sábado, 10 de outubro de 2015

CUBA: 40 ANOS COM A “OPERAÇÃO CARLOTA”



Martinho Júnior, Luanda 

A Embaixada de Cuba em Angola, comemorou os 40 anos do reconhecimento diplomático de Cuba a uma Angola finalmente independente, com uma exposição fotográfica no Centro de Imprensa Aníbal de Melo, na Baixa de Luanda, expressando e lembrando algumas das realizações comuns que continuam seu curso em paz, como antes na guerra.

Para além de muitas entidades angolanas, foi convidado o corpo diplomático acreditado em Luanda, realçando-se que pela primeira vez se registou a presença da Embaixadora dos Estados Unidos da América, correspondendo ao convite da Embaixadora cubana.

A exposição estará patente ao público nos próximos 30 dias.

Uma entusiasta Embaixadora de Cuba em Angola, Gisela Garcia Rivera, no acto inaugural pronunciou um breve discurso, passando em revista alguns dos marcos mais sensíveis do relacionamento comum, desde que a 2 de Janeiro de 1965, há 50 anos, em Brazzaville, se verificou o encontro entre os camaradas Agostinho Neto e Lúcio Lara, com Ernesto Che Guevara.

Esse encontro permitiu lançar as bases da já longa identidade comum no quadro da Luta de Libertação, admitindo sempre Cuba o pagamento duma dívida para com África, face a um resgate histórico que se impunha no rescaldo de séculos de escravatura e colonialismo, assim como de décadas de “apartheid” na África do Sul.

O combatente revolucionário Jorge Risquet, recentemente falecido, foi lembrado como um dos artífices dessa saga libertadora, como foi lembrado o comandante Arguelles, caído em combate na batalha do Ebo travada face à silenciosa invasão das South Africa Defence Forces, na sua tentativa vã de chegar a Luanda e colocar no poder os fantoches da conveniência do “apartheid” e da CIA (sob os auspícios de Henry Kissinger), a 11 de Novembro de 1975.

Apoiando de forma exemplar a guerrilha do MPLA a partir do Congo, entre 1965 e 1975, com o Batalhão Lumumba que completava a 2ª coluna do Che em África, Cuba desencadeou em 1975, sob iniciativa do comandante Fidel de Castro, a Operação Carlota, de modo a que o Movimento de Libertação, o MPLA, pudesse alcançar os objectivos do seu Programa Mínimo: a independência nacional.

Uma pequena nação insular, situada a milhares de quilómetros de distância, socorreu a causa da Libertação de Angola nos momentos decisivos, socorreu as Forças Armadas Populares de Libertação de Angola com milhares de efectivos alistados nas suas Forças Armadas Revolucionárias, que mal pisaram o solo angolano entraram em combate em três frentes distintas, de onde saíram vitoriosos: Cabinda, Kifangondo e Ebo.

A Operação Carlota, a operação com o nome duma escrava que em Cuba preferiu morrer a combater os algozes do que viver sob sua canga, foi por si um feito glorioso, mas não terminou aí, pois houve e há, no seu seguimento, imensos desafios a enfrentar:

Era necessário vencer o “apartheid” e muitas das suas sequelas, tal como as sequelas coloniais e isso foi conseguido, apesar dos enormes sacrifícios consentidos;

É necessário lutar agora contra o subdesenvolvimento crónico que historicamente se arrasta em África desde os alvores do colonialismo e do período terrível da escravatura e é isso que está em curso, apesar dos imensos obstáculos advenientes dum processo de globalização tão carregado de riscos, injusto e desequilibrado.

O rumo de Angola, foi alcançado a partir dessa saga comum identitária de liberdade, de internacionalismo, de solidariedade e de amor para com a causa dos povos oprimidos da Terra, mas para se vencer esse subdesenvolvimento crónico que se levanta como um enorme desafio herdado do passado de trevas, Carlota terá de ser sempre relembrada, para que os resgates humanos sejam profícuos e estendidos em benefício de todo o povo angolano e dos povos de África.

Em Angola e em Cuba, as gerações de combatentes angolanos e cubanos, ao darem lugar à cidadania no âmbito de seus complexos processos sócio-políticos, apontam-nos o caminho desde Agostinho Neto, de Lúcio Lara, de José Eduardo dos Santos, do comandante Fidel de Castro, do comandante Raul de Castro e do Che, comandante e expoente maior de internacionalismo e solidariedade.

Em Angola continua-se a Operação Carlota, 40 anos depois do reconhecimento da independência de Angola, por parte de seu mais intrínseco aliado-identitário, Cuba!

A ponte entre as duas margens do Atlântico, entre os africanos e os afro descendentes que foram arrastados na voragem da escravatura e do colonialismo, continua com alicerces sólidos, alicerces capazes de propiciarem a oportunidade para se lançar a mais bela superestrutura humana que se poderia alguma vez alcançar.

Assim, apesar de tantas contrariedades e obstáculos, está a ser construída a liberdade!

*Fotos recolhidas por Martinho Júnior, do acto inaugural da exposição fotográfica alusiva aos 40 anos do reconhecimento diplomático da independência de Angola, por parte de Cuba.

MAIS PALESTINIANOS MORTOS, NOVA INTIFADA



As forças militares de Israel mataram nesta sexta-feira cinco palestinianos na Faixa de Gaza. A onda de violência da polícia e das forças armadas de Israel não param de crescer. Polícia recomenda que israelitas andem armados. O secretário-geral da OLP, Saeb Erekat, e o líder do Hamas em Gaza, Ismail Haniyeh, dizem que os acontecimentos lembram a Intifada.

Um palestiniano morreu e seis ficaram feridos nesta quinta-feira, 8 de outubro, após ação da polícia em Jerusalém Oriental. Por outro lado, foram registados quatro esfaqueamentos de israelitas, um deles polícia, realizados por jovens palestinianos. A nova onda de violência verificada na região levanta ideia do surgimento de uma terceira Intifada (nome dado à revolta popular de palestinianos contra as forças de segurança de Israel).

Também nesta quinta, uma porta-voz da polícia israelita declarou à Agência Efe que as forças policiais recomendaram que os cidadãos israelitas que possuem porte de arma saiam às ruas armados. A orientação foi reiterada pelo presidente da câmara de Jerusalém e é justificada por um chefe de polícia do sul de Israel, que disse acreditar que a medida é “necessária” para potencializar a “sensação de segurança”. Noutros períodos de acirramento da violência, incluindo a segunda Intifada (de 2000 a 2005), também foram registadas queixas a respeito do uso de armas de fogo por civis.

