Redação, 21 set
(Lusa) -- Cronologia dos principais momentos que marcaram a campanha de
desobediência civil em prol do sufrágio universal em Hong Kong, nos últimos 15
meses.
Atualmente, a
população de Hong Kong escolhe em sufrágio universal apenas metade dos 70
elementos do Conselho Legislativo, sendo que o chefe do Executivo é eleito por
um comité de 1.200 membros.
2014
10 junho: Pequim
publica um "Livro Branco" sobre Hong Kong em que reafirma o seu
controlo e soberania sobre a cidade.
30 junho: 800.000
pessoas votam a favor de maiores liberdades democráticas num referendo não
oficial organizado pelo movimento Occupy Central (criado em 2013) sobre a
reforma eleitoral em Hong Kong.
01 julho:
Manifestação anual por ocasião do aniversário da transição de Hong Kong da
Grã-Bretanha para a China em 1997. A organização fala no maior protesto de
sempre, com a participação de meio milhão de pessoas; os números oficiais
apontam 98.600 participantes. Polícia detém 511 pessoas que se recusaram a
abandonar o distrito financeiro de Hong Kong, após a manifestação.
17 agosto: Milhares
de pessoas participam numa manifestação pró-Governo em Hong Kong, em oposição
ao movimento Occupy Central.
26 agosto: O jornal
do Partido Comunista chinês Global Times insta à tomada de "medidas
coercivas" contra os manifestantes em Hong Kong.
31 agosto: É
conhecida a decisão do Comité Permanente da Assembleia Nacional Popular, com a
China a insistir no seu direito de vetar os candidatos às próximas eleições
para o chefe do Executivo, em 2017. Em resposta, o movimento Occupy Central e
outros grupos comprometem-se a embarcar numa "era de desobediência
civil".
22 setembro:
Estudantes iniciam uma semana de boicote às aulas. Dias mais tarde, alguns
invadem a zona da sede do governo. A polícia usa gás pimenta para dispersar os
manifestantes, que se defendem e protegem dos químicos usando guarda-chuvas,
que passam a ser o símbolo do movimento.
28 setembro: Com
partes do complexo do governo sitiado, o movimento Occupy Central junta-se aos
estudantes e começa a sua campanha de desobediência civil. Pelo menos cinco
ativistas, incluindo três deputados, são detidos.
29 de setembro: As
autoridades de Hong Kong anunciam a retirada da polícia antimotim das ruas
tomadas pelos manifestantes. A polícia diz ter recorrido por "87
vezes" a gás lacrimogéneo.
01 de outubro:
Milhares de pessoas juntam-se às manifestações aproveitando o feriado do Dia
Nacional da China. Os estudantes fazem um ultimato ao chefe do Executivo,
exigindo a sua demissão, mas CY Leung recusa.
03 outubro: A
polícia detém 19 pessoas suspeitas de ligações a tríades (associações
criminosas tradicionais chinesas) depois de uma série de ataques aos
manifestantes pró-democracia.
04 de outubro:
Milhares voltam a encher as ruas. CY Leung apela à desmobilização dos
manifestantes, afirmando que a sede do governo e principais artérias da cidade
devem ser desbloqueadas até segunda-feira, dia 06.
Pequim reafirma o
seu apoio à atuação da polícia de Hong Kong.
05 outubro: O
Occupy Central anuncia a retirada de alguns locais de protesto, mas os líderes
estudantis mantêm que a ocupação das principais artérias vai continuar.
07 outubro:
Desmobilização cresce com perspetiva de diálogo. A primeira ronda de
negociações é marcada 10 de outubro, mas a data acaba por ser desmarcada.
14 outubro: A
polícia reabre ao trânsito parte da zona ocupada após retirar as barricadas
instaladas pelos manifestantes pró-democracia em volta do Centro Comercial Sogo,
em Causeway Bay, um dos locais de protesto. Operação decorre sem incidentes.
16 outubro: A
organização Chinese Human Rights Defenders (CHRD) revela que mais de 60 pessoas
foram detidas na China até esta data por apoiarem os protestos pró-democracia
em Hong Kong, em curso há três semanas.
Um grupo de
jornalistas da estação televisiva de Hong Kong TVB acusa, em carta aberta, a
direção de informação de ter alterado o vídeo que captou a agressão da polícia
ao membro do Partido Cívico Ken Tsang, "deturpando a verdade".
17 outubro: A
polícia de Hong Kong desmantela um acampamento de manifestantes pró-democracia,
no bairro de Mong Kok. Horas mais tarde, a polícia volta a carregar sobre
manifestantes pró-democracia, que tentaram regressar à zona de onde tinham sido
retirados.
29 outubro: A
Federação de Estudantes de Hong Kong exige ao Governo negociar diretamente com
o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang.
03 novembro: O
último governador de Hong Kong, Chris Patten, afirma que o Governo britânico
não fez um bom trabalho na introdução da democracia antes da transferência do
território para a China.
10 novembro: O
Supremo Tribunal de Justiça autoriza os polícias a ajudarem os oficiais de
justiça a executarem as ordens de despejo das zonas ocupadas.
12 novembro: Barack
Obama diz, em Pequim, que os Estados Unidos não desempenham nenhum papel nos
protestos pró-democracia em Hong Kong.
15 novembro: Três
dirigentes da Federação dos Estudantes de Hong Kong são impedidos de embarcar
num avião para Pequim, onde pretendiam discutir "a reforma política"
e "a questão de 'Um país, dois sistemas'".
