Expresso
Curto com Nicolau Santos. Estamos todos muiiiito abananados. Nicolau diz que
hoje não é dia para palavras. Mal. Porque é. Todos os dias são de palavras com
momentos reservados para a introspeção, para a solidariedade, para a decência,
para o insurgir que possa derrubar dos poderes autênticos sacanas que tomam os
poderes económicos, financeiros, judiciários, políticos e fazem dos povos
gato-sapato. Para essa minoria somos objetos descartáveis. Assim o demonstram
na prática, mascarando-se de humanidade e sensibilidade quando consideram
vantajoso para eles. Para nos enganar. A comunicação social, por eles
controlada na maior parte dos casos, ajuda a mantê-los nos poderes e a
disseminar pelo mundo a Nova Ordem. A ordem que lhes convém e à sua minoria. Guerras,
terrorismo (a guerra é terrorismo), doenças, miséria, fome, seca. Isso era realidade
de outros continentes, julgava-se, diziam-nos. E agora? Os europeus deixaram
andar, deram liberdade aos que massacraram e exploraram (ainda o fazem) outros
povos, outros territórios. Esses eram os dirigentes europeus, e são. A Europa
seguiu os passos dos EUA, ou os EUA seguiram os passos da Europa? A insegurança
já mora aqui. É a guerra trazida por fanáticos, como fanáticos são os que levam
para os seus territórios a guerra, as doenças, a fome. Tão terroristas são os
que assassinam indiscriminadamente nos Bataclans do mundo como os dirigentes e
corporações ocidentais que constituem máfias de poder, de exploração e morte
nas mais variadas partes deste mundo. Os fanatismos digladiam-se. Os inocentes
perecem ante os terrorismos. O que os povos querem é viver em paz, em harmonia. Só
isso. Usar as palavras em vez da guerra, em vez da violência. As palavras em
vez das balas. A humanidade em vez da desumanidade, da ganância de uns quantos
sobre milhares de milhões de seres humanos. Assim, na Europa, nos EUA, como no
resto do mundo.
Redação
PG
Bom
dia, este é o seu Expresso Curto
Nicolau
Santos – Expresso, opinião
Hoje
não é dia para palavras
Não,
não começo com o habitual bom dia. Depois do que aconteceu na sexta-feira à
noite em Paris, «hoje é um dia reservado ao veneno (…) /é um dia perfeitamente
para cães (…) / não é um dia no seu eixo / não é para pessoas (…)», como
escreveu António José Forte em 1983. Não, depois de 129 mortos em Paris, «(…)
hoje não é um dia para fazer a barba / não é um dia para homens / não é
para palavras». Não, não há bons dias depois de uma noite assim.
Seis ataques lançados em 33 minutos em três locais distintos. 129 mortos, 352 feridos, cerca de 80 com muita gravidade. Sete homens divididos em três equipas. Retaguarda: Molenbeek-Saint-Jean, na região da grande Bruxelas. Os autores de outros atentados também tinham ligações a esta zona. «Há quase sempre um laço com Molenbeek, há ali um enorme problema. Nos últimos meses muitas iniciativas foram tomadas contra a radicalização, mas é necessário também mais repressão», admitiu o primeiro-ministro belga, Charles Michel.
E poderia ter sido evitado este massacre? Consegue-se reconhecer o mal quando o vemos em plena rua? Pelo menos um cidadão francês reconheceu-o quando deu de caras com ele. Ou melhor, com eles. Estacionaram (mal) mesmo em frente à mesa do café onde se encontrava, a 3 minutos do Bataclan. Ele viu os quatro terroristas que atacaram a sala de espetáculos, onde foram massacradas 89 pessoas, duas horas antes do drama. «Pareciam mortos-vivos», diz aquele a quem Le Figaro chama de Christophe, por razões de segurança. «Fui até ao carro dizer-lhes que estavam mal estacionados. Não abriram a janela e olharam-me maldosamente. Pareciam drogados». Pouco depois, começaram o massacre. E três horas depois nenhum deles estava vivo. Nem outros três que também participaram na operação. Fizeram-se explodir ou foram mortos pela polícia. Um deles, segundo o New York Times, tem ascendência portuguesa. Ismael Omar Mostefai, de 29 anos, terrorista francês identificado como um dos responsáveis do ataque à casa de espetáculos Bataclan, em Paris, é filho de mãe portuguesa e pai argelino. Só o oitavo dos implicados está em fuga. Todos (ou quase) tinham nacionalidade francesa. E a polícia belga já deteve sete pessoas. Entretanto, já se sabia que um homem e uma mulher de nacionalidade portuguesa morreram no atentado. O Governo nega para já uma terceira vítima.
