quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Portugal. DEPUTADO DO PS CHAMA GANGSTER A CAVACO SILVA



Tiago Barbosa Ribeiro, deputado do PS, chama gangster ao Presidente da República no Twitter.

Não só não há problema com governos em gestão prolongada, como a crise política actual é mais amena que a de 2011. Em pleno processo de decisão sobre o futuro governativo, o Presidente da República veio ontem – outra vez da Madeira – deitar mais uma acha para a fogueira: “Esta crise política ocorre em situações que são muito mais favoráveis do que as que se verificavam na última que tinha ocorrido, que foi em 2011.” A esquerda já ferve com as declarações presidenciais em vésperas de decidir sobre o que faz depois da rejeição parlamentar do governo PSD/CDS.

No encerramento da jornada do Roteiro para a Economia na Madeira, o Presidente da República deixou palavras de esperança aos madeirenses, que não têm “razões para estar preocupados com a actual crise política, porque felizmente ocorre em situações que são muito mais favoráveis do que aquelas que se verificavam na última, em 2011”. E Cavaco ainda acrescentava que “a situação hoje é bem diferente, com a economia a crescer, o desemprego a cair e investidores internacionais que nos respeitam”. Em contraponto, a situação de 2011, quando um governo socialista [de José Sócrates] se demitiu... “Nem vos quero mencionar o que disse o representante português do grupo de trabalho do Eurogrupo em 2011 quanto à almofada financeira que nós tínhamos, de tão exígua e assustadora que ela era.”

“Que lástima de Presidente. Participa no jogo partidário sem pudor. Tivesse mais um ano de mandato e reabilitava de vez a monarquia”, escreveu logo de seguida no Facebook o socialista Sérgio Sousa Pinto (que tem sido muito crítico da solução governativa PS apoiado por PCP e BE). Outro deputado socialista, Tiago Barbosa Ribeiro, foi mais forte ainda no Twitter:“Isto não é um Presidente, é um gangster.”

As declarações de Cavaco Silva dos últimos dias incomodam a esquerda, que rejeitou no parlamento o programa de governo de Passos Coelho e aguarda que o chefe de Estado dê seguimento a essa decisão demitindo o governo. Anteontem, Cavaco lembrou o seu próprio exemplo, em 1987, para dizer que esteve cinco meses em gestão.

Vera Jardim diz ao i que “não é desejável” que o Presidente faça estas declarações “num clima de confusão”. E acredita que não há comparação com o que aconteceu depois das últimas crises políticas, “sobretudo a de 87, em que ainda não existia a pressão de agências de rating, nem défices, nem dívidas. As circunstâncias são totalmente diferente”, afirma, ao mesmo tempo que diz que a actual situação do país e os compromissos internacionais assumidos “compaginam-se muito mal com um governo em gestão cinco ou seis meses. Não cabe no meu quadro mental”.

“Não consigo perceber porque não indigitou ainda António Costa.” Augusto Santos Silva não tem dúvidas de qual a decisão que resta ao chefe de Estado, que “sabe que é preciso um Orçamento e responder às solicitações sobre as linhas gerais da política orçamental”. Em declarações ao i, até atira ao rol de audiências que estão a ser promovidas por Belém:“Parece muito semelhante à operação de Março de 2011 com os banqueiros chamados à televisão.”

António Costa falou das primeiras declarações de Cavaco Silva logo na segunda-feira à noite, na entrevista à RTP, para dizer que “não há nenhuma razão para se criarem crises políticas artificias”. “A pior das soluções é a de um governo de gestão, e até nisso o PSD está de acordo”, acrescentou o líder do PS, para quem “seria um erro muito grande manter este clima de incerteza, optar por governos de gestão e ter eleições de seis em seis meses”.

À volta do PS, entre os partidos disponíveis para apoiar no parlamento um governo do partido, a pressão não é menor. No BE, Catarina Martins vai à volta: “Alguém percebe que o senhor Presidente da República deixasse o país na mais completa instabilidade e sem sequer ter um Orçamento do Estado? Não posso acreditar que isso seja verdade.” E a porta-voz do BE foi pouco depois acompanhada pela candidata presidencial do partido, Marisa Matias. “Que o Presidente admita publicamente essa possibilidade degrada a democracia e divide o país. É um comportamento irresponsável e indigno das funções que Cavaco Silva ocupa.” A candidata a Belém rematou, citada pela Lusa, dizendo que Cavaco Silva é o “maior factor de instabilidade no país”.

Outro candidato presidencial – apoiado por parte do PS –, Sampaio da Nóvoa, também falou ontem do que o Presidente tem dito nos últimos dias, defendendo ser “urgente que seja tomada uma decisão e se dê posse a um novo governo”. Para o candidato, “não parece haver outra solução sem ser dar posse a um governo que resulte de uma maioria parlamentar, seja ela qual for”.

Rita Tavares – jornal i

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