A
Polícia da República de Moçambique cercou esta terça-feira a delegação da
RENAMO, em Maputo, para impedir a realização de uma marcha alegadamente ilegal.
O partido da oposição diz que a polícia agiu a mando da FRELIMO.
A
manhã desta terça-feira (29.12) foi bastante agitada na delegação da
Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) na cidade de Maputo. Por volta das
nove horas, agentes da Unidade de Intervenção Rápida fortemente armados
bloquearam todas as vias de acesso ao local onde se encontravam cerca de 20
membros do maior partido da oposição, que entoavam canções de exaltação ao seu
líder, Afonso Dhlakama.
Alice
Massingue presenciou o cenário. "Acordámos com o barulho de cães da
Unidade de Intervenção Rápida. Algum tempo depois, apareceram os nossos
vizinhos da RENAMO. E depois vieram quatro blindados e polícias que cercaram
toda a rua. Houve disparos", conta.
O
porta-voz do Comando da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Maputo,
Orlando Mudumane, justifica a medida com o facto de a RENAMO ter insistido em
marchar, ainda que o pedido de autorização tenha sido indeferido pelo Conselho
Municipal, por alegado incumprimento dos prazos de submissão do documento e
falta de clareza quanto ao percurso.
"A
polícia tomou algumas medidas para garantir a ordem e a segurança públicas no
local onde alguns elementos da RENAMO se queriam manifestar, sem terem sido
autorizados pelos Conselho Municipal", explica. Segundo o porta-voz da
PRM, a carta enviada pela RENAMO tinha alguns erros e o Conselho Municipal
recomendou ao partido que voltasse a remetê-la para ter autorização para
realizar a marcha.
Durante
o cerco, que durou cerca de três horas, a PRM deteve seis membros da RENAMO
supostamente por desacato às autoridades. Orlando Mudumane garante que serão
libertados após identificação. "Seis indivíduos foram retidos, não foram
detidos, para identificação policial, porque na altura em que falavam com a
polícia demonstraram algumas atitudes de desonra às autoridades".
"Acção
a mando da FRELIMO"
A
RENAMO nega que tenha tentado marchar sem autorização e acusa a polícia de agir
a mando da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO, no poder), para
intimidar o exercício democrático no país.
A
deputada do maior partido da oposição em Moçambique, Ivone Soares, explica que
a intenção era encerrar o ano político com um encontro com vendedores informais
do mercado Estrela, próximo da sede da RENAMO.
"[Sentindo-se]
ameaçada com esta atividade, a FRELIMO montou um esquema de impedimento desta
atividade, que consistiu no bloqueio das principais vias de acesso à delegação
política provincial, colocaram blindados e a polícia canina no local da reunião
e lançaram gás lacrimogéneo para dispersar as pessoas que tinham resistido a
estas sevícias e tinham decidiu permanecer no terreno".
Ivone
Soares classifica de infundados os argumentos apresentados pela polícia e
refere que o seu partido não foi notificado para resolver os problemas que
levaram ao indeferimento do pedido.
"Se
acham que houve algum elemento em falta para se poder viabilizar a realização
da atividade na sua plenitude, no mínimo contactavam o delegado político
provincial na cidade de Maputo" para informá-lo de que faltavam elementos
para a atividade ser autorizada, defende a deputada. "O próprio município,
se tinha alguma dúvida, por que é que não chamou as pessoas que submeteram o
pedido para dissipar todas as dúvidas?", pergunta ainda.
A
RENAMO refere ainda que os seis membros foram detidos apenas por envergarem
camisetes estampadas com a fotografia de Afonso Dhlakama.
Ernesto
Saúl (Maputo) – Deutsche Welle
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