Assim, o clima de tensão faz reacender a ideia de que esteja em curso o início de uma nova Intifada. De acordo com o secretário-geral da OLP (Organização pela Libertação da Palestina), Saeb Erekat, “os acontecimentos atuais se assemelham aos de setembro de 2000 [início da segunda Intifada]”, como afirmou num programa de rádio no último domingo (04/10).

Confrontos recentes

Israel e Palestina vivem uma nova onda de confrontos violentos. Nesta semana, o governo de Benjamin Netanyahu anunciou que a entrada de palestinianos na Cidade Velha seria barrada. O local é um dos territórios anexados e ocupados por Israel após a guerra de 1967. Moradores e comerciantes do bairro relataram dificuldades e barreiras para a cidade. Desde o último domingo, alguns lojistas palestinianos paralisaram as atividades na Cidade Velha e em Jerusalém Oriental, assim como parte das escolas do local.

Nas últimas semanas, a região da Esplanada das Mesquitas, também situada no centro histórico de Jerusalém, tem sido alvo de distúrbios violentos entre palestinianos e judeus ultraortodoxos. A polícia israelita interveio em diversas ocasiões e chegou a ocupar o templo religioso.

Embora seja exclusivamente destinado aos islâmicos, o local também é considerado sagrado para o judaísmo, pois está situado no antigo Monte do Templo, destruído em 70 d.C. Muitos ultraortodoxos buscam rezar no mesmo espaço, gerando cada vez mais conflito com a comunidade palestiniana.

Na madrugada da última sexta-feira (02/10), as forças de Telavive reforçaram tropas na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, após o assassinato de um casal de colonos israelitas perto de Nablus, na Cisjordânia. A ação ocorreu após colonos terem incendiado uma série de propriedades palestinianas, matando, inclusive, membros de uma família palestiniana.

Na foto: Jovem palestiniano responde à pedrada aos ataques a tiro das forças armadas de Israel – Foto de Abed Al Hashlamoun/Epa/Lusa
Esquerda.net - Artigo de Opera Mundi, com dados de agências

CARTA (RE)ABERTA AO PRESIDENTE JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS



A lucidez no exercício do mais alto cargo da magistratura de um país é uma ferramenta definidora do carácter de um líder que exige a sua consagração pelo voto do soberano, através dos marcos da legalidade e da legitimidade.

William Tonet* - Folha 8, opinião

A ausência de um destes pressupostos demonstra a natureza do seu titular, que governando, não tem o consenso do povo e voto eleitor.

Senhor Presidente da República de Angola, José Eduardo dos Santos, escrevo-lhe, uma vez mais, apelando a sua sensibilidade, para se colocar não como Presidente dos angolanos do MPLA, mas como Presidente de todos angolanos, logo com amor paternal, principalmente, em relação aos meninos e jovens com idades próximas a dos seus filhos.

Escancare o coração e sinta o gemido e a dor de meninos, muitos hoje, com a idade que o levaram a abandonar o Sambizanga e partir para o Congo para abraçar a lua de libertação nacional e devolva-os as mães e esposas dilaceradas com a prisão injusta, levada a cabo, por serviços castrenses, desejosos de comprometer o seu futuro, pois a responsabilidade lhe será imputada.

A sua biografia fala do período de irreverência juvenil e das manifestações contra as políticas injustas, então praticadas, nos anos 60, pelas autoridades coloniais portuguesas, que aderiu e participou, para quê e porquê, se agora, em democracia o Senhor nada faz contra a repressão, a tortura, a prisão e por vezes os assassinatos levados a cabo pela Segurança de Estado e Polícia, contra jovens que nem o querem matar, apenas apelar a uma melhor governação.

Senhor Presidente, José Eduardo dos Santos, acredito ser altura de emprestar nobreza ao seu reinado, depois de 36 anos de poder ininterrupto, sem nunca ter sido nominalmente eleito. Foi um erro estratégico, esta opção, pois qualquer que seja o desfecho final do seu consulado, essa condição remetê-lo-á para a galeria dos ditadores…

Poderia ter evitado isso, principalmente, quando morreu assassinado o seu principal adversário político: Jonas Savimbi.

Depois de 2002, o senhor concorreria praticamente sozinho e poderia ser eleito nominalmente, pela primeira vez, e se estivesse difícil, apelar à “engenharia informática de esgoto”, para concentrar os votos nas suas urnas, não seria anormal, pelo contrário… Não o tendo feito está mais vulnerável enquanto líder…, quer interna como externamente.

Senhor Presidente, os seus apoiantes, acredito, a maioria exímios bajuladores, escondem-lhe a realidade, caso contrário, saberia do clamor do povo e da baixa popularidade que tem. Ninguém mais acredita no seu consulado e Executivo, incluindo destacados militantes e dirigentes do MPLA, que vaticinam a sua partida. Não o dizem por temerem, na crónica cobardia, a perca das mordomias.

Felizmente como não faço parte deste exército tenho a autoridade de lhe trazer a “voxi populis”. O declínio da sua áurea começou com os assassinatos, dentre outros, de Ricardo de Melo, Adão da Silva, Mfulumpinga Landu Victor, mais recentemente, com o lançamento aos jacarés de dois jovens que o protegeram anos a fio, na sua Guarda Presidencial: Cassule e Kamulingue, seguindo-se, no quartel do palácio, Hilbert Ganga.

São muitas mortes nas redondezas do seu gabinete, com igual omissão.

A prisão dos 15+1 jovens é a maior asneira do seu consulado, pois tolha a imagem do Executivo de que é titular, colocando-o na lama, face à insensibilidade que vem denotando, com o avolumar de injustiças e o temor que demonstra face ao exercício da democracia, nos marcos consagrados, numa constituição feita a sua imagem e semelhança.

Senhor Presidente, será que os seus assessores (nacionais e estrangeiros), responsáveis pela elaboração da actual Constituição, tendo escondido ao MPLA (os deputados do partido no poder, tinham outro ante-projecto), também lhe esconderam a consagração destes direitos fundamentais? Se não, porque razão os cidadãos não os podem, livremente, utilizar?