Por detrás de tudo está o Daesh, o autoproclamado Estado islâmico. E não há dúvida que declarou guerra aos Estados ocidentais. O presidente francês, François Hollande, entendeu isso mesmo – foi «um ato de guerra», disse – e mandou retaliar. Ontem mesmo, ao final da tarde, Paris assumiu que a sua força aérea tinha atacado a cidade de Raqqa, um feudo do Daesh, destruindo um posto de comando e um campo de treinos.Tanto quanto se sabe, não houve vítimas civis. Entretanto, Hollande fez saber que quer prolongar o estado de emergência por três meses, o que exige uma lei especial a ser aprovada pelo parlamento.
Se quer compreender mesmo tudo o que está em jogo então recomendo-lhe análise que o diretor do Expresso, Ricardo Costa, faz sobre o tema, que intitula «Rushdie, Bombaim, Paris e nós». No Público não perca os textos de Jorge Almeida Fernandes, «O medo e o resto», e de Carlos Gaspar, «O regresso da barbárie». No Diário de Notícias procure o editorial de André Macedo, «A Europa não pode cair», e as colunas de Viriato Soromenho Marques, «Os ingredientes do mal», e de Bernardo Pires de Lima, «Made in ISIS».
Seis ataques lançados em 33 minutos em três locais distintos. 129 mortos, 352 feridos, cerca de 80 com muita gravidade. Sete homens divididos em três equipas. Retaguarda: Molenbeek-Saint-Jean, na região da grande Bruxelas. Os autores de outros atentados também tinham ligações a esta zona. «Há quase sempre um laço com Molenbeek, há ali um enorme problema. Nos últimos meses muitas iniciativas foram tomadas contra a radicalização, mas é necessário também mais repressão», admitiu o primeiro-ministro belga, Charles Michel.
E poderia ter sido evitado este massacre? Consegue-se reconhecer o mal quando o vemos em plena rua? Pelo menos um cidadão francês reconheceu-o quando deu de caras com ele. Ou melhor, com eles. Estacionaram (mal) mesmo em frente à mesa do café onde se encontrava, a 3 minutos do Bataclan. Ele viu os quatro terroristas que atacaram a sala de espetáculos, onde foram massacradas 89 pessoas, duas horas antes do drama. «Pareciam mortos-vivos», diz aquele a quem Le Figaro chama de Christophe, por razões de segurança. «Fui até ao carro dizer-lhes que estavam mal estacionados. Não abriram a janela e olharam-me maldosamente. Pareciam drogados». Pouco depois, começaram o massacre. E três horas depois nenhum deles estava vivo. Nem outros três que também participaram na operação. Fizeram-se explodir ou foram mortos pela polícia. Um deles, segundo o New York Times, tem ascendência portuguesa. Ismael Omar Mostefai, de 29 anos, terrorista francês identificado como um dos responsáveis do ataque à casa de espetáculos Bataclan, em Paris, é filho de mãe portuguesa e pai argelino. Só o oitavo dos implicados está em fuga. Todos (ou quase) tinham nacionalidade francesa. E a polícia belga já deteve sete pessoas. Entretanto, já se sabia que um homem e uma mulher de nacionalidade portuguesa morreram no atentado. O Governo nega para já uma terceira vítima.
Por detrás de tudo está o Daesh, o autoproclamado Estado islâmico. E não há dúvida que declarou guerra aos Estados ocidentais. O presidente francês, François Hollande, entendeu isso mesmo – foi «um ato de guerra», disse – e mandou retaliar. Ontem mesmo, ao final da tarde, Paris assumiu que a sua força aérea tinha atacado a cidade de Raqqa, um feudo do Daesh, destruindo um posto de comando e um campo de treinos.Tanto quanto se sabe, não houve vítimas civis. Entretanto, Hollande fez saber que quer prolongar o estado de emergência por três meses, o que exige uma lei especial a ser aprovada pelo parlamento.
Se quer compreender mesmo tudo o que está em jogo então recomendo-lhe análise que o diretor do Expresso, Ricardo Costa, faz sobre o tema, que intitula «Rushdie, Bombaim, Paris e nós». No Público não perca os textos de Jorge Almeida Fernandes, «O medo e o resto», e de Carlos Gaspar, «O regresso da barbárie». No Diário de Notícias procure o editorial de André Macedo, «A Europa não pode cair», e as colunas de Viriato Soromenho Marques, «Os ingredientes do mal», e de Bernardo Pires de Lima, «Made in ISIS».
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