domingo, 8 de novembro de 2015

Portugal. UM MAU SINAL



Pedro Marques Lopes – Diário de Notícias, opinião

1. Não vivemos uma época em que seja minimamente seguro fazer previsões. No entanto, tudo indica que teremos um acordo parlamentar que vai levar o PS ao governo. Os partidos de esquerda já foram longe demais para que se possa voltar atrás. Uma eventual rutura faria que durante muito tempo ninguém levasse a sério os partidos de esquerda, sobretudo o PS e o PCP. Estando a bola do lado dos comunistas, seria difícil para os seus dirigentes centrais explicar à CGTP e aos autarcas comunistas que teria sido por causa do PCP que o governo de direita se manteria no poder. Para António Costa e o PS seria mais uma derrota brutal e a prova provada de que a estratégia de buscar apoios à esquerda tinha sido um erro. Em geral, ficava claro que a esquerda não se consegue entender e não é capaz de encontrar soluções alternativas.

Das poucas coisas que sabemos ao certo é que o governo será apenas da responsabilidade do PS. E isso é um erro grave, um contributo significativo para a tese da falta de legitimidade política desse governo e uma prova de que o BE e o PCP não querem assumir as responsabilidades que os seus eleitores lhes atribuíram. A não presença dos três partidos no governo é um mau sinal.

É evidente que a legitimidade do governo vem do Parlamento, mas é, no mínimo, aconselhável que aquele seja o reflexo da representação parlamentar da maioria.

Um partido que foi o grande derrotado das eleições organizar o governo levanta questões de legitimidade política; ser apenas esse partido a estar no governo aprofunda-as. Um governo com os três partidos empenhados na governação seria muito mais representativo da maioria que tudo indica governará o país e ninguém poderia duvidar do empenho dos vários partidos que fazem parte do acordo. Seria, aliás, a melhor forma de dar alguma coesão a uma solução composta por organizações partidárias com diferenças ideológicas tão significativas.

As fricções entre PS, BE e PCP, que inevitavelmente existirão, seriam muito melhor resolvidas se todos estivessem no governo. O exercício do poder, a sua dinâmica ajuda na busca de soluções de consenso. A coexistência cria laços, permite a compreensão da necessidade de flexibilidade. A implementação de medidas mostra aos vários intervenientes que há uma enorme diferença entre a teoria e a prática, que é muitas vezes essa implementação que define o verdadeiro conteúdo das normas.

Não duvido de que o acordo entre os três partidos será claro, detalhado e com as medidas a aplicar bem definidas - não poderá ser de outra maneira -, mas quem se responsabiliza pelas medidas tem também de se responsabilizar por as aplicar.

Por outro lado, não estando no governo, o BE e o PCP não se afirmarão como partes da solução, mas serão vistos como partidos que somente não querem alguma coisa. Afinal, o BE e o PCP querem governar, exercer o poder ou continuar a ser apenas partidos que não querem assumir as suas responsabilidades perante quem votou neles?

A não presença do BE e do PCP indicia uma solução instável e uma tendência para termos uma enorme bipolaridade no comportamento desses dois partidos.

A solução governativa é, claro está, constitucionalmente legítima e terá de ser viabilizada pelo Presidente da República, mas não começa nada bem.

2. Para a coligação PAF é essencial que o governo PS caia o mais depressa possível. É fundamental, para o PSD, que o eleitorado do centro não tenha tempo para perceber que um governo apoiado pelos comunistas não comerá criancinhas, não nacionalizará, não deixará de cumprir no essencial os compromissos europeus. No limite, a possibilidade de as opções do novo governo não se distinguirem muito, em termos económicos, das do anterior governo são um cenário dantesco para a coligação.

Marcelo Rebelo de Sousa vai ser sujeito a todas as pressões possíveis e imagináveis para que dê sinais de que derruba o governo logo que os prazos constitucionais o permitam.