Essa postura descredibiliza-o, como líder e democrata, daí estar a ser fortemente criticado, também pela promoção de tribalismo, contra um jovem de 18 anos, por alegadamente, adoptar o nome do comandante Nito Alves, que paradoxalmente, também não conseguiu contar com a sua solidariedade, enquanto coordenador da Comissão de Inquérito, sendo então assassinado pelo MPLA em 1977, agora pode acontecer o mesmo com o seu homónimo, quando chineses e outros têm a nacionalidade sem cumprir os requisitos legais…

Senhor Presidente, não acredito ser tão mau e insensível, mas a sua insensibilidade abomina, ao ponto de, alegadamente, preferir que morra, nas fedorentas masmorras do regime o filho de um homem que o serviu com “fidelidade canina” e que foi director da sua Fundação, o Luaty Beirão, que empreende há mais de 19 dias uma greve de fome, face às injustiças, estando muito mal.

O mais grave é que o Senhor sabe disso, mas dizem-me, não gosta de ouvir conselhos de gente que não o bajula, gente com coerência e autoridade moral, preferindo antes ser “morto pelo elogio do que salvo pela crítica”.

Será que se um dos jovens, Marco Mavungo, José Kalupeteka, Quim Ribeiro + 21 polícias, morrer na cadeia o Senhor continuará a viver com paz espiritual, sabendo que mais uma vida se foi face à injustiça do seu executivo?

Senhor Presidente, não se esqueça que é pai, logo lembre-se do que sofre quando um deles não está bem, sei ser difícil isso acontecer, pela faustosa vida que têm, mas ainda assim imagine o que é o sofrimento de um pai, sabendo que seu filho está preso ou morreu face à sua omissão ou descaso.

O poder da oração tem muita força, não defraude todo um país, pois ser radical, não demonstra nobreza, pelo contrário, é medo, é cobardia… Desprenda-se do colete de força e prepare uma retirada feliz, pois caso contrário nunca ninguém o recordará como bom patriota…

Senhor Presidente, saiba que na actual conjuntura, os maiores e piores adversários habitam na sua própria legenda, por não ter conseguido, como é natural, servir a todos…, logo se não preparar pontes com os políticos da oposição e membros da sociedade civil, não bajuladora, correrá o risco de acabar sozinho no futuro, inclusive abandonado por alguns dos seus próprios filhos.

Senhor Presidente, finalmente, seja, pelo menos, uma vez líder de todos, líder sem armas e exército privado, líder do bem, líder do amor, capaz de interpretar os conselhos do Papa e do Presidente Obama, pense como um pai, promova uma verdadeira reconciliação e conciliação, entre todos actores políticos.

Agora, na magistratura dos seus 73 anos de idade, faça algo abrangente, porque amanhã, é a lei da vida, poderá ser tarde e nem dos feitos positivos desfrutar e ser recordado.

Incite a promoção para uma verdadeira justiça, mande libertar os jovens políticos inocentes, demonstre não ter medo deles e das manifestações, coisa que o indulto/2015 de cariz sectário, não fez, discriminando, injustamente, muitos inocentes que definham nas cadeias, por razões políticas.

Seja líder!

*Diretor do Folha 8

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Angola. SEMPRE A FAVOR DOS MESMOS



A Economist Intelligence Unit considerou hoje que a implementação de altas tarifas de importação e a imposição de quotas para as importações em Angola “só protege um pequeno círculo de empresários domésticos favorecidos e prejudica os consumidores”.

Numa análise enviada aos investidores, comentando a recente discussão da Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre a segunda análise política ao país, os analistas da Economist dizem que o aumento dos impostos sobre a importação e a criação de quotas para as importações “não resolve os desafios do país, e em muitos casos só protege um pequeno círculo de empresários domésticos favorecidos, ao passo que os custos mais altos e a menor liberdade de escolha prejudicam os consumidores”.

Na análise da situação, a EIU escreve que “Angola tem aplicado tarifas proteccionistas num esforço para tornar os seus produtos locais mais competitivos, mas a falta de acesso a materiais de baixo custo, a electricidade limitada e uma gestão deficiente da cadeia de fornecimento continuam a ser os principais desafios do país”.

No final de Setembro, como o Folha 8 noticiou, a OMC publicou as conclusões sobre a segunda reunião de análise política com Angola, a primeira desde 2006, na qual publicitou que vários membros criticaram o aumento das tarifas aduaneiras que resultam da nova pauta e as muitas dúvidas que resultam da imposição de quotas para vários sectores de produtos importados.

“Estas quotas, muitas das quais ainda estão para ser implementadas, são sujeitas a vários critérios, incluindo a percentagem de uma empresa cujo capital é detido por angolanos, e compreensivelmente, as empresas exportadoras para Angola não acolherem bem essas regras, nem a confusão à volta de quando e como essas quotas vão ser realmente implementadas”, escreve a EIU na nota de análise à publicação da OMC.

A OMC defende que Angola deve “rectificar os casos em que as tarifas aduaneiras e outros impostos excedam os níveis médios” de 10,9%, apelando a Luanda para aceitar “assistência técnica” para implementar os acordos internacionais.

Na Análise de Políticas feita pelos membros da OMC a Angola, a segunda desde 2006, que decorreu no final de Setembro, e cujas conclusões foram agora publicadas pela OMC, lê-se que “os membros notaram que Angola implementou um conjunto de medidas destinadas a substituir as importações” e afirmaram que “a nova pauta aduaneira foi significativamente encarecida, de 2% a 50%, com uma média simples de 10,9%, um aumento face aos 7,4% de 2005″.

No documento que apresenta as conclusões das reuniões que duraram dois dias, lê-se que “os membros apelaram a Angola para “rectificar os casos em que as tarifas aduaneiras e outros impostos excedam os níveis médios” de 10,9%, tendo havido vários membros que “convidaram Angola a clarificar o estado da lei que define as quotas de importações, que ainda não foi implementada”.

No que diz respeito à substituição das importações, “os membros sugeriram a Angola que reduza os custos de produção através de tarifas de importação mais baixas e aumente a facilitação do comércio para aumentar a competitividade e promover a produção local”.

Folha 8

Líder da oposição moçambicana diz que entregou armas para evitar banho de sangue



O líder da Renamo, Afonso Dhlakama, disse hoje que mandou entregar armas da sua guarda para evitar um banho de sangue junto da sua casa na Beira, centro de Moçambique, e exigiu a libertação imediata dos seus homens detidos.

"Estou a pedir que sejam libertados incondicionalmente agora. Porque não quero fazer aproveitamento político, chamar a população, fazer manifestações, destruir a Beira", afirmou o presidente da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana) aos jornalistas ao fim da tarde na sua residência, que hoje foi invadida por forças policiais alegadamente para reclamar a entrega de armamento, numa operação que resultou na detenção de elementos da guarda do dirigente de oposição.

