terça-feira, 29 de setembro de 2015

A OTSC CHEGA AO IRAQUE E À SÍRIA



Thierry Meyssan*

A intervenção da OTSC contra o terrorismo no Iraque e na Síria pode ser o início de uma ordem mundial fundada na cooperação e na defesa das populações ou, pelo contrário, de um período de enfrentamento Leste-Oeste no qual o Ocidente apoiaria abertamente o terrorismo. Contráriamente a uma ideia feita, esta implementação militar visa menos defender o Iraque e a República Árabe Síria que os Estados-membros da OTSC, eles próprios. Não é, portanto, negociável. Os debates na Assembleia Geral da Onu e no Conselho de Segurança a 30 de setembro permitirão saber a resposta de Washington e de seus aliados à OTSC. Seja como for, nada voltará mais a ser como dantes.

Enquanto a imprensa ocidental persiste na discussão sobre um possível apoio militar russo ao presidente Bachar al-Assad, a Organização do Tratado de Segurança Colectiva (OTSC) decidiu combater o terrorismo no Iraque e na Síria.

Parece que os Ocidentais não compreenderam, ainda, as consequências da sua política.

Uma questão existencial para a OTSC

Recordemos que a OTSC é uma aliança militar clássica de seis antigos Estados membros da União Soviética: a Bielorússia, a Rússia, a Arménia, o Tajiquistão, o Cazaquistão, o Quirguistão. Ao contrário da Otan, e do que se passava no Pacto de Varsóvia, nos quais os Estados-membros perdem a sua soberania (em favor dos EUA e do Reino Unido na Otan, e da antiga URSS no Pacto de Varsóvia —o que viola a Carta das Nações Unidas—), os Estados membros da OTSC conservam a sua total soberania, não colocam os seus exércitos sob o comando da principal potência da sua aliança, e podem-se se dessolidarizar a qualquer momento desta aliança. O Azerbaijão, a Geórgia e o Usbequistão retiraram-se, assim, livremente desta organização para se virarem para o Guam e a Otan.

Desde os anos 80, —antes mesmo que existissem os Estados-membros da OTSC— os Estados Unidos e a Otan colocaram um sistema de mísseis, primeiro virado contra a URSS, que actualmente cerca a OTSC. Estes mísseis, supostamente capazes de conseguir destruir os mísseis intercontinentais inimigos na sua fase de lançamento, só podem, na realidade, destruir aeronaves operando a baixa velocidade, e de nenhum modo os mísseis hipersônicos russos. Apresentados pelo Pentágono como uma arma defensiva— o que seriam talvez na origem –, este «escudo anti-míssil» só pode, pois, ter uma utilização ofensiva. A OTSC é o único grupo de Estados no mundo a ser, assim, directamente ameaçado por mísseis a si apontados, colocados à beira das suas fronteiras.

Desde a Segunda Guerra mundial, a URSS, depois os Estados-membros da OTSC, têm assistido ao recrutamento dos Irmãos Muçulmanos pela CIA, e ao emprego de alguns dos seus membros, ou antigos membros, pelos Estados Unidos para os desestabilizar [1]. Deste modo, os homens de Oussama Ben Laden (formado pelo irmão de Sayyid Qutb) e de Ayman al-Zaouahiri (o qual tinha aderido à Confraria um ano antes da prisão e execução de Sayyid Qutb) combateram a URSS no Afeganistão, depois a Rússia na Jugoslávia, e por fim sobre o seu próprio território, no Cáucaso [2].

Em 2011, os Estados-membros da OTSC assistiram a uma operação da Otan, a «Primavera Árabe», visando derrubar tanto os regimes inimigos como amigos no Médio-Oriente em proveito dos Irmãos Muçulmanos (Tunísia, Egipto , Líbia, Síria). E, desde 2014, eles assistem ao triunfo do ideal da Irmandade Muçulmana, com a proclamação de um Califado colocando em causa tanto o direito internacional como os direitos humanos. Actualmente, este Califado confiou a maior parte dos seus cargos de chefia a islamitas vindos da antiga URSS, por vezes mesmo de países membros da OTSC.

A 1 de Agosto, a Ucrânia e a Turquia (membro da Otan) anunciaram a criação de uma «Brigada Islamista Internacional», formada de combatentes da al-Qaida e do Daesh, e estacionados em Kherson (na Ucrânia) [3]. Esta brigada propõe-se combater a Rússia na Crimeia.

Por outras palavras, salvo se agir já agora contra o terrorismo, a OTSC terá em breve que enfrentar, ao mesmo tempo, tanto um inimigo externo, a Otan e os seus mísseis, como um inimigo interno, os islamitas, desde o início preparados pela Otan.

A reunião da OTSC em Duchambé

A 15 de setembro, a OTSC realizou a reunião anual dos seus chefes de Estado em Duchambé (Tajiquistão). Tal como eu o havia anunciado há um mês [4], o presidente russo, Vladimir Putin, apresentou aos seus colegas as avaliações realizadas pelos seus exércitos sobre a possibilidade de combater, já agora, o califado, antes que ele se infiltre massivamente no território da OTSC.

O Presidente Putin tinha, préviamente, conseguido convencer os seus parceiros que ele não pretendia envolvê-los no apoio a supostas ambições da Rússia na Síria, mas antes, sim, a responder a uma ameaça directamente apontada contra a OTSC.

Em última análise, a OTSC decidiu intervir no Iraque e na Síria para lutar contra o conjunto dos jiadistas, quer eles afirmem apoiar o Daesh ou a al-Qaida. Esta operação é legal à luz do direito internacional, já que ela atende às resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas relativas à luta contra o terrorismo. Ele prolonga aliás a operação, também legal, da Coligação (Coalizão-br) formada pelos Estados Unidos unicamente contra o Daesh.

No entanto, ao contrário desta Coligação, a OTSC mantêm boas relações, ao mesmo tempo, com os governos iraquiano e sírio, o que lhe permite pensar numa eficácia muito maior.

A fim de preparar a intervenção da OTSC, um corredor aéreo foi instalado entre a Organização e a Síria. À partida ele devia passar sobre os Balcãs, mas os aliados dos Estados Unidos opuseram-se, à excepção da Grécia. Este corredor foi, pois, instalado por cima do Irão e do Iraque. Em menos de uma semana enormes, e importantes, quantidades de material e mais de 2 000 homens foram para lá transportados. Técnicamente, a OTSC dispõe da capacidade para colocar até 50 000 homens em menos de duas semanas.