Coisa que o professor não fará. Em primeiro lugar, porque basta olhar para a forma como os eleitores votaram nas legislativas para se perceber que um candidato que se colasse às posições do PAF não teria a mais pequena hipótese de chegar a presidente. Em segundo, porque, pela baixíssima popularidade de Cavaco Silva, os portugueses querem mesmo um presidente que esteja acima dos partidos e não seja alguém colado a um partido ou a uma área ideológica. Em terceiro, porque, apesar de estarmos num momento de bipolarização partidária, o eleitorado maioritário continua a ser de centro e anseia por alguém que corporize essa moderação.

Não me surpreenderia, aliás, que o PAF apresentasse um candidato de última hora que, pelo menos, tirasse votos a Marcelo Rebelo de Sousa, de modo a que este perdesse as eleições. Passos e Portas sabem que se Marcelo for eleito e não derrubar o governo dará um reforço de legitimidade política ao executivo, que contrariará a linha de oposição do PAF - que se centrará na repetição sistemática da mensagem da ilegitimidade política. Preferirão, assim sendo, um presidente de esquerda que possam associar à tese da espécie de golpe de Estado.

“O HOMEM DO CAVAQUINHO” REVELA AS ROTAS ESQUECIDAS DO INSTRUMENTO NA INDONÉSIA



Jacarta, 08 nov (Lusa) - "O homem do cavaquinho" é o novo documentário que o realizador Ivan Dias está a preparar para revelar as rotas do instrumento português na Indonésia e do popular "fado indonésio".

A realização deste documentário surge na senda de um sonho antigo de Ivan Dias de "procurar as histórias do cavaquinho", instrumento que nasceu em Braga, a sua cidade natal, e de contá-las ao grande público.

Depois da série "Apanhei-te cavaquinho", que conta a viagem do instrumento pelo mundo, designadamente Portugal, Brasil, Cabo Verde, Los Angeles e Havaí, o produtor decidiu seguir as informações "muito subtis" sobre algo que "parecia ser uma coisa antiga que se tinha perdido" na Indonésia.

"Há uma desinformação brutal sobre a Indonésia, tanto por culpa dos holandeses durante 200 anos, como por culpa da ditadura do Suharto", justificou.

Os portugueses foram os primeiros europeus a chegar à Indonésia, em busca de especiarias, o 'ouro' do século XVI, e procurando espalhar o catolicismo, mas a subsequente colonização holandesa tentou apagar todas as marcas portuguesas ali deixadas.

O documentário marca também o regresso do compositor e multi-instrumentista Júlio Pereira ao universo do cavaquinho, instrumento que, há mais de 30 anos, levou ao seu reconhecimento nacional e internacional.

Segundo o realizador, "há quatro anos, o Júlio Pereira não queria voltar a pegar no cavaquinho", mas durante uma viagem de comboio em que tentava convencê-lo a tal, o revisor reconheceu-o como "o homem do cavaquinho" e foi aí que o músico decidiu render-se e embarcar no projeto.

Desde então, além do documentário, Júlio Pereira reinventou o instrumento, gravando o disco "Cavaquinho.pt" e iniciando a Associação Cultural Museu Cavaquinho, à qual preside.

Durante uma viagem de duas semanas, os dois, juntamente com o diretor de fotografia Carlos Mendes Pereira, viram as suas expectativas superadas ao descobrirem que o keroncong - nome dado ao cavaquinho local e também ao estilo com influências do fado - "é talvez o único género musical que une todo o arquipélago da Indonésia".

"O keroncong vem diretamente de uma raiz cultural portuguesa que se foi transformando de Lisboa para Cabo Verde, de Cabo Verde para Goa, de Goa para Malaca e de Malaca para Java e para a Banda Neira", explicou.

Ivan Dias sublinhou que o keroncong "tem de facto uma ligação umbilical especial com Portugal pelos instrumentos", sendo que os indonésios "dividiram o cavaquinho em dois", e pela temática, com "canções romanescas" e "de saudade".