Afonso Dhlakama confirmou a entrega de 16 armas aos mediadores do processo de diálogo entre Governo e Renamo, que por sua vez o deixaram à responsabilidade da polícia, mas admitiu que hoje esteve perto de dar ordem de retaliação.

"Subiu a tensão. Queria mesmo dar ordem para rebentar com isto tudo, ocupar isto tudo, porque temos capacidade para isso", declarou, acrescentando que depois acabou por se conter: "Como cristão, arrefeci e comecei a rir-me".

Segundo o presidente da Renamo, "não há guerra, não há confusão", mas uma ordem de fogo podia ter deixado dezenas de mortos, sublinhando que hoje proibiu uma suposta intenção da população local de iniciar ações violentas com paus e machados.

O líder da oposição disse que os incidentes de hoje começaram com uma alegada intenção da polícia de recuperar três armas que terão sido capturadas pelos homens da Renamo, no incidente com as forças de defesa e segurança no passado dia 25 em Gondola, província de Manica.

A Renamo disse na ocasião que foi emboscada pelas forças de defesa e segurança, que, por sua vez, negaram qualquer ataque e indicaram que apenas se dirigiram ao local para repor a ordem pública, após a morte de um motorista civil e pela qual responsabilizam os homens de Dhlakama.

"Confirmo que no dia 25 capturámos armas em Amatongas [Gondola]. Afinal foi o Ministério [do Interior] que nos atacou. Ainda bem, pensava que tinham sido bandidos. Fiquei mesmo satisfeito", ironizou hoje Dhlakama, que reapareceu na quinta-feira na Gorongosa, ao fim de quase duas semanas em lugar desconhecido, na sequência daquele episódio.

Hoje na Beira, segundo Dhlakama, houve empurrões entre os seus homens e agentes da polícia, que, nessa altura já tinha cercado a sua casa com um forte dispositivo, e que um dos militares da Renamo se preparava para disparar com uma arma Ak-47.

"Eu gritei `não faça isso`, não arranje problemas, a guerra acabou há muito tempo`", descreveu o líder da Renamo, insistindo que não quer retaliações nem "banho de sangue".

Ainda na sua narração dos acontecimentos, Afonso Dhlakama afirmou que a reivindicação das armas dos homens da Renamo foi posterior e que recebeu também a ordem de dispensar a sua guarda pessoal e aceitar a proteção da polícia.

Ao fim da manhã, Dhlakama estava reunido na sua residência com os mediadores e com a governadora da província de Sofala e ficou decidido que as armas eram entregues aos observadores, enquanto a oferta de proteção policial ficava ignorada.

O líder da Renamo frisou que se recusava a entregar as armas à polícia, acusando-a de servir a Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), partido no poder, e que rejeita igualmente "ser guarnecido em casa como um prisioneiro".

Remetendo uma posição de fundo para uma conferência de imprensa em breve, Dhlakama sinalizou que o próximo passo deverá ser a reintegração dos homens armados do movimento nas forças de defesa e segurança.

"Para mim, [o incidente de hoje] é o começo da reintegração. Estamos a insistir que, depois disto, o passo seguinte, já para a semana, haja unidades da Renamo e da Frelimo a serem treinadas na polícia", assinalou.

Moçambique vive novos momentos de incerteza política, provocada pela recusa da Renamo em reconhecer os resultados das eleições gerais de 15 de outubro do ano passado e pela sua proposta de governar nas seis províncias onde reclama vitória, sob ameaça de tomar o poder pela força.

Lusa, em RTP

Timor inspira jazz experimental de vocalista e compositora norte-americana



Díli, 10 Out (Lusa) - Sonhos de Timor-Leste e um cabaz de experiências musicais do continente asiático influenciam o álbum mais recente da compositora e cantora norte-americana Jen Shyu que faz uma viagem às raízes da sua família timorense.

Filha de pai taiwanês e mãe timorense, Shyu já no passado tinha mergulhado no mundo lusófono, com a poesia da brasileira Patricia Magalhães a marcar o álbum "Inner Chapters", maioritariamente cantado em português.

"Sounds and Cries of the World" é o trabalho mais recente de Jen Shyu, uma vocalista de jazz experimental e uma multi-instrumentista que canta em inglês, coreano, indonésio e tétum - é fluente em mandarim, português e espanhol.

Em entrevista à Lusa, Jen Shyu recordou a sua primeira visita a Timor-Leste, em 2010, os sonhos que a marcaram durante essa estadia de três meses - "escrevia-os de manhã, ao acordar" - e a influência das viagens musicais que tem feito.

"Tornou-se um aspeto central do meu processo criativo. Estudo música tradicional e tradição como compositora que respeita e honra essa linguagem. Cada vez mais músicos de jazz mergulham nesta linguagem tradicional, que incorporam na sua sonorização", explicou.

Sobrinha de um dos maiores empresários de Timor-Leste, Tony Jape, a artista norte-americana recorda o primeiro contacto com as raízes da sua mãe.

"Até essa visita conhecia pouco de Timor-Leste. A minha mãe apenas me falava da beleza, da paz, da tranquilidade da sua infância em Díli, de onde saiu com 14 anos, cerca de 1959 ou 1960", contou.

Apesar de ter estado a estudar em Taiwan, a mãe só conheceria o pai, taiwanês, quando ambos estavam a estudar nos Estados Unidos, país onde ficaram a residir e onde Jen Shyu nasceu.

"Só comecei a saber mais de Timor quando terminei a universidade e comecei a interessar-me por estas explorações das minhas próprias raízes e, ao mesmo tempo, das explorações destas músicas tradicionais", explicou.

Praticamente todos os temas do álbum são diretamente influenciados pela sua visita a Timor-Leste, ecoando os seus sonhos e os de uma artista timorense, a Kiki Zelara, que integra o coletivo artístico timorense Arte Moris.

A influência timorense no álbum estende-se à capa que é uma pintura de Maria Madeira, uma artista timorense residente na Austrália e reflete até passagens do extenso relatório da Comissão de Acolhimento Verdade e Reconciliação (CAVR) timorense.

"Song for Naldo" é um dos exemplos mais poderosos, recordando na letra a tortura a que os timorenses foram sujeitos e retratando os sonhos que Jen Shyu construiu, de forma quase orgânica, compondo letra e música ao mesmo tempo, ao som do Gatkim, uma "Guitarra da Lua" taiwanesa.