O fórum das Nações Unidas

Por preocupação com a eficácia, e sem prejudicar a boa ou má fé ocidental, os Chefes de Estado da OTSC previram intervir perante a Assembleia-geral da Onu (a partir de 28 de setembro), afim de lançar um apelo à união de esforços da comunidade internacional contra o terrorismo.

Além disso, presidindo a Rússia ao Conselho de Segurança durante o mês de setembro, Vladimir Putin —que não veio à Onu durante uma década— presidirá à sessão de 30 de setembro consagrada à luta contra o terrorismo no Iraque e na Síria.

No caso da Coligação e a OTSC chegarem a um acordo, elas poderiam tomar medidas conjuntas ou repartir as tarefas (o Iraque para a Coligação, e a Síria para a OTSC). Em caso contrário, as duas organizações conduziriam campanhas separadas tentando não se incomodar mutuamente.

Do ponto de vista atlantista, a campanha da OTSC beneficiará a República Árabe Síria e garantirá a continuação do mandato do presidente eleito Bashar al-Assad que a Otan desejava derrubar. No entanto, é falso pretender que esta intervenção fosse concebida para salvar a Síria do Ocidente. Com efeito, durante a preparação da Conferência de Genebra, em Junho de 2012, o Presidente Putin havia encarado implantar a OTSC como força de manutenção de paz [5]. O General Hassan Tourekmani, na altura presidente do Conselho de Segurança Nacional Sírio, tinha tomado várias medidas para a acolher. No entanto, essa implantação não teve lugar por um lado porque a Organização não tinha, ainda, assinado um acordo com a Onu [6], e, por outro lado, porque dois membros da OTSC não se sentiam então directamente ameaçados pela situação na Síria.

Do ponto de vista da OTSC, a proposta feita aos Ocidentais irá forçá-los a clarificar a sua política. De facto, até à assinatura do acordo entre Washington e Teerão, a 14 de julho, a Coligação anti-Daesh, longe de lutar contra o terrorismo, lançou regularmente de pára-quedas, e em grande escala, armas para os jiadistas. No entanto, no decurso das últimas semanas a Coligação combateu efectivamente o Daesh. Assim, ela lançou, no final de julho, um bombardeio maciço em coordenação com o Exército Árabe Sírio e as suas milícias (o PYG curdo e o Conselho militar assírio) para defender Hasaka. Esta operação, que a Coligação não publicitou, permitiu eliminar cerca de 3.000 jiadistas.

Além disso, a Casa Branca indicou já que estava receptiva «para as discussões tácticas e práticas com os Russos». O Foreign Office (Ministério dos Estrangeiros Britânico- ndT) declarou não se opôr mais a que «o presidente sírio permaneça no poder por um período de transição, se isto puder contribuir para resolver o conflito». Juntando-se ao movimento, o ministro francês dos Negócios Estrangeiros deu a entender que aceitaria deixar o presidente al-Assad terminar o mandato, que o seu povo lhe confiou, declarando: «Vamos dizer ao povo sírio que Bashar al-Assad ficará no poder executivo ao longo dos próximos quinze anos? Se dissermos isso, não há solução possível. Entre dizer isso e exigir a saída imediata de Bashar al-Assad há uma margem. Chama-se a isso diplomacia» [7].

Consequências da intervenção da OTSC

Contráriamente a uma falsa ideia, espalhada na imprensa atlantista, a luta contra o terrorismo no Iraque e na Síria não será um problema de décadas, mas de alguns meses contanto que todos os Estados retirem o seu apoio clandestino aos jiadistas.

Em caso de desacordo na Onu, a imprensa ocidental deverá denegrir a acção da OTSC enfatizando as vítimas civis. Com efeito, apesar de todas as precauções, não é possível bombardear os terroristas sem causar «danos colaterais». Cada chefe islamista dispõe de três «esposas» e, seguindo o seu exemplo, jiadistas, em maior número cada vez mais, fizeram prisioneiras que reduziram à escravatura e «desposaram»

No caso contrário, jamais se deverá ouvir falar destas vítimas e a guerra deverá estar acabada na Síria pela altura do Natal ortodoxo, mesmo que seja necessário um bom ano antes que a situação fique completamente estabilizada sobre o conjunto do território.

A reter : 

- A OTSC intervirá, a partir de outubro de 2015, ao mesmo tempo no Iraque e na Síria, contra os indivíduos classificados como «terroristas» pela Onu, ou seja a al-Qaida, o Daesh e todos os grupos que se lhes aliaram. 

- A OTSC não visa vir em ajuda de Haïder al-Abadi ou de Bachar el-Assad, já que é directamente ameaçada pelos jiadistas. 

- Os jiadistas não estão à altura de resistir, durante muito tempo, a uma aliança internacional se esta incluir o Iraque e a Síria. 

- Os Estados Unidos, que conduziram já secretamente uma vasta operação conjunta com o Exército Árabe Sírio em Hasaka, estão prontos para um acordo com a OTSC. Os seus aliados britânico e francês estão prontos para renunciar a derrubar a República Árabe Síria.

Thierry Meyssan* - Tradução Alva - Voltaire.net

*Intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana e russa. Última obra em francês: L’Effroyable imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand, 2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y desinformación en los medios de comunicación (Monte Ávila Editores, 2008).

Notas
[1] A Mosque in Munich. Nazis, the CIA and the rise of the Muslim Brotherhood in the West («Uma Mesquita em Munique. Os nazis, a CIA e a ascensão dos Irmãos Muçulmanos no Ocidente»- ndT), por Ian Johnson, Houghton Mifflin Harcourt, 2010. Versão em francês por Albin Michel, 2011.
[2] A Irmandade Muçulmana foi fundada por Hassan el-Bana, o qual desejava restabelecer o califado após a queda do Império Otomano. Eles apresentam o Islão, ao mesmo tempo, como religião e como sistema político totalitário, enquanto recusam qualquer dimensão espiritual na sua interpretação do Corão. Sayyid Qutb teorizou a utilização da violência com vista a alcançar o poder, a Jiade. Muito embora oficialmente os Irmãos tenham condenado os escritos de Qutb, após a sua morte, ele permanece como o pensador de referência no seio da Confraria.
[3] “A Ucrânia e a Turquia criam uma brigada muçulmana internacional”, Tradução Alva, Rede Voltaire, 4 de Agosto de 2015. Mais detalhes em : «L’Ukraine et la Turquie créent une Brigade internationale islamique contre la Russie », par Thierry Meyssan, Réseau Voltaire, 12 agosto 2015.
[4] “O exército russo começa a envolver-se na Síria”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 24 de Agosto de 2015.
[5] « Syrie : Vladimir Poutine propose une Force de paix de l’OTSC » («Síria : Vladimir Putin propõe força de paz da OTSC»- ndT), Réseau Voltaire, 3 juin 2012.
[6] “A OTSC poderá colocar «chapkas azuis» sob mandato da ONU”, Tradução Alva, Rede Voltaire, 3 de Outubro de 2012.
[7] « Audition de Laurent Fabius au Sénat sur les minorités persécutées au Moyen-Orient » («Audição de Laurent Faabius no Senado sobre as minorias perseguidas no Médio-Oriente»- ndT), par Laurent Fabius, Réseau Voltaire, 9 septembre 2015.