A película "é realmente fruto do amor de muito gente", porque a RTP suportou dois terços do orçamento, com "20 mil euros", e "muita gente envolvida no projeto abdicou de qualquer tipo de ganho", frisou.

"A RTP vive sempre dias complicados quando é para apoiar estas coisas mais importantes da cultura. Gastam mais dinheiro noutras coisas", lamentou o bracarense.

O trabalho deverá estar finalizado em dezembro, mas ainda não há uma data prevista para a sua exibição na televisão pública, sendo que Ivan Dias deseja também oferecê-lo à Indonésia para que a verdade sobre a origem do keroncong se mantenha viva do outro lado do mundo.

Ivan Dias comprometeu-se também a tentar levar a Portugal o famoso grupo musical indonésio Keroncong Tugu, por considerar que "é o mínimo que Portugal pode fazer por uma comunidade que mantém desde 1661 uma relação umbilical" com o país.

A comunidade dos 'tugu' ou dos 'portugueses negros' terá nascido do cruzamento de escravos de portugueses na Índia, que foram levados para Jacarta, com comerciantes, artesãos e aventureiros oriundos de Malaca, Ceilão, Cochim e Calecute.

Entretanto, o produtor reuniu-se com a vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa, Catarina Vaz Pinto, que se mostrou disponível para apoiar a realização do sonho do grupo de ir a Portugal.

Ivan Dias conta com várias produções relacionadas com a música, como "Carlos do Carmo: Um homem no mundo", "A revolução de abril - No olhar de Carlos Gil", "Povo que canta", "Fados" e "Guitarras à portuguesa".

AYN // VM

EURODEPUTADA ANA GOMES DIZ QUE ASSISTIU A ELEIÇÕES CALMAS NA BIRMÂNIA



Lisboa, 08 nov (Lusa) -- A eurodeputada Ana Gomes, observadora da União Europeia às eleições na Birmânia que decorreram hoje disse à Lusa que na zona da capital birmanesa assistiu a um processo que decorreu bem e com calma.

"Eu só posso falar por aquilo que eu vi e, portanto, é uma visão muito limitada e muito parcial. Ainda não fiz o confronto com os meus colegas que estão cá na missão do Parlamento Europeu e da missão da União Europeia. No grupo em que estava integrada tudo correu bem e com calma", disse Ana Gomes em contacto telefónico a partir de Lisboa, acrescentando que o processo lhe lembrou Timor-Leste pela calma e compostura das pessoas.

Sobre locais visitados, Ana Gomes disse que o ato eleitoral correu com ordem, foi pacífico e que as pessoas estavam claramente muito "entusiasmadas" por votar.

"Nos sítios onde eu estive registou-se uma elevada afluência", disse ainda a eurodeputada portuguesa que esteve em Rangum mas também numa zona fora da capital.

As assembleias de voto para as eleições legislativas que decorreram hoje na Birmânia fecharam às 16:00 (09:30 em Lisboa) tendo Ana Gomes assistido também ao início da contagem dos votos.

"Os resultados vão sendo conhecidos parcialmente, são públicos mas o processo de contagem vai demorar algum tempo. Os resultados oficiais vão demorar alguns dias", acrescentou a eurodeputada socialista.

A líder da Liga Nacional para a Democracia, Aung San Suu Kyi, 70 anos, prémio Nobel da Paz, apresentou-se como a provável vencedora seguida pelo dirigente do Partido para o Desenvolvimento e Progresso da União (USDP, na sigla em inglês).

Seja qual for o resultado, o presidente da Birmânia, Thein Sein prometeu respeitar a vontade dos eleitores expressa nas urnas.

"Aceitaremos o desejo dos eleitores, seja qual for. O mais importante para este país é a estabilidade e o desenvolvimento" disse o chefe de Estado no momento em que votava acompanhado pela mulher no centro eleitoral de Naipyido.

