A
lucidez no exercício do mais alto cargo da magistratura de um país é uma
ferramenta definidora do carácter de um líder que exige a sua consagração pelo
voto do soberano, através dos marcos da legalidade e da legitimidade.
William
Tonet* - Folha 8, opinião
A
ausência de um destes pressupostos demonstra a natureza do seu titular, que
governando, não tem o consenso do povo e voto eleitor.
Senhor
Presidente da República de Angola, José Eduardo dos Santos, escrevo-lhe, uma
vez mais, apelando a sua sensibilidade, para se colocar não como Presidente dos
angolanos do MPLA, mas como Presidente de todos angolanos, logo com amor
paternal, principalmente, em relação aos meninos e jovens com idades próximas a
dos seus filhos.
Escancare
o coração e sinta o gemido e a dor de meninos, muitos hoje, com a idade que o
levaram a abandonar o Sambizanga e partir para o Congo para abraçar a lua de
libertação nacional e devolva-os as mães e esposas dilaceradas com a prisão
injusta, levada a cabo, por serviços castrenses, desejosos de comprometer o seu
futuro, pois a responsabilidade lhe será imputada.
A
sua biografia fala do período de irreverência juvenil e das manifestações
contra as políticas injustas, então praticadas, nos anos 60, pelas autoridades
coloniais portuguesas, que aderiu e participou, para quê e porquê, se agora, em
democracia o Senhor nada faz contra a repressão, a tortura, a prisão e por
vezes os assassinatos levados a cabo pela Segurança de Estado e Polícia, contra
jovens que nem o querem matar, apenas apelar a uma melhor governação.
Senhor
Presidente, José Eduardo dos Santos, acredito ser altura de emprestar nobreza
ao seu reinado, depois de 36 anos de poder ininterrupto, sem nunca ter sido
nominalmente eleito. Foi um erro estratégico, esta opção, pois qualquer que seja
o desfecho final do seu consulado, essa condição remetê-lo-á para a galeria dos
ditadores…
Poderia
ter evitado isso, principalmente, quando morreu assassinado o seu principal
adversário político: Jonas Savimbi.
Depois
de 2002, o senhor concorreria praticamente sozinho e poderia ser eleito
nominalmente, pela primeira vez, e se estivesse difícil, apelar à “engenharia
informática de esgoto”, para concentrar os votos nas suas urnas, não seria
anormal, pelo contrário… Não o tendo feito está mais vulnerável enquanto
líder…, quer interna como externamente.
Senhor
Presidente, os seus apoiantes, acredito, a maioria exímios bajuladores,
escondem-lhe a realidade, caso contrário, saberia do clamor do povo e da baixa
popularidade que tem. Ninguém mais acredita no seu consulado e Executivo,
incluindo destacados militantes e dirigentes do MPLA, que vaticinam a sua
partida. Não o dizem por temerem, na crónica cobardia, a perca das mordomias.
Felizmente
como não faço parte deste exército tenho a autoridade de lhe trazer a “voxi
populis”. O declínio da sua áurea começou com os assassinatos, dentre outros,
de Ricardo de Melo, Adão da Silva, Mfulumpinga Landu Victor, mais recentemente,
com o lançamento aos jacarés de dois jovens que o protegeram anos a fio, na sua
Guarda Presidencial: Cassule e Kamulingue, seguindo-se, no quartel do palácio,
Hilbert Ganga.
São
muitas mortes nas redondezas do seu gabinete, com igual omissão.
A
prisão dos 15+1 jovens é a maior asneira do seu consulado, pois tolha a imagem
do Executivo de que é titular, colocando-o na lama, face à insensibilidade que
vem denotando, com o avolumar de injustiças e o temor que demonstra face ao
exercício da democracia, nos marcos consagrados, numa constituição feita a sua
imagem e semelhança.
Senhor
Presidente, será que os seus assessores (nacionais e estrangeiros),
responsáveis pela elaboração da actual Constituição, tendo escondido ao MPLA
(os deputados do partido no poder, tinham outro ante-projecto), também lhe
esconderam a consagração destes direitos fundamentais? Se não, porque razão os
cidadãos não os podem, livremente, utilizar?
Essa
postura descredibiliza-o, como líder e democrata, daí estar a ser fortemente
criticado, também pela promoção de tribalismo, contra um jovem de 18 anos, por
alegadamente, adoptar o nome do comandante Nito Alves, que paradoxalmente,
também não conseguiu contar com a sua solidariedade, enquanto coordenador da
Comissão de Inquérito, sendo então assassinado pelo MPLA em 1977, agora pode
acontecer o mesmo com o seu homónimo, quando chineses e outros têm a
nacionalidade sem cumprir os requisitos legais…
Senhor
Presidente, não acredito ser tão mau e insensível, mas a sua insensibilidade
abomina, ao ponto de, alegadamente, preferir que morra, nas fedorentas
masmorras do regime o filho de um homem que o serviu com “fidelidade canina” e
que foi director da sua Fundação, o Luaty Beirão, que empreende há mais de 19
dias uma greve de fome, face às injustiças, estando muito mal.
O
mais grave é que o Senhor sabe disso, mas dizem-me, não gosta de ouvir
conselhos de gente que não o bajula, gente com coerência e autoridade moral,
preferindo antes ser “morto pelo elogio do que salvo pela crítica”.
Será
que se um dos jovens, Marco Mavungo, José Kalupeteka, Quim Ribeiro + 21
polícias, morrer na cadeia o Senhor continuará a viver com paz espiritual,
sabendo que mais uma vida se foi face à injustiça do seu executivo?
Senhor
Presidente, não se esqueça que é pai, logo lembre-se do que sofre quando um
deles não está bem, sei ser difícil isso acontecer, pela faustosa vida que têm,
mas ainda assim imagine o que é o sofrimento de um pai, sabendo que seu filho
está preso ou morreu face à sua omissão ou descaso.
O
poder da oração tem muita força, não defraude todo um país, pois ser radical,
não demonstra nobreza, pelo contrário, é medo, é cobardia… Desprenda-se do
colete de força e prepare uma retirada feliz, pois caso contrário nunca ninguém
o recordará como bom patriota…
Senhor
Presidente, saiba que na actual conjuntura, os maiores e piores adversários
habitam na sua própria legenda, por não ter conseguido, como é natural, servir
a todos…, logo se não preparar pontes com os políticos da oposição e membros da
sociedade civil, não bajuladora, correrá o risco de acabar sozinho no futuro,
inclusive abandonado por alguns dos seus próprios filhos.
Senhor
Presidente, finalmente, seja, pelo menos, uma vez líder de todos, líder sem
armas e exército privado, líder do bem, líder do amor, capaz de interpretar os
conselhos do Papa e do Presidente Obama, pense como um pai, promova uma
verdadeira reconciliação e conciliação, entre todos actores políticos.
Agora,
na magistratura dos seus 73 anos de idade, faça algo abrangente, porque amanhã,
é a lei da vida, poderá ser tarde e nem dos feitos positivos desfrutar e ser
recordado.
Incite
a promoção para uma verdadeira justiça, mande libertar os jovens políticos
inocentes, demonstre não ter medo deles e das manifestações, coisa que o
indulto/2015 de cariz sectário, não fez, discriminando, injustamente, muitos
inocentes que definham nas cadeias, por razões políticas.
Seja
líder!
*Diretor
do Folha 8
Leia
mais em Folha 8
Sem comentários:
Enviar um comentário