AINDA PODEMOS SALVÁ-LO DA DECAPITAÇÃO!



A Arábia Saudita está prestes a decapitar um rapaz de 21 anos de idade e crucificá-lo em praça pública. Este mesmo país acaba de ser escolhido para chefiar um painel do Conselho de Direitos Humanos da ONU. Seria cômico se não fosse trágico! 

Preso aos 17 anos, Ali Mohammed al-Nimr foi torturado e condenado à prisão por participar de manifestações contra o governo. O caso do jovem, porém, não é uma exceção no país: apenas neste ano, a Arábia Saudita já condenou à morte mais de cem pessoas, o que significa uma execução a cada dois dias.

A França exige que o país suspenda a execução de Ali, e os Estados Unidos, a Alemanha e o Reino Unido também mantêm relações muito próximas com o regime. Portanto, a melhor maneira de fazer alguma coisa pelo jovem é canalizar nossa indignação para os líderes destes países, e fazê-los pressionar os aliados sauditas. Basta assinar agora para ajudar a salvar Ali, que pode ser decaptado a qualquer momento:

https://secure.avaaz.org/po/stop_saudi_beheadings_loc/?beKPeib&v=65559

Na ONU, a Arábia Saudita agora comanda o comitê que supervisiona nomeações de relatores especiais ou peritos independentes, o que é um absurdo diante do caso hediondo de Ali. De acordo com especialistas em direitos humanos, trata-se de uma "execução arbitrária" cuja condenação aconteceu quando o jovem ainda era menor de idade, o que é proibido segundo a convenção internacional sobre os direitos da criança. Além disso, Ali é sobrinho de um proeminente clérigo xiita, também condenado à morte.

A menos que a comunidade internacional se dê conta do alto custo desta decisão, a execução será levada a cabo.

Os governos dos países citados acima têm uma relação comercial suja, porém muito próxima com a Arábia Saudita, seja vendendo armas para o país ou comprando petróleo dele, ou ambos. Sabemos que a opinião deles pesa. No início deste ano, fizemos uma campanha pedindo que o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Sigmar Gabriel, pedisse às autoridades sauditas que adiassem a execução do blogueiro Raif Badawi. Gabriel atendeu ao pedido e hoje Badawi continua vivo, embora apodrecendo na prisão.

Vamos fazer com que estes países pressionem os sauditas para suspender a execução. E, em seguida, vamos exigir que eles desafiem o papel da Arábia Saudita no Conselho de Direitos Humanos da ONU. Basta assinar agora para ajudar a salvar a vida deste jovem:

https://secure.avaaz.org/po/stop_saudi_beheadings_loc/?beKPeib&v=65559

Quando governos repressores violam direitos humanos básicos, nossa comunidade se mobiliza para ajudar a deter as atrocidades. Agora, vamos nos unir agora pela vida de Ali.

FONTES
Este jovem saudita pode ser decapitado a qualquer momento (Exame)
http://exame.abril.com.br/mundo/noticias/este-jovem-saudita-pode-ser-decapitado-a-qualquer-momento
Mobilização à volta do jovem saudita condenado à morte (rfi)
http://www.portugues.rfi.fr/mundo/20150924-mobilizacao-volta-do-jovem-saudita-condenado-morte
Jovem de 21 anos é condenado à decapitação e crucificação na Arábia Saudita (Época)
http://epoca.globo.com/tempo/filtro/noticia/2015/09/jovem-de-21-anos-e-condenado-decapitacao-e-crucificacao-na-arabia-saudita.html
Especialistas independentes da ONU pedem que Arábia Saudita acabe com pena de morte de crianças (ONU)
http://nacoesunidas.org/especialistas-independentes-da-onu-pedem-que-arabia-saudita-acabe-com-pena-de-morte-de-criancas/
Pai de jovem saudita condenado à morte pede clemência ao rei (Zero Hora)
http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2015/09/pai-de-jovem-saudita-condenado-a-morte-pede-clemencia-ao-rei-4854377.html 

Avaaz

*A Avaaz é uma rede de campanhas global de 41 milhões de pessoas que se mobiliza para garantir que os valores e visões da sociedade civil global influenciem questões políticas nacionais e internacionais. ("Avaaz" significa "voz" e "canção" em várias línguas). Membros da Avaaz vivem em todos os países do planeta e a nossa equipe está espalhada em 18 países de 6 continentes, operando em 17 línguas. Saiba mais sobre as nossas campanhas aqui, nos siga no Facebook ou Twitter.

Para entrar em contato com a Avaaz escreva para nós no link www.avaaz.org/po/contact
.

JÁ COMERAM A CARNE DOS PORTUGUESES, AGORA QUEREM ROER-LHES OS OSSOS



Guardado para depois das eleições legislativas, os aumentos de impostos e de tudo o que mais convier para os que já comeram a carne dos portugueses mas que também querem comer-lhes os ossos. Insaciáveis, governo português, UE e FMI, aguardam desfecho das eleições do próximo dia 4 para desferir mais uns quantos golpes dos seus insaciáveis apetites. Registe-se que com o ámen do faz-de-conta de presidente da República Portuguesa, Cavaco Silva. Assim acontecerá caso a coligação de direita vença as eleições. Preparemo-nos para ver Portugal continuar a ser devorado pelos canibais que enxameiam as hostes de servidores do capitalismo selvagem que tudo quer e tudo pode… se não reagirmos e negarmos as lautas refeições em que querem transformar os portugueses e todos os cidadãos dos países que tenham fieis servidores da mesma espécie de Cavaco, de Passos, de Portas ou de Maria Luís – para referir os de maior relevo. Fiquemos atentos. Eles comeram-nos a carne, agora querem roer-nos os ossos. Eis o moderno canibalismo.