Uma fusão que inclui uma canção tradicional que aprendeu a "cantar em tétum com o mestre Marçal" nos arredores de Aileu, a sul de Díli.

A sua música é experimental e eclética, vertendo as múltiplas influências que têm marcado a sua vida e os efeitos das investigações e pesquisas que realizou durante viagens a vários países.

O componente lírico mistura-se entre o surreal e o imaginário, com a música a soar a improviso e a beneficiar de músicos que se adaptam a esse estilo: Ambrose Akinmusire na trompeta, Mat Maneri no violino, Thomas Morgan no baixo e Dan Weiss na bateria.

Aplaudida pela crítica - o The Guardian descreve-a como um "fenómeno notável", Jen Shyu tem já um extenso trabalho de estúdio, com vários álbuns de lançamento digital, a que se somam vários projetos especiais.

Vencedora do Premio Doris Duke Impact Award em 2014 e antigo membro da banda Five Elements de Steve Coleman, Jen Shyu quis no novo projeto recuperar música tradicional de Timor-Leste, Indonésia, Coreia e Taiwan.

Uma viagem introspetiva às suas raízes com influências do que foi aprendendo, desde o folk taiwanês conhecido como Hengchun minyao, ao shochang, um tipo de performance que envolve canto e fala.

Música tradicional timorense, os contos musicais pansori, da Coreia do Sul - acompanhados de gayageum, um instrumento local de 12 cordas - e a música indonésia gamelan somam-se na experiência sonora da artista.

Aspetos que transformam o jazz que Jen Shyu continua a considerar o fio condutor do seu trabalho.

"Sei que não é uma música fácil. Mas não estou interessada em fazer coisas fáceis ou normais. Como artista chegar a quem és é difícil mas o que pretende é chegar à essência de quem sou. Esta é uma jornada musical mas também uma jornada pessoal".

ASP // PJA

Portugal. O “COMPROMISSO” COMO PALIATIVO SEM SIGNIFICADO



Baptista Bastos – Jornal de Negócios, opinião

A guerrilha, sempre latente entre os socialistas, regressa em força, e Costa tem de se acautelar porque os seus oponentes dispõem de tropas e de força.

A palavra "compromisso" entrou, inesperadamente, no vocabulário da Direita. Começou no discurso, sempre mavioso e atractivo, do dr. Cavaco e foi imediatamente adoptado pela parelha Passos e Portas. Para recuperar a curiosa expressão, o dr. Cavaco esteve de quarentena, e não foi às comemorações do 5 de Outubro porque esteve a pensá-la arduamente. O dr. Cavaco, quanto à República e ao que ela significa é sempre acometido de curioso mal-estar. Está a terminar a funçanata para a qual foi incumbido. Acontece um porém: ele nunca foi, realmente, um Presidente talhado para tal: falta-lhe o rigor exigido pelo cargo; o equilíbrio político; a cultura mais rudimentar; a imparcialidade e a moderação. Foi o pior Presidente desta 2.ª República, benza-o Deus.

Esta ideia do "compromisso" nasceu no imediato momento em que se soube não ter a coligação de Direita maioria absoluta, e que a Esquerda obtinha, reunidos os votos, 62 por cento das vontades. A situação dos vencedores, Pedro e Paulo, é, portanto, precária, e a imposição de "estabilidade" governamental só se obtém com a colaboração do PS. O enigma do magno problema será resolvido por António Costa. Este, no entanto, está a ser cercado por Álvaro Beleza e outros apoiantes saudosos de António José Seguro. A guerrilha, sempre latente entre os socialistas, regressa em força, e Costa tem de se acautelar porque os seus oponentes dispõem de tropas e de força.

Por outro lado, a Direita também não é inexpugnável, e a circunstância de ser minoritária tornou-a refém do PS. Os sorrisos cheios de soberba de Portas esmaeceram-se; e o discurso de Passos tornou-se menos arrogante, como se verificou anteontem, ao falar do encontro com o dr. Cavaco. Ao aludirem ao tal "compromisso", os dois dirigentes da coligação sabem que ela está ferida de morte, assim o queira António Costa. Mas este já anunciou que não tem vocação para derrubar governos, ao contrário do PCP, do Bloco e quejandos, os quais apoiados em interpretações da Constituição afirmam que a coligação de Direita não possui legitimidade para governar, pois a soma da votação à Esquerda é maioritária.

António Costa, se admitir a decisão do dr. Cavaco, será amaldiçoado pela Esquerda do seu partido; se não a aceitar, os representantes de Seguro devoram-no. Álvaro Beleza já o anunciou, com gelada fisionomia, e quer imediatamente um congresso para fritar António Costa e colocar-se na primeira linha da sucessão. Não se sabe, o que pensa desta barafunda o dr. António José Seguro, mas presume-se que esfrega as mãos de contente, perante as desgraças que assolam o dr. Costa, que o defenestrou numa jogada política não aplaudida por toda a gente.

No meio de isto tudo quem se entala somos nós. Os mesmos de sempre estão sempre lá, e nem as ameaças dos descontentes, nem o lúcido desassossego dos mais jovens abalam um sistema ancilosado que paralisa a pátria e a envolve num desespero sem saída.

Naturalmente, muitas coisas mudaram a partir de 4 de Outubro, e muitas mais vão mudar, não por vontade dos partidos tradicionais mas pelo próprio movimento natural das coisas. A União Europeia está a desfazer-se aos poucos, a contestação às suas decisões espúrias e autoritárias estão na ordem do dia, revela-se um despertar das consciências populares nos países violentamente afectados pela "austeridade" que veio de fora; quer dizer: a manobra capitalista neoliberal soçobrou, deixando atrás dela um rasto de miséria, de desequilíbrio social, propiciando o reaparecimento dos movimentos fascistas e nazis. Todos estes acontecimentos, sem esquecer o poderoso movimento migratório, têm relação entre si.

Só não vê quem prognostica o "compromisso" como solução, quando, na verdade, o "compromisso" não passa de um paliativo. 

Portugal. PCP DIZ QUE “PS SÓ NÃO FORMA GOVERNO SE NÃO QUISER” - Jerónimo



O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, afirmou, sexta-feira, que o PS "só não forma Governo se não quiser", considerando que resta saber se os socialistas apoiam um executivo PSD/CDS ou procuram outra solução.

"Quando o PS dá a iniciativa ao PSD/CDS, como foi patente no seu encontro de hoje [sexta-feira], o que se coloca perante a situação que está criada é saber se o PS escolhe entre dar aval e apoio à formação de um Governo do PSD/CDS ou tomar a iniciativa de formar um Governo que tem garantidas condições para a sua formação e entrada em funções", sublinhou Jerónimo de Sousa.

