de tentativa de assassínio do
líder da oposição, ordenando operações nesse sentido às forças de defesa e
segurança, ao mesmo tempo que lança apelos para o diálogo.
Segundo
Basílio Monteiro, citado pela Agência de Informação de Moçambique, as operações
em curso destinam-se a manter "a ordem pública, o direito à vida, a livre
circulação de pessoas e bens e o exercício de direitos fundamentais e
liberdades previsto na Constituição".
O
ministro do Interior afirmou também que é às forças de defesa e segurança que
"compete garantir a ordem, segurança e tranquilidade públicas de todos os
cidadãos" e que o uso de armas de guerra é "uma prerrogativa
exclusiva" do Estado.
Basílio
Monteiro respondia a uma alegação da Renamo, segundo a qual o partido da
oposição está autorizado pelo Acordo Geral de paz, celebrado em Roma em 1992, a
manter um braço armado para proteção dos seus líderes.
O
governante respondeu que o acordo apenas previa uma guarda armada até às
primeiras eleições, em outubro de 1994, acusando a Renamo de usar repetidamente
armas contra civis, o que justifica ações para eliminar "ameaças a pessoas
e ao Estado" e a determinar uma operação de desarmamento.
"O
Governo vai prosseguir com o desarmamento e recolha de artefactos de guerra e
outros em posse de cidadãos ou entidades não legalmente autorizadas para o
efeito", declarou Basílio Monteiro, reiterando que as operações só vão
parar com a recolha da última arma de fogo.
O
ministro do Interior e o comandante-geral da Polícia da República de
Moçambique, Jorge Khalau, confirmaram na sexta-feira novas operações das forças
de defesa e segurança para recolher armas em posse da guarda da Renamo, em
Gorongosa (província de Sofala) e Morrumbala (Zambézia), centro de Moçambique.
No
sábado, registaram-se confrontos entre as forças de defesa e segurança e a
Renamo também em Inhaminga, Sofala.
A
polícia iniciou a operação de recolha de armas da Renamo no dia 09 de outubro,
quando forças especiais cercaram e invadiram na Beira a casa de Afonso
Dhlakama, e detiveram por algumas horas sete elementos da sua guarda.
O
cerco só terminou quando Dhlakama entregou 16 armas da sua guarda pessoal ao
grupo de mediadores do diálogo entre a Renamo e o Governo e que por sua vez o
deixou à responsabilidade da polícia de Sofala.
A
operação policial ocorreu um dia depois de o líder da oposição ter reaparecido
na serra da Gorongosa, ao fim de duas semanas em parte incerta, na sequência de
dois incidentes envolvendo a sua comitiva e as forças de defesa e segurança.
A
12 de setembro, a caravana de Dhlakama foi emboscada perto do Chimoio,
província de Manica, num episódio testemunhado por jornalistas e que permanece
por esclarecer.
A
25 do mesmo mês, em Gondola, também na província de Manica, a guarda da Renamo
e as forças de defesa e segurança protagonizaram uma troca de tiros, que levou
à partida do líder da oposição para lugar desconhecido.
Uma
semana mais tarde, forças de defesa e segurança e da Renamo confrontaram-se
novamente em Chicaca (Gondola), com as duas partes a responsabilizarem-se
mutuamente pelo começo do tiroteio.
Dhlakama
não é visto em público desde o cerco à sua casa na Beira, a 09 de outubro.
Moçambique
vive novos momentos de incerteza política, provocada pela recusa da Renamo em
reconhecer os resultados das eleições gerais de 15 de outubro do ano passado e
pela sua proposta de governar nas seis províncias onde reclama vitória, sob
ameaça de tomar o poder pela força.
HB
(AYAC/EYAC/PMA) // EL - Lusa
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