Redação PG / MM

Bruxelas: Portugal pode aumentar impostos para garantir sustentabilidade das contas públicas

Portugal necessita de melhorar a sustentabilidade das finanças públicas, e tem alguma margem para o fazer através de um aumento de impostos, sustenta o relatório de 2015 sobre reformas fiscais nos Estados-membros hoje divulgado pela Comissão Europeia.

O documento, publicado pelas direções-gerais de Assuntos Económicos e Financeiros e de Fiscalidade, aponta que Portugal (assim como Irlanda, Croácia e Eslovénia) apresenta um "risco elevado" de sustentabilidade a médio prazo e necessita de atuar, sendo um dos caminhos possíveis um aumento de impostos, mas não sobre o trabalho, para não prejudicar a retoma.

Segundo a análise feita pela Comissão, os Estados-membros que têm uma carga tributária relativamente baixa, grupo no qual inclui Portugal, podem recorrer a um aumento dos impostos "menos distorcivos" em termos de mercado ou "mais amigos do crescimento", como impostos sobre o consumo ou impostos ambientais, para enfrentar os riscos de sustentabilidade dos cofres públicos.

Admitindo que os impostos sobre o trabalho têm ou podem ter um efeito negativo sobre o crescimento e o emprego, o estudo da Comissão Europeia adverte todavia que o número de Estados-membros que, em função dos indicadores económicos atuais, têm margem para os diminuir é "reduzido", e Portugal não faz parte desse grupo.

"Atendendo a que as finanças públicas estão sob pressão em muitos Estados-membros, e de modo a não colocar a sustentabilidade orçamental em risco, uma redução dos impostos sobre o trabalho teria que ser financiada através de uma redução da despesa pública ou aumentando receitas alternativas", sustenta o relatório.

Lusa, em Dinheiro Vivo

Portugal. Contas da Parvalorem provam “manigância” e “esquemas” do Governo - Jerónimo



Secretário-geral do PCP diz que ao fazer “manigâncias” para esconder mais um buraco nas contas do BPN, o Governo falhou no plano ético.

Jerónimo de Sousa considera o caso das contas alteradas da Parvalorem para melhorar o défice de 2012 como mais um exemplo das “operações criativas de contabilidade para esconder a verdade do que foi aquele escândalo”.

“Temos vindo a verificar que o tratamento estatístico e contabilístico, esta arte de substituir a verdade por esquemas, não é novidade neste Governo. Creio é mais um elemento e isso tem importância”, afirmou o líder da CDU aos jornalistas no final de uma arruada na Parede (Oeiras).

“É o Governo da República, tem que de ser pessoas de bem, e fazer essa manigância só para esconder aos olhos dos portugueses mais um pequeno buraco – pequeno entre aspas, no todo do BPN é pequeno – demonstra que também no plano ético este Governo falhou”, acrescentou Jerónimo.

Depois de na semana passada se saber que o défice de 2014 vai ficar bem acima do previsto por ter de contabilizar o impacto da transferência para o BES/Novo Banco, a Antena 1 noticiou esta terça-feira que as contas de 2012 não estavam correctas porque não foram contabilizados 157 milhões de euros de imparidade na holding que tem os ‘activos tóxicos’ do BPN.

Episódios que mostram que o Governo é “capaz de sacrificar tudo para apresentar aos portugueses uma ideia de que conseguiu endireitar as contas, conseguiu resolver os problemas, que agora é que vem aí um futuro risonho. Mas quando começamos a verificar no concreto, a esmiuçar, verificamos que é tudo uma grande encenação porque o Governo não resolveu os problemas de fundo da nossa sociedade e, sempre que foi necessário, perturbou, alterou, torturou estatísticas para se apresentar como o grande salvador dos problemas nacionais. Quando na verdade não passa de conversa fiada”, criticou o secretário-geral comunista.

Maria Lopes - Público

Portugal. "Maria Luís é tão de fiar nas contas como emissões de gases da VW" – Catarina Martins



A porta-voz bloquista, Catarina Martins, disse hoje que a ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, "é tão de fiar nas suas contas como a contagem das emissões de gases da Volkswagen", reiterando que "as contas da Parvalorem forem marteladas".

No final de uma visita a uma fábrica de calçado, em Santa Maria da Feira, Catarina Martins foi de novo questionada sobre a notícia hoje avançada pela Antena 1 de que o Governo deu indicações para esconder prejuízos do antigo BPN com o objetivo de não agravar as contas do défice de 2012, tendo entretanto a ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, reconhecido ter questionado Parvalorem sobre expetativas "pessimistas", mas rejeitando qualquer espécie de manipulação de contas.

"O que nós ficamos a saber é que as contas da Parvalorem forem marteladas para disfarçar o impacto do buraco do BPN no défice e que Maria Luís Albuquerque é tão de fiar nas suas contas como a contagem das emissões de gases da Volkswagen", disse a porta-voz do BE aos jornalistas.

Na opinião de Catarina Martins, "não há ninguém hoje que possa confiar em Maria Luís Albuquerque quando ela diz seja o que for sobre contas do país".

"A Parvalorem tinha contas fechadas e auditadas e a ministra das Finanças deu instruções para alterarem as contas, para disfarçarem o impacto do buraco do BPN nas contas do défice do país. As contas foram alteradas e quem tinha auditado as contas disse logo: as contas assim não estão certas", reiterou.

Sobre este tema, a deputada bloquista aproveitou, ainda, para referir que reparou "como hoje o primeiro-ministro ficou incomodado face às notícias da forma como as contas da Parvalorem foram marteladas".

"Ficou incomodado com os jornalistas e eu devo dizer que talvez fosse bom informar Pedro Passos Coelho que esta é uma democracia. A função dos jornalistas não é reproduzir comunicados de imprensa dos conselhos de ministros. É investigar e mostrar a realidade do país, mesmo quando isso incomoda o Governo e, principalmente, quando o Governo está a esconder dos seus cidadãos as contas do país", disse, num recado direto ao primeiro-ministro.

A ministra das Finanças admitiu hoje ter questionado a Parvalorem, empresa que gere os ativos tóxicos do ex-BPN sobre as expetativas "demasiado pessimistas" sobre os prejuízos de 2012, mas rejeitou novamente qualquer espécie de manipulação de contas.

"Fiz a pergunta [se as perdas registadas nas contas de 2012] podiam ser mais otimistas, porque me pareceu que a expetativa estava excessivamente negativa quanto àquilo que seria a evolução da economia e da capacidade de, efetivamente, os créditos serem satisfeitos", afirmou Maria Luís Albuquerque aos jornalistas da RTP, SIC e Antena 1, numa deslocação à Moita (Setúbal).