Durante um comício que decorreu esta noite na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, o líder comunista vincou que "no quadro da Constituição da República e, tendo presente a correlação de forças existente na Assembleia da República, o PS só não forma Governo se não quiser".

Jornal de Notícias, ontem

Portugal. MAIORIA DE ESQUERDA “AINDA” NÃO É GOVERNO, avisa Costa



António Costa avisou, esta sexta-feira, após uma reunião com o Partido Ecologista Os Verdes, que "os 62% que se expressaram contra a atual politica ainda não se traduziram numa nova maioria de Governo".

Os Verdes gostaram do que ouviram e já incluem os socialistas no grupo dos que defendem a rutura com as política de austeridade.

"Ninguém dispõe de maioria. Temos com humildade de fazer um esforço para encontrar soluções que assegure ao país ter um Governo com estabilidade e um Governo que traduza aquilo que foi a vontade profunda dos portugueses. É verdade que infelizmente que os 62% que se expressaram contra a atual politica ainda não se traduziram numa nova maioria de Governo", assegurou, após cerca de uma hora de reunião com o PEV, representado pela líder parlamentar ecologista Heloísa Apolónia, o deputado José Luís Ferreira e a histórica ambientalista Manuela Cunha.

Costa voltou a salientar que "há algo importante que a PAF perceba": "O quadro político e parlamentar em Portugal mudou substancialmente de domingo". "Não vale fazer fingir que nada aconteceu", disse, após reconhecer que foram muitos os pontos de convergência com Os Verdes, principalmente em questões energéticas e na gestão da água.

Já Heloísa Apolónia, líder parlamentar ecologista, passou uma esponja nas acusações feitas ao PS em tempos de campanha eleitoral, de que iria prosseguir a política da coligação PSD/CDS-PP, e, após este encontro, incluiu os socialistas no grupo daqueles que defenderam uma rutura política - "como a CDU, Bloco de Esquerda e outras forças políticas (PAN)".

"Tivemos um processo eleitoral em Portugal que deram um determinado resultado muito concreto - houve uma coligação PSD/CDS que assumiu um compromisso, que foi a continuidade das politicas que vinha a prosseguir nos últimos quatro anos", lembrou Heloísa, sublinhando que "as outras forças politicas, designadamente, a CDU, mas também o PS, o Bloco de Esquerda, e outras forças, aquilo com que vieram a comprometer-se foi uma mudança relativamente às políticas que vinham a ser prosseguidas".

"Os que se comprometeram com uma mudança têm uma maioria dos deputados na Assembleia da República. Não podemos esconder", concluiu a líder parlamentar, que revelou a realização de outras reuniões - já mais técnicas - com o PS, na terça e quarta-feira da próxima semana, uma delas no Parlamento.

Nuno Miguel Ropio – Jornal de Notícias – Foto Mário Cruz / Lusa

Portugal. SOUSA PINTO DEMITE-SE DO SECRETARIADO MAS FICA NO PS, EM MINAGEM



Sérgio Sousa Pinto demitiu-se do Secretariado do Partido Socialista. Alegadamente por o partido estar a dar sequência ao entendimento com os partidos de esquerda com incidência parlamentar, Bloco, PCP e Os Verdes (CDU), Sousa Pinto preferia aliar-se à direita selvagem que tem devassado Portugal e os portugueses ao longo destes últimos quatro anos.

Provavelmente Sousa Pinto nunca leu os estatutos do Partido Socialista, provavelmente entrou no edifício do PS no Largo do Rato e fez-se militante por erro geográfico e ideológico. O que ele deveria pretender era o bairro da Lapa, um pouco mais acima do Largo do Rato, talvez na Rua de S. Caetano, 9, em Lisboa, tivesse melhor ambiente e estivesse mais agradado. Não tendo de se demitir de órgão de topo e de liderança por discordar de entendimentos com Paulo Portas e o seu CDS, a direita onde o PSD se sente como laranja operadora de espremedor de alta velocidade, que tritura o país e os portugueses enquanto o diabo esfrega os olhos e pasma.

A seguir a Sousa Pinto é muito provável que os que, como ele, preferem a direita selvagem apresentem demissões sob os mesmo pretextos. Para muitos Assis está na calha. Vera Jardim também, e outros… Ena tantos!

Tantos que aderiram ao Partido Socialista e têm vindo a desvirtuar a razão, objetivos e estatutos do partido, remetendo-o para o desempenho de políticas que geraram a concupiscência de um denominado arco de corrupção a que pomposamente chamaram arco da governação (PS-PSD-CDS). Muitos lhe chamam arco dos mafiosos – esses devem ser os exagerados más-línguas.

Mas, voltando a Sousa Pinto e outros correlegionários que nada têm que ver com o Partido Socialista, nota-se que o discordante só se demitiu do Secretariado do PS. Não se demitiu do partido. Que pena que não o tenha feito. Ele e todos aqueles que têm vindo a transformar o PS num PSD/CDS que, obviamente, de socialistas nada têm. Antes pelo contrário, estão mais próximos da fossa do salazar-fascismo que perdurou em Portugal por quase 50 anos. Está bem, só que atualmente esses têm umas máscaras modernas… Só as máscaras, se lhes permitirem que ganhem balanço podemos dizer adeus à democracia, á justiça, á liberdade reconquistadas em 25 de Abril de 1974. E que no PS têm todo o dever de defender e aperfeiçoar. Parece que é aquilo que António Costa está a tentar, independentemente dos Sousas Pintos não se demitirem do partido para procederem às operações de minagem. Minagem que pode redundar em implosão, se os militantes socialistas não se precaverem e defenderem a vocação claramente enunciada na fundação do PS.

Leia a notícia reproduzida do Diário de Notícias.

Carlos Tadeu / PG

Sérgio Sousa Pinto demitiu-se do Secretariado Nacional do PS

O deputado socialista alegou discordar da linha política do partido estabelecida após as eleições.

O socialista Sérgio Sousa Pinto demitiu-se este sábado do Secretariado Nacional do PS, o órgão mais restrito de decisão dentro do partido.

Sousa Pinto alegou discordar da linha política do partido estabelecida após as eleições e garante que dará explicações mais detalhadas na próxima reunião da Comissão Política Nacional do PS, marcada para terça-feira à noite.

Sousa Pinto foi deputado na última legislatura e foi reeleito por Lisboa. O antigo líder da Juventude Socialista presidiu à Comissão Parlamentar de Negócios Estrangeiros.

