Macau, China, 20
set (Lusa) - Organizações internacionais de defesa dos animais criticaram o
chefe do Governo de Macau que, na semana passada, disse que "não é
justo" encerrar "de um dia para o outro" o canídromo, cujo
contrato de concessão termina em dezembro.
"Compreendo
que Chui Sai On tem de ter muitos fatores em consideração, mas a história das
corridas de cães em Macau deve, de facto, ser um dos motivos mais fortes para
apoiar o encerramento do canídromo", afirmou, em resposta à agência Lusa,
Lyn White, representante da Animals Australia, uma das nove organizações
envolvidas na campanha para encerrar a pista de corrida de galgos.
Lyn White reagia às
palavras do líder do executivo de Macau que, na quinta-feira, sugeriu que o
canídromo pudesse não ser encerrado no final do ano, ao fim de 50 anos de
funcionamento.
"A indústria
de jogo foi sempre a indústria principal de Macau. As corridas de galgos têm a
sua história e são uma componente importante para a diversificação do setor.
Não é de um dia para o outro que vamos suspender as corridas de galgos, isso
também não é justo", disse aos jornalistas, indicando, ao mesmo tempo, que
foi encomendado um estudo sobre o assunto a uma universidade local.
A representante da
maior organização de defesa dos animais da Austrália, de onde chegam a maioria
dos cães que correm em Macau, lembrou que "há mais de quatro décadas que
[o canídromo] mantém dezenas de milhares de cães em condições miseráveis e
inapropriadas, ao mesmo tempo que matou milhares de animais cujo único 'crime'
foi não correrem rápido o suficiente".
Lyn White disse
ainda que, mesmo sabendo que o prazo da concessão estava a chegar ao fim, os
operadores do canídromo, a Companhia de Corridas de Galgos de Macau (Yat Yuen),
"falharam em apresentar uma única razão legítima para que continue a
operar" e, assim sendo, "a não renovação da concessão não pode ser
vista como súbita ou injusta".
"O facto de o
canídromo continuar descaradamente a importar cães, sabendo que as instalações
podem vir a fechar, revela como não se importam com as vidas e o bem-estar
destes animais. Pedimos a Chui Sai On que suspenda imediatamente a importação
de mais galgos para Macau, enquanto os estudos encomendados pelo Governo estão
a ser conduzidos", apelou.
Reação semelhante
teve a presidente da Grey2K USA, Christine Dorchak: "O canídromo é a pior
pista de corrida de cães do mundo porque nenhum cão sai de lá vivo".
Reafirmando os
esforços da organização norte-americana para o encerramento do canídromo,
Dorchak lembrou a vigília que se realiza no dia 30 deste mês, em homenagem aos
galgos de Macau e que vai decorrer em 26 cidades mundiais.
Nestas vigílias,
será lida uma carta do presidente da associação local Anima, Albano Martins.
O documento indica
que cerca de 30 animais são mortos por mês no canídromo, quando deixam de ser
competitivos. "Só nos últimos dez anos, estimamos que o número de animais
mortos chegou aos 4.000", lê-se na carta, que termina com um pedido de
apoio à petição que insta o Governo de Macau a não renovar a concessão, uma
campanha já com 340 mil apoiantes.
Além das questões
do bem-estar animal - a Anima estima que só este ano tenham sido abatidos 160 a
170 cães -, Albano Martins invocou ainda motivos de ordem financeira e
comunitária.
O canídromo está
localizado na zona norte da cidade, a mais densamente populosa do mundo, onde
escasseiam espaços públicos. "Qual é a razão para que uma área daquelas,
que não tem equipamentos sociais, que não tem zonas verdes, continue a ter às
suas portas animais a ganir a noite inteira e, sobretudo, instalações
totalmente degradadas, e uma das pistas consideradas das piores do mundo",
questionou.
O canídromo paga
também menos impostos que os outros espaços de jogo, disse Martins: 25% ao
invés de cerca de 40%. Para o presidente da Anima, só com esta benesse é que o
espaço pode operar.
ISG // VM
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