Segundo uma investigação da Antena 1, quando a ministra soube, em fevereiro de 2013, que as contas da empresa pública responsável pelos ativos de má qualidade do ex-Banco Português de Negócios (BPN) apresentavam perdas de 577 milhões de euros com créditos em riscos de incumprimento, o que iria agravar o défice orçamental, pediu à administração da Parvalorem que mexesse nas contas para que estas revelassem um cenário de perdas mais otimista do que o real, reduzindo os prejuízos reconhecidos em 2012.

Lusa, em Notícias ao Minuto - na foto Maria Luís

PORTUGAL, UM CANEIRO PEJADO DE FEZES PESTILENTAS QUE DETÊM OS PODERES




Mário Motta, Lisboa

Portugal está nas mãos de “poderosos” desonestos que só são governo por vontade de Cavaco Silva, um PR ancilosado que doentiamente se alapou numa presidência de faz-de-conta. Não por acaso há quem os considere perigosos para a democracia, medíocres e imbecis.

A imbecilidade está à vista há imenso tempo e a perigosidade também. O prejuízo para a democracia tem sido notório. A mediocridade estala nas mentiras e desonestidades sistemáticas da manipulação de números no desemprego e noutros itens cruciais e que deviam ser do conhecimento público com revelações transparentes, sem sofismas. Nada disso o governo faz e de vez em quando é desmascarado, como agora no caso que envolve a Parvalorem e a atual ministra das Finanças – que era então secretária de estado desse mesmo ministério. Tudo isto acontece em ações de esgoto deste notório rol de vigaristas, sob a proteção de Cavaco Silva. O fedor que os principais órgãos do poder político emanam está a tomar foros de epidemia. Até quando os portugueses vão suportar este bando de salafrários?

Sem mais palavreado seguem-se declarações de António Costa sobre o cambalacho Parvalorem vs ministra das Finanças e a opacidade inerente, que ela alegadamente solicitou para português enganar. No final constam os artigos relacionados com este assunto, no PG e no Notícias ao Minuto. Este governo de vigaristas alimenta a comunicação social como não há memória. Pobres dos jornalistas. Trabalho não lhes falta. Nem também aos que procuram a todo o transe manipular e dar sumiço a notícias que revelem com realidade quem são os do governo e da elite que lhe está apensa a feder e a empestar o país. Como caneiro pejado de fezes pestilentas. (MM / PG)

Quantos "truques" do Governo estão ainda por descobrir?

O secretário-geral do PS, António Costa, interrogou-se hoje sobre quantos "truques" do Governo estarão ainda por descobrir, no dia em que houve novidades sobre as contas do processo de liquidação do BPN.

O executivo, declarou Costa em Setúbal, foi hoje apanhado "mais uma vez num truque" feito, diz, para "disfarçar as contas de 2012".

"O que nos interrogamos é quantos truques estão ainda por descobrir", sublinhou o líder do PS, que abordava a notícia de hoje da Antena 1, que aponta para que a ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, enquanto secretária de Estado do Tesouro, tenha pedido à administração da Parvalorem que mexesse nas contas para que estas revelassem um cenário de perdas mais otimista do que o real, reduzindo os prejuízos reconhecidos em 2012.

Costa prosseguiu: "É dramático para a credibilidade da vida politica e da democracia quando, permanentemente, não há semana que passe em que o Governo em que não seja apanhado numa tentativa de enganar os cidadãos".

O socialista advogou, todavia, que "não há números, não há truques, não há contabilidades que disfarcem aquilo que é a realidade concreta da vida das pessoas", falando, por exemplo, da emigração dos jovens.

O PS, por seu turno, "não está fechado sobre si próprio" e "foi capaz de, na preparação do programa do Governo, mas também na elaboração das suas listas, de chamar para a atividade políticas pessoas que tendo tido outro tipo de percurso (...) sentiram perante este momento de emergência que o país vive não podiam deixar de dizer presente".

Costa deu como exemplo o economista Paulo Trigo Pereira, candidato pelo círculo de Setúbal, que interveio na sessão desta tarde.

"Alguns acharam que tínhamos ido reunir um conjunto de economistas para fazer um estudo e a fingir elaborarmos um programa", prosseguiu o líder do PS, que recordou as suas vitórias autárquicas em Lisboa para dizer que "o que é decisivo é estar em condições quatro anos depois" da primeira vitória "de voltar a dar a cara e pedir a confiança aos portugueses".

"Os portugueses não esqueceram como eles [Passos Coelho e Paulo Portas], ao longo destes quatro anos, traíram a palavra que tinham dado na anterior campanha eleitoral", declarou o socialista.

E acrescentou: "Nem sequer nos cartazes têm coragem de dar a cara porque sabem que a cara deles não convence ninguém".

Lusa, em Notícias ao Minuto

Leia mais em PG e Notícias ao Minuto

Portugal. DESEMPREGO AUMENTOU EM AGOSTO PARA 12,4%



Dados mensais apontam para um crescimento do desemprego face ao mês anterior. Estimativas mostram também uma queda do emprego.

O mês de agosto não trouxe boas notícias para o mercado de emprego em Portugal. De acordo com o boletim divulgado hoje pelo Instituto Nacional de Estatística, a taxa de desemprego em agosto foi de 12,4%, um aumento de 0,1% em relação ao mês de julho.

Segundo as contas do INE, em agosto registaram-se mais 4.800 pessoas desempregadas em Portugal, aumentando o total para 633 mil pessoas e quebrando o ciclo de quedas que se verificou entre fevereiro e junho deste ano.

As más notícias chegam também no número de portugueses com emprego: no mês passado, a população empregada caiu 0,8% na comparação com julho. No total, houve uma redução de 34.200 cidadãos empregados, levando o total para 4.462.200 pessoas.

A maior subida do desemprego surgiu nas mulheres, com os jovens e os adultos a surgirem logo a seguir entre as áreas da sociedade mais afetadas. Apenas os homens conseguiram fugir ao agravamento, mantendo inalterada a taxa de desemprego face a julho.

Na comparação com o mesmo período do ano passado, a tendência negativa inverte-se. A taxa de desemprego de agosto deste ano significa um alívio de 1,2 pontos percentuais face ao mesmo mês de 2014, enquanto a taxa de emprego traduz uma subida de 0,3 pontos percentuais na mesma comparação.

Notícias ao Minuto

Brasil. POR QUE OS POLÍTICOS QUEREM PROIBIR QUE SE FALE MAL DELES?