João Pedro Henriques – Diário de Notícias - Fotografia © Gerardo Santos / Global Imagens

Portugal. FRAUDES ELEITORAIS PARA ATINGIR A MAIORIA... OU O QUÊ?




Mário Motta, Lisboa

“Duas eleitoras foram impedidas de votar porque votos já tinham sido descarregados”. Conclusão de reportagem da RTP emitida ontem (9). Em certo passo da reportagem é afirmado que “Este caso, que só por si é um crime, foi apenas a ponta do iceberg no rol de irregularidades que descobrimos nestas eleições.”

O panorama pode ser de um manancial de fraudes que na maior parte dos casos são desconhecidos dos portugueses, para além das anulações de votos de emigrantes por os CTT e o Ministério dos Negócios Estrangeiros não terem cumprido adequadamente com a sua função no cumprimento da entrega dos envelopes em prazo útil e inscrito na lei eleitoral. Neste aspeto é de salientar que os serviços dos CTT desde que foram privatizados perderam qualidade e cumprimento dos prazos de entrega, para além de existirem imensos casos conhecidos de entregas de correspondência em endereços errados – esta foi uma conclusão a que o Página Global chegou.

No caso da ponta do iceberg referido na reportagem da RTP concluiu-se facilmente que existiram fraudes eleitorais. Não se pode considerar de outro modo. Ninguém vota em nome de outro cidadão eleitor sem intenção fraudulenta.

O que concluir? Quantos casos que nem chegam ao conhecimento público nem às autoridades (in)competentes existiram? Quais as intenções nos atos de fraude? Podemos supor que foi uma operação concertada na tentativa de a direita conseguir a maioria que julgava certa? Sim, podemos supor. Parece é que não podemos provar. Existem casos que foram remetidos ao Ministério Público… E sabemos muito bem como funciona o Ministério Público. Este será um caso para esquecer, como tantos outros.

Outras perguntas se impõem perante este acontecimento que  a RTP refere na reportagem com um parágrafo final, a complementar o vídeo: “No último domingo, os resultados eleitorais foram surgindo, mas ninguém soube de um acontecimento insólito passado na mesa de voto 17 da freguesia de Póvoa de Santa Iria, nas imediações de Lisboa.”

Não existisse esta reportagem e ficava tudo no segredo dos deuses fraudulentos e corruptos que adornam a política da direita portuguesa, mais concretamente o chamado “arco da governação”.

A CNE… A CNE é algo disfuncional e bolorenta que existe para ser parte integrante das verbas a ela destinada no Orçamento de Estado, depois revela-se inoperacional. Mesmo que proceda a propostas legislativas que agilize e torne mais seguro o ato de votar… é ignorada. Assemelha-se a um adorno em vaso de louça fina que comporta flores de plástico equilibradas por conteúdo de bosta em vez de terra, no centro de uma mesa de pé de galo requintada. Três pés na mesa, como três são os partidos do “arco da governação” que legislam em conformidade com as suas conveniências político-partidárias e daqueles que abundantemente os financiam.

As ligações da reportagem completa estão na prosa aqui elaborada. As perguntas são muitas, sobresaindo as principais: neste caso, fraudes eleitorais para atingir a maioria, ou o quê? Nas eleições anteriores, que elegeram Passos PM e deram a maioria à aliança de direita, também se registaram fraudes? Que garantias temos de que os nossos votos são realmente e devidamente contabilizados. As fraudes atingem que números?

Dá que pensar e verificar quão podre está o sistema em Portugal. Bem se diz que existe uma máfia que se apoderou dos principais poderes em Portugal. Qual a dimensão dessa máfia é que desconhecemos.

Portugal. Anúncio de Marcelo acaba com "um jogo que não era muito bonito" – Sampaio da Nóvoa



Sampaio da Nóvoa reage a Marcelo apontando o dedo ao professor. O antigo reitor da Universidade de Lisboa fala em "ética e valores" e afirma que " não se pode comentar presidenciais quando já se sabe [...] que se é candidato".

"Nos últimos meses estávamos a assistir a um jogo que não era muito bonito, do ponto de vista democrático, do ponto de vista do que devem ser a ética e os valores democráticos" diz Sampaio da Nóvoa.

Em declarações à SIC Notícias, reagindo ao anúncio de candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa, o também candidato a Belém disse que "não estávamos a assistir a uma coisa justa do ponto de vista democrático e creio que em democracia o que conta muito é também a ética e os valores. Não se pode fazer de conta, não se pode ser árbitro e jogador ao mesmo tempo. Não se pode comentar presidenciais quando já se sabe, e isso é uma decisão tomada há muito tempo, que se é candidato".

Sampaio da Nóvoa, também candidato a Belém, disse esta sexta-feira à noite na SIC Noticias que assim termina uma vantagem mediática de que o professor fez uso durante muito tempo.

Antes, também António Costa tinha comentado a entrada de Marcelo Rebelo de Sousa na corrida a Belém dizendo que apesar de "forte", o professor não deve "contar com o apoio socialista". Henrique Neto, outro candidatos a Belém, diz que já estava à espera deste anúncio.

O secretário-geral do Partido Socialista sublinhava que há duas candidaturas na área socialista que têm convergência para que uma delas possa sair vencedora na segunda volta das eleições presidenciais.

Ainda nas reações, Henrique Neto, outro candidato a Belém da área socialista, garante que não ficou surpreendido com a decisão de Marcelo Rebelo de Sousa. Henrique Neto diz mesmo que o professor andou meses a dissimular esta intenção.

TSF – com audio no original – Foto Paulo Spranger / Global Imagens

POR QUE WASHINGTON PRECISA PERSEGUIR O WIKILEAKS



Livro revela: numa época em que EUA tornaram-se antidemocráticos e opacos, site criado por Julian Assange expôs suas estratégia oculta para Oriente Médio e América Latina

Mark Weisbrot – Outras Palavras - Tradução: Inês Castilho

Parte das informações históricas mais importantes para a compreensão de eventos atuais vem, não por coincidência, de fontes que previa-se estar ocultas das sociedades. De novembro de 2010 a setembro de 2011, mais de 250 mil comunicações entre diplomatas norte-americanos, que nunca deveriam vir à luz do dia, foram tornadas públicas. Elas estão disponíveis no WikiLeaks, a organização de mídia sem fins lucrativos que aceita informação confidencial de fontes anônimas e as divulga para fontes jornalísticas e para o público. Alguns pesquisadores reuniram um tesouro de informações e análises que pode ser imensamente esclarecedor. (O livro recém-lançado a partir dessa pesquisa, publicado pela editora londrina Verso, éWikileaks files: The World according to US Empire [Os Arquivos do Wikileaks: o Mundo egundo o Império dos EUA, ainda sem edição em português].