Uma notificação do
tribunal de Hong Kong a ordenar o despejo dos manifestantes pró-democracia de
um dos locais de protesto é publicada nos principais jornais locais,
autorizando as autoridades a intervir.
18 novembro: Os
manifestantes pró-democracia não oferecem resistência às autoridades que
começam a desimpedir as ruas em Admiralty.
Manifestantes e
polícia entram em confronto depois de um grupo de cerca de 12 pessoas ter
tentado invadir o Conselho Legislativo. Quatro pessoas são detidas.
19 novembro:
Polícia anuncia que pelo menos 3.000 agentes -- mais de um décimo da força
policial de 28.000 agentes -- serão enviados para ajudar a reabrir as ruas o
bairro em Mong Kok.
25 novembro: Dezenas
de agentes judiciais e polícias removem mais barricadas no bairro de Mong Kok.
Os líderes estudantis Joshua Wong (Scholarism) e Lester Shum (Federação dos
Estudantes) figuram entre os mais de cem detidos da operação. Pelo menos 20
pessoas ficam feridas.
29 novembro:
Confrontos entre manifestantes pró-democracia e polícia resultam em dez feridos
e 28 detidos, após quatro noites de tensão no bairro de Mong Kok.
30 de novembro:
Polícia usa gás pimenta para afastar centenas de manifestantes que tentavam cercar
a sede do governo, em Admiralty. Pelo menos 40 pessoas são detidas; quatro
polícias ficaram feridos.
01 dezembro: O
chefe do Executivo de Hong Kong, CY Leung, diz que os protestos pró-democracia
foram "em vão".
02 dezembro: Os
três fundadores do movimento Occupy Central pedem aos manifestantes
pró-democracia para se retirarem das áreas ocupadas e anunciam que se vão
entregar à polícia.
03 dezembro: Os
três líderes do Occupy Central saem em liberdade uma hora depois de terem
entrado voluntariamente na esquadra da polícia para assumirem as consequências
pelos protestos pró-democracia. Um deles diz que o movimento Occupy Central vai
assumir uma nova abordagem para promover a causa do sufrágio universal, através
de ações educativas.
11 dezembro:
Polícia de Hong Kong desmantela o principal local de protestos pró-democracia,
em Admiralty. São detidas 247 pessoas.
12 dezembro: O
jornal oficial China Daily escreve em editorial que a "revolução dos
guarda-chuvas" foi "derrotada" e alerta para "forças
hostis" domésticas e estrangeiras que querem destabilizar a cidade.
15 dezembro: A
polícia desmantela o derradeiro acampamento dos manifestantes pró-democracia,
em Causeway Bay. Pelo menos 17 pessoas são detidas.
2015
08 janeiro: Joshua
Wong e outros 28 ativistas comparecem numa audiência preliminar no Tribunal de
Última Instância para analisar alegadas tentativas de impedimento da remoção
das barricadas nos locais de protesto, em novembro.
01 fevereiro:
13.000 pessoas saem novamente para a rua, mas os números ficam aquém das
expectativas, já que eram esperadas 50.000.
22 abril: O governo
de Hong Kong anuncia o plano de reforma política, com a metodologia sugerida
para a eleição do chefe do Executivo a não oferecer concessões ao campo
pró-democrata.
31 maio: Deputados
pró-democratas dizem que vão vetar a proposta do governo.
18 junho: O pacote
de reforma política é rejeitado no Conselho Legislativo, com 28 votos contra. A
maioria dos deputados pró-Pequim abandona a sala onde decorria a votação;
apenas oito votaram a favor da proposta de lei.
O documento previa
a introdução do sufrágio universal nas eleições para o chefe do Governo em
2017, mas só depois de uma pré-seleção de dois a três candidatos.
01 julho:
Manifestação realizada anualmente por ocasião do aniversário da transição de
soberania da Grã-Bretanha para a China em Hong Kong regista a mais baixa adesão
desde 2008. A organização anuncia 48.000 e as autoridades 19.650.
12 julho: A
Associação de Jornalistas de Hong Kong publica relatório anual no qual declara
que os profissionais da imprensa foram alvo de ataques "sem
precedentes", com mais de 30 jornalistas assediados ou fisicamente
agredidos, tanto por manifestantes como pela polícia, durante os protestos
pró-democracia em 2014.
14 julho: Joshua
Wong (Scholarism), Nathan Law (atual secretário-geral da Federação de
Estudantes de Hong Kong) e outros dois ativistas (Raphael Wong e Albert Chan)
são acusados de obstrução à polícia no âmbito de um protesto pacífico
anti-China realizado em junho de 2014. Nesta manifestação foi queimada uma
cópia do "Livro Branco" de Pequim sobre Hong Kong. O julgamento foi
adiado para 26 de outubro.
21 julho: Dois
secretários do Governo de Hong Kong (da Administração Interna e da Função
Pública) anunciam que vão abandonar os cargos.
27 agosto: Joshua
Wong, Nathan Law e Alex Chow (antigo dirigente da Federação) são acusados de
reunião ilegal e incitação para participar em reunião ilegal num protesto a 26
de setembro de 2014, em que alguns manifestantes saltaram as grades metálicas e
entraram na Praça Cívica, junto à sede do Governo.
02 setembro: Os
três líderes estudantis começam a ser julgados pelo envolvimento no protesto de
26 de setembro do ano passado que dois dias mais tarde deu origem à ocupação
das ruas durante 79 dias. O caso é adiado para 30 de outubro.
FV (DM/ISG/JCS/PAL/
CSR/ RN/ PSP) // PJA