João Jorge Braga – Debates Culturais

Por mais estúpido ou absurdo que possa parecer há um projeto de lei sendo preparado na Câmara dos Deputados visando proibir que se fale mal de políticos na internet, podendo punir com até seis anos de cadeia quem o fizer. Esta estapafúrdia proposta está sendo elaborada pelo deputado Cláudio Cajado (DEM-BA), que também quer responsabilizar criminalmente as redes sociais, portais e provedores que hospedarem os sites. Ou seja, se dissermos que José Dirceu é ladrão, por ele ser político, mesmo que sem mandato e apesar de todas as evidências, provas e condenações, podemos ainda assim ser presos. Isto é o fim de democracia e da liberdade de expressão no país. Isto não seria inconstitucional? Países com China e Coréia do Norte agem assim.

De acordo com o deputado Cláudio Cajado, relator do projeto, o objetivo é obrigar empresas de internet e provedores a analisarem denúncias de ofensas contra parlamentares e outros usuários. Até aí, se for apenas para minimizar calúnias sem provas, já existem mecanismos legais que prevêem punições neste sentido, mas criar uma lei apenas para proteger políticos é absurdo.

Pela proposta, o conteúdo considerado ofensivo deverá ser retirado do ar o mais rápido possível. Dessa forma se alguém criar um perfil falso (fake) no Facebook, por exemplo, para ironizar um deputado, tanto quem criou a página como a própria rede social poderão ser acusados de injúria e difamação, caso a página não saia do ar imediatamente quando denunciada pelo político ou por alguém ligado a ele.

Diz o deputado que “às vezes, a pessoa faz um ‘fake’ ofensivo à honra de qualquer pessoa e essas empresas não têm nenhum tipo de controle sobre esses atos criminosos e permitem que eles sejam divulgados. A nossa tese é que quem pratica o crime tem de responder. E quem ajuda a divulgar esse crime tem de ser co-responsável”.

Existe ainda outro projeto de lei, apresentado em junho pelo deputado Silvio Costa (PSC-PE), que obrigaria provedores e sites a coletar dados pessoais de usuários que comentarem em matérias, fóruns e atualizações de redes sociais institucionais, criando um verdadeiro Estado policial e repressor na internet.

Assim, nossa liberdade de expressão política e até de noticiarmos falcatruas, se entendidas por quem as praticou como ofensivas, serão passíveis de punição. Será que eu estou sendo ingênuo ou nossos políticos estão legislando em causa própria, diferente do que deveriam fazer, que seria legislar em favor do país?

*João Jorge Braga é natural de Minas Gerais e estuda a política brasileira desde 1950.

Leia mais em Debates Culturais

Brasil. É HORA DE RETIRAR AS ISENÇÕES QUE FHC DEU AOS RICOS



O sócio de uma empresa que recebe R$ 350 mil por mês via distribuição de dividendos não paga nada de imposto enquanto alguém que recebe R$5 mil paga 27,5%.

Lindbergh Farias* - Carta Maior

Na quarta-feira (9), a agência de classificação de risco Standard & Poor’s rebaixou a nota do Brasil de BBB- para BB .

Para a S&P, o Brasil deixou de ter o grau de investimento, passando a ter uma nota que corresponde ao nível especulativo. Contudo, é óbvio que o governo não deixará de honrar seus compromissos com os credores. A S&P é a agência que avaliou com Triplo A, grau máximo de segurança, os títulos subprime que provocaram a grande crise financeira americana de 2008. Não podemos nos esquecer ainda que essa mesma agência atribuiu classificação máxima ao Lehman Brothers no mesmo mês em que o banco americano quebrou. Pois bem, qual nota essas agências merecem? Paul Krugman, em 2011, ao comentar a decisão da S&P de rebaixar a nota dos EUA, disse: “essa agência é a pior instituição a qual alguém deveria recorrer para receber opiniões sobre as perspectivas do nosso país”.

O maior paradoxo é, no entanto, que o ministro Joaquim Levy foi nomeado justamente para evitar que o Brasil perdesse seu grau de investimento. O ministro da Fazenda dizia que o Brasil tinha que fazer um ajuste fiscal rigoroso para melhorar a situação das contas públicas, porque, em 2014, havíamos fechado o ano com déficit nominal de 6,7% do PIB.

No Senado, eu votei contra o ajuste com o argumento de que em vários países onde foram adotados planos de austeridade semelhantes o resultado foi o de piorar a situação fiscal e agravar os problemas sociais. Esses ajustes colocam a economia em recessão, diminuem a arrecadação e fazem a dívida pública aumentar. É o que está acontecendo no Brasil. Nós estamos em recessão! A arrecadação caiu 3% e nosso déficit nominal, que tinha sido de 6,7% do PIB em 2014, alcançou 8,8% no acumulado dos últimos 12 meses.

Esse déficit é fruto da desaceleração da economia, mas principalmente de uma política monetária esquizofrênica, que coloca o Brasil como campeão mundial de taxa de juros. Essa política tem um enorme impacto fiscal. Cada 1% de aumento da taxa Selic provoca um custo fiscal de R$ 15 bilhões a R$ 20 bilhões a mais. Só com o aumento da taxa de juros e com o custo das operações de swaps cambiais, o governo federal desembolsou R$ 288,6 bilhões de janeiro a julho desse ano. Para efeito de comparação, de janeiro a julho do ano passado, o Brasil tinha pagado R$ 148 bilhões, ou seja, houve um crescimento de 95%. Em 2014, os gastos do governo com juros foram de R$ 311,5 bilhões, o que corresponde a 5,64% do PIB. E agora, no acumulado dos últimos 12 meses, até julho, essa despesa chegou a 7,92% do PIB, o equivalente a R$ 452 bilhões.

Por outro lado, o governo cortou este ano R$ 19 bilhões em investimentos, que caíram de R$ 85 bilhões para R$ 66 bilhões. Aprovou ainda duas medidas provisórias que mexeram no seguro desemprego e no abono salarial para economizar outros R$ 18 bilhões. Isso significa uma economia da ordem de R$ 35 bilhões.

Não tem como dar certo. O governo corta investimentos e direitos, mas gasta muito mais com aumento de juros e swaps cambiais.

Agora entramos em um momento da conjuntura em que o centro do debate politico é sobre como resolver o problema do déficit do orçamento de 2016.