Considere a Síria, hoje no centro do noticiário internacional por causa da crescente intervenção militar russa, assim como a onda de meio milhão de refugiados da região chegando à Europa. Por que passou tanto tempo até que Washington começasse – sim, infelizmente está apenas começando – a reconsiderar a política de exigir que o presidente Bashar al-Assad renuncie, antes que aconteçam negociações significativas de paz? Qualquer diplomata poderia ter dito à Casa Branca que exigir o suicídio político de uma das partes envolvidas numa guerra civil, como condição para as negociações, não ajuda a acabar com o fim do conflito. Em termos práticos, esta política é um compromisso com a guerra sem fim.

A resposta pode ser encontrada em comunicações diplomáticas divulgadas pelo WikiLeaks, que revelam que a mudança de regime na Síria tem sido a política do governo norte-americano desde 2006. E evidenciam, ainda pior – depois de centenas de milhares de mortos, incontáveis vidas em ruínas e mais de 4 milhões de refugiados que fogem do país – que Washington mantém uma política de promoção da guerra sectária no país com o objetivo de desestabilizar o governo Assad. Uma mensagem do principal diplomata dos EUA (o chargé d’affaires) em Damasco, em dezembro de 2006 oferece, sugestões sobre como Washington podia exacerbar certas “vulnerabilidades” do governo da Siria e tirar vantagem delas. Vulnerabilidades a ser exploradas incluem “a presença de extremistas islâmicos em trânsito” e “medo sunita da influência iraniana”.

Ao descrever essa estratégia em “Os Arquivos WikiLeaks”, o cientista político  Robert Naiman escreve:

Naquele tempo, ninguém no governo dos EUA podia alegar inocência sobre as possíveis implicações de tal política. Esta mensagem foi escrita no auge da guerra civil sectária entre sunitas e xiitas no Iraque, que os militares dos EUA tentavam sem sucesso conter. O desconforto do público norte-americano com a guerra civil sectária no Iraque, desencadeada pela invasão dos EUA, acabava de custar aos republicanos o controle do Congresso, nas eleições de novembro de 2006. O resultado do pleito precipitou, de imediato, a demissão de Donald Rumsfeld como secretário de Defesa. Ninguém trabalhando para o governo dos Estados Unidos na política externa, naquele momento, podia ignorar as implicações de promover o sectarismo entre sunitas e xiitas.

As mensagens revelam também que o apoio aos esforços para derrubar o governo sírio, iniciados em 2011, não eram uma resposta à repressão do governo Assad contra os protestos, mas antes a continuação de uma estratégia de anos, executada por meios mais violentos. Elas explicam por que o governo dos EUA podia empolgar-se tanto com os protestos e depois com a luta armada que ajudara a promover, chegando a ignorar o que um grande número de sírios pensava: independentemente de sua própria visão sobre Assad, bastava enxergar o caos no Iraque (mesmo antes do surgimento do ISIS) para perceber que um destino muito pior para o seu país era possível.

Aquele cenário se materializou. Com centenas de milhares de pessoas mortas e um impasse militar, ambos facilmente previsíveis, finalmente o governo de Barack Obama está mostrando alguma flexibilidade em torno de negociações significativas — um movimento fortemente encorajado por muitos democratas da Câmara. Por que isso não poderia ter acontecido antes?

Relatórios de diplomatas dos EUA na América Latina jogam muita luz na política norte-americana também nesta região. Eles mostram um padrão consistente não somente de hostilidade mas de ação contra governos de esquerda — Bolívia, Equador, Honduras, Venezuela e outros. As mensagens veem a Venezuela como tão influente que é quase como se estivessem falando de uma nova União Soviética a ser contida. Esboçado em 2006, um plano de cinco pontos para frear o sucesso político do presidente Hugo Chávez na Venezuela (morto de câncer em 2013), registrado em mensagem de William Brownfield, embaixador dos EUA no país à época, inclui “penetrar na base política do chavismo”, “dividir o chavismo” e “isolar Chávez internacionalmente.” Outros memorandos fornecem mais detalhes de como isso foi tentado. Por exemplo, a pressão dos Estados Unidos foi exercida sobre países tão pequenos e carentes como Haiti, Honduras e Jamaica, para que rejeitassem ajuda da Venezuela em petróleo, o que lhes permitiria economizar centenas de milhões de dólares.

As mensagens também mostram como Honduras, sob o governo do presidente Manuel Zelaya, tornou-se um Estado inimigo, ao aproximar-se de outros governos de esquerda. Zelaya foi derrubado pelos militares em 2009, e ficou claro desde o dia do golpe, quando o governo Obama emitiu uma declaração esclarecendo de que não se opunha ao fato, de que lado Washington estava. Aqui os telegramas do WikiLeaks respaldam o que poderia ser deduzido no momento pela informação pública.

Emails recentemente divulgados pela então Secretária de Estado Hillary Clinton fornecem detalhes sobre como o governo dos EUA ajudou a garantir que o presidente de Honduras, eleito democraticamente, não voltasse até queu “eleições” – que quase toda a América Latina recusou-se a reconhecer – fossem realizadas sob o governo golpista.

Todos esses documentos, antes classificados como secretos, ajudam a explicar as intenções e estratégia do governo norta-americano atual, e quanta coerência interna elas mantiveram em tantas ocasiões e lugares – exceto acordo histórico com o Irã. Na América Latina, esses documentos ajudam a entender por que os EUA ainda se recusam a aceitar um embaixador da Venezuela, mesmo depois de ter aceito um embaixador de Cuba. Essas políticas são consistentes entre si e com os últimos cinquenta anos  das relações entre EUA e América Latina. Quem quer que esteja fazendo política internacional no governo Obama (não é assim tão transparente) está ainda calculando que na Venezuela a oposição pode ser melhor ajudada pela tentativa de deslegitimizar o governo, enquanto, em relação a Cuba, aposta-se na abertura de relações diplomáticas e de comércio com os EUA. Não se trata de negar o significado histórico e simbólico do restabelecimento de relações diplomáticas dos Estados Unidos com Cuba. Mas em ambos os casos, a meta se mantém a mesma: mudança do regime.

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