Nós estamos entre aqueles que defendem que o centro da estratégia deve ser a retomada do crescimento econômico, com a diminuição da taxa Selic, para fechar o ralo da perda de recursos. Assim, será possível ampliar os investimentos e gerar emprego e renda, o que aumentará a arrecadação e preservará os direitos sociais e o orçamento, tirando a economia desse círculo vicioso que aprofunda a recessão. Do outro lado estão aqueles que equivocadamente advogam que é necessário aprofundar os cortes, com a retirada de mais direitos trabalhistas e previdenciários, com a redução de recursos do orçamento (o que compromete os investimentos em educação, saúde e programas sociais) e com a diminuição dos investimentos públicos.

Acredito que o aprofundamento da política de austeridade agravará a recessão, ampliará a crise social, com o crescimento do desemprego e queda da renda, e alimentará a crise política. Foi assim em todos os países que aplicaram esse receituário desastroso. É assim no Brasil, com a política econômica do ministro Joaquim Levy.

Aumentar a arrecadação fazendo justiça social

Dados das declarações do imposto de renda divulgados recentemente pela Receita Federal, com base nos números de 2013, apontam que 71 mil brasileiros super-ricos (com renda mensal superior a 160 salários mínimos e que correspondem a 0,3% dos declarantes de Imposto de Renda Pessoa Física) ganharam R$ 196 bilhões sem pagar nenhum centavo de imposto de renda, porque receberam esse valor por meio da distribuição de lucros e dividendos, que são totalmente isentos de tributos no Brasil.

Mais chocante é quando a lupa da Receita se aproxima: dos 71.440 super-ricos, 51.419 receberam bilhões de reais em lucros e dividendos, mas pagaram em impostos menos de 6% da sua renda total. Apesar da renda média declarada ser de R$ 4,5 milhões, R$ 3,1 milhões ficaram integralmente isentos por serem lucros e dividendos.

Vejam que absurdo: o sócio de uma grande empresa que recebe R$ 350 mil por mês via distribuição de dividendos não paga nada de imposto, enquanto um professor universitário ou um servidor público, que recebem R$ 5 mil por mês, são taxados em 27,5%.

Além de retomarmos a tributação sobre lucros e dividendos, será necessário acabar com a figura do juro sobre o capital próprio, outra distorção criada no governo FHC e que estabeleceu que os mesmos recursos nas mãos de um empresário podem ser, simultaneamente, investidos na produção e ficticiamente colocados no mercado financeiro, ou seja, o mesmo capital pode gerar lucros e juros. É quase mágica! A Lei 9.249, de iniciativa do governo de FHC, inventou, portanto, uma fórmula para reduzir contabilmente os lucros das empresas para que elas pagassem menos impostos. Mas o lucro verdadeiro continuaria o mesmo.

O dinheiro do empresário que é colocado na empresa, chamado de capital próprio, é considerado um empréstimo do dono à sua empresa. Então, a empresa tem que pagar juros ao seu dono. Logo, o dono recebe juros da sua empresa sobre o seu próprio capital. Em suma, ele recebe da empresa juros (pelo empréstimo fictício que fez à sua empresa) e lucros (pelos verdadeiros investimentos que realizou com o seu capital). E isso beneficia demasiadamente a pessoa jurídica – a empresa -, porque suas despesas aumentam com o pagamento de juros, o que faz seu lucro cair, e, dessa forma, ter que pagar menos impostos (Imposto de Renda da Pessoa Jurídica e Contribuição Social sobre Lucro Líquido).

Há varias alternativas tributárias para tornar nosso sistema mais justo e progressivo. É possível criar um imposto sobre grandes fortunas – previsto na Constituição, mas nunca implementado -, aumentar a alíquota do imposto sobre herança ou até mesmo reformular o Imposto Territorial Rural. Em 2011, apresentei uma PEC que altera o artigo 155 da Constituição Federal, para permitir que o Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) incida sobre veículos de luxo, como iates, jatinhos e helicópteros.

Como resolver o déficit do orçamento de 2016

Neste momento de crise, temos urgência para aprovar propostas mais eficientes e viáveis para arrecadar mais, mas fazendo justiça social.

Acredito que a resposta para o problema do déficit no orçamento do próximo ano é a retomada da tributação sobre lucros e dividendos, com uma alíquota de 15%, e a eliminação da figura dos juros sobre o capital próprio, que passaram a vigorar em 1995 com o argumento de atrair capitais e estimular os investimentos privados (apesar disso, os investimentos ficaram estagnados e o sistema tributário brasileiro ficou mais regressivo e distorcido, aumentando a concentração de renda e riqueza). O volume de lucros e dividendos distribuídos e declarados subiu de R$ 108 bilhões em 2007 para R$ 287 bilhões em 2013. Com a aprovação desses projetos, podemos arrecadar em 2016 até R$ 60 bilhões.

Sendo assim, nós podemos acabar com o déficit orçamentário sem retirar direitos dos trabalhadores, sem cortar o orçamento da União e sacrificar os investimentos públicos necessários para a retomada do crescimento. Com a elevação da arrecadação e a diminuição da taxa Selic, é possível superar essa política de austeridade, que não resolve os problemas da nossa economia. Além disso, daremos um passo importantíssimo para reformar o nosso sistema tributário, hoje regressivo e injusto.

Créditos da foto: Jane de Araújo / Agência Senado

RACISMO (TAMBÉM) EM PORTUGAL



Apesar dos “progressos na luta contra o racismo” dos últimos 50 anos, “a discriminação racial ainda representa um perigo claro para pessoas e comunidades” em todo o mundo. Quem o diz é o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.

Na mensagem a propósito do Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, recordou que, “todos os dias, pessoas de todas as idades suportam ódios, injustiças e humilhação devido à sua cor de pele, origem nacional ou étnica”.

Intitulada “Aprender com as tragédias do passado para combater o racismo hoje”, a mensagem reafirma o “compromisso” das Nações Unidas “em construir um mundo de justiça e igualdade onde a xenofobia e a intolerância não existem”.

Ban Ki-moon apela a que se aprenda com os “erros históricos”, como é o caso do colonialismo ou de regimes segregacionista como o do apartheid, na África do Sul, para que se possa “erradicar o preconceito”.

No ano em que a Convenção Internacional para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial celebra meio século, ainda falta conquistar “a premissa de que todas as pessoas usufruem de direitos iguais e dignidade – independentemente da sua etnia”.

Para que isso aconteça, o secretário-geral da ONU apela às nações que ratifiquem a convenção internacional e adoptem “leis e políticas fortes que acabem com todas as formas de discriminação”.

Num depoimento à revista Visão, Hélder Amaral, deputado do CDS, partido que integra a coligação que governa Portugal, diz que lhe “aconteceram episódios de racismo”. “Acontecem sempre. Basta sair à rua para sentir que somos diferentes”, acrescenta.

Conta Hélder Amaral que cresceu na “na Beira, a minha cultura é toda portuguesa e, apesar de ter a minha mãe em Angola, só conheço um hino e uma bandeira. Passei por várias fases. Fiz a primária numa aldeia simpática, acho que nos meios pequenos a integração é mais fácil. Mas depois fui estudar para Viseu, onde um professor de música, um padre, me disse que, para preto, eu até era muito inteligente”.

“Aos 18 anos, quando já era líder de instituições, recebi várias cartas engraçadas, endereçadas ao Dr. Savimbi, e outras coisas do género. Depois, tive mais um ou outro episódio na cidade, mas consegui nunca perder a elevação. O meu pai convenceu-me de que devia ser mais paciente, tolerante, pedagógico. Às vezes, a [questão da] cor pode ser atenuada pelo estatuto. A imprensa nunca fez nada com o único luso-africano no Parlamento. Já escreveram sobre o deputado mais novo, o deputado operário… mas, sobre mim, nada. Terem-me chamado Obama das Beiras não me choca. Não falar do assunto também é uma forma de racismo. Ter de fazer de branco é uma coisa que me incomoda”, relata Hélder Amaral.

À mesma revista, Cláudia Semedo, actriz e apresentadora, disse: “Felizmente, nunca senti discriminação de forma directa, mas não sou uma pessoa alheada da realidade. Sei que existe muito racismo. Veja-se o discurso sobre o fecho das fronteiras, em tempos de crise. ‘Só queremos cá os nossos’, dizem. É um racismo encapotado porque as pessoas têm a noção de que é uma vergonha. Somos um povo que vive a miscigenação de uma forma muito calorosa”.

E acrescentou: “Saímos à rua, em Lisboa, e cruzamo-nos com um indiano, um paquistanês, um africano. Mas, depois ligamos a televisão e não temos isso. Claro que estamos num país em que a maioria é caucasiana, mas há toda uma paleta de cores que não tem essa representação. Acho muito bem que as pessoas se unam contra um acto errado, de ignorância, e adiram ao movimento #somostodosmacacos, mas acharia mais interessante a frase ‘Somos todos humanos’”.

Entretanto, ainda em Portugal, o professor Pedro Cosme Vieira, da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, resolveu mostrar que o racismo e outras teses energúmenas continuam a proliferar pelo país.

O número de mortes relacionadas com a Sida desceu de dois milhões em 2004 para 1,2 milhões em 2014. No entanto, segundo Pedro Cosme Vieira, com o “abate sanitário de todos os infectados com Sida, a doença desapareceria da face da terra”.

Mais vai mais longe. Diz ele que “a pretalhada que atravessa o Mediterrâneo devia ser abatida a tiro”.

Contactado pelo Folha 8, o director da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, José Varejão, afirma que “este processo está a ser analisado segundo os mecanismos instituídos na Universidade, que dispõe de órgãos que se ocupam da observância de padrões éticos em todas as actividades académicas da Universidade e na conduta dos seus membros (docentes, funcionários ou alunos)”, acrescentando que “neste momento, apenas podemos acrescentar que o processo segue os trâmites normais, aguardando-se a sua conclusão”.

Folha 8

“CANDANDO” DE CÁ À MODA DO “CONTINENTE”…. DE LÁ!



Miguel Osório, um ex-quadro de topo da Sonae, é o administrador do novo projecto de retalho em Angola, da empresária Isabel dos Santos e que vai operar a rede de hipermercados “Candando”, representando o fim da parceria com aquele grupo português.

Ogrupo Contidis, que vai operar sob a marca “Candando” (abraço), foi apresentado hoje em Luanda, em conferência de imprensa, precisamente por Miguel Osório, que confirmou tratar-se uma empresa detida a 100% pela filha do presidente da República, prevendo um investimento de 400 milhões de dólares (356 milhões de euros) nos próximos cinco anos.

Anteriormente tinha sido anunciada uma parceria entre Isabel dos Santos e o grupo Sonae para a introdução de uma rede de hipermercados em Angola.

A abertura da primeira loja “Candando”, de um total previsto de dez ao longo de cinco anos, deverá acontecer no primeiro semestre de 2016, em Luanda, anunciou Miguel Osório. Com 10.000 metros quadrados, esta primeira loja ficará instalada no Shopping Avenida, em Luanda.

Tal como o Folha 8 profusamente noticiou, Isabel dos Santos consumou agora o divórcio com o grupo Sonae. Mau grado ser a accionista maioritária, Isabel dos Santos comportava-se como única dona da empresa, exigindo que este negócio fosse desenvolvido à imagem e semelhança dos ditames do regime. Isto é, ao estilo “quero, posso e mando”.

Como a Sonae, apesar de várias tentativas, não conseguiu digerir as regras peculiares a quem, com a cobertura do seu pai, não olha a meios para atingir os (seus) fins, Isabel dos Santos chamou a si a criação de mais uma empresa exclusivamente sua e assim nasce a cadeia de hipermercados “Candando”.

Para a dirigir foi buscar Miguel Osório que, indiferente às regras éticas de reserva perante a entidade patronal em que trabalhava, a Sonae, abriu o jogo a Isabel dos Santos. A empresária agradeceu. E como nos negócios em geral, e nos com Angola em particular, não há ética nem reserva, ai está mais uma vitória para o clã Eduardo dos Santos.

Miguel Osório deu hoje, em Luanda, uma conferência de imprensa em que anunciou a criação do grupo Contidis (100% propriedade de Isabel dos Santos) que, a partir de agora, vai pôr no terreno tudo o que a Sonae previra e estudara, mas com a marca “Candando” (“kandandu” “Abraço”).

De acordo com Miguel Osório, Isabel dos Santos planeia investir 256 milhões de euros durante os próximos cinco anos. O primeiro híper deverá ser inaugurado no primeiro semestre de 2016, em Talatona, no shopping Avenida que – por mero acaso – também é propriedade da filha do presidente vitalício de Angola.

Miguel Osório, CEO da Conditis, afirma “que o novo ‘player’ vai apostar na crescente exigência do consumidor angolano, considerando que ainda existe, no mercado da distribuição moderna, um ‘défice de metro quadrado por habitante”.

Fazendo uso do que diria se estivesse a falar da marca “Continente”, Miguel Osório diz que a Conditis será uma referência no sector, e que a sua relação com os produtores nacionais e a montagem de “infra-estruturas logísticas farão a diferença”.

Folha 8

Leia mais em Folha 8

Mais lidas da semana