Thein Sein foi primeiro-ministro da última Junta Militar e desde 2001 encabeça um governo civil que defende a implementação de reformas no sentido de uma "democracia disciplinada".

PSP // JMR

Moçambique. Presidente Nyusi diz que "não está a ser possível" falar com líder da Renamo



O Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, disse hoje que pretende dialogar com o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, para devolver a estabilidade ao país, "mas não está a ser possível".

"Estou a fazer o esforço de conversar com ele [Afonso Dhlakama], mas não está a ser possível", declarou o chefe de Estado, citado pela Agência de Informação de Moçambique, durante um encontro em Maputo com bispos da Conferência Episcopal moçambicana.

O líder da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal partido da oposição em Moçambique, não é visto em público há um mês, depois uma operação policial na sua residência na Beira, província de Sofala, que visava a recolha de armas, e após vários outros incidentes entre a sua guarda e as forças de defesa e segurança na província de Manica.

No encontro com os líderes religiosos, que hoje apelaram ao Governo e à Renamo para o abandono das armas e início imediato do diálogo, Nyusi rejeitou um cenário de mediação internacional.

"Acho que este é um assunto que pode ser resolvido dentro de casa. É uma conversa de quarto. Não vejo motivo para se escolher um país para resolver isso. Estou a fazer tudo para ter o diálogo", afirmou.

Moçambique vive momentos de incerteza política, provocada pela recusa da Renamo em reconhecer os resultados das eleições gerais de 15 de outubro do ano passado e pela sua proposta de governar nas seis províncias onde reclama vitória, sob ameaça de tomar o poder pela força.

As últimas semanas têm sido marcadas por confrontos entre as partes, estando a decorrer uma operação policial de recolha de armas da Renamo em vários pontos do país, num dos momentos de maior tensão política e militar desde o Acordo Geral de Paz, que selou, em 1992 em Roma, 16 anos da guerra civil, então sob mediação da organização católica Comunidade de Santo Egídio.

Aos bispos católicos, o Presidente da República pediu que ajudem o Governo com soluções e não apenas com a identificação de problemas, reiterando que a causa da instabilidade do país reside na pobreza.

"Trata-se de desentendimento entre duas pessoas e apenas uma questão de um sair e entrar outro não vai resolver nada", sustentou o chefe de Estado, para quem, "enquanto existirem pessoas que não têm comida, gente que não tem saúde, gente que não tem educação, a estabilidade vai faltar".

Nyusi também se referiu às ameaças financeiras e económicas que o país atravessa, traduzidas pela forte depreciação do metical face ao dólar, queda do investimento estrangeiro e do apoio externo, redução de divisas e aumento da dívida.

"Não tenho remorsos de afirmar que estamos a principiar um novo ciclo de governação com a menor disponibilidade de divisas, que decorre também da redução dos níveis de ajuda externa ao nosso país", afirmou, retomando o discurso proferido no dia 29 de outubro, na cerimónia de 20 anos do banco Millennium bim, quando resistiu a uma atitude de desespero e avisou que o Governo tenciona "implementar reformas estruturais do tecido produtivo".

A Igreja Católica moçambicana apelou hoje ao Governo e à Renamo para que abandonem as armas e retomem de imediato o diálogo, deplorando "a incoerência entre o que se diz e o que se faz".

"Apelamos ao Governo e à Renamo para o abandono absoluto das armas, a retomada imediata do diálogo eficaz entre as partes em conflito, envolvendo outras forças vivas da sociedade", disse o arcebispo de Maputo, Francisco Chimoio, no encontro com o Presidente moçambicano.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Angola. Ativistas detidos em Benguela há nove dias ainda têm de pagar 360 euros de custas



A associação angolana "Mãos Livres" tentará pagar segunda-feira a multa de 16 euros a que foram condenados 18 ativistas, detidos há nove dias por se manifestarem em Benguela, mas cada um ainda terá de pagar 360 euros de custas.

O advogado e dirigente da associação "Mãos Livres" David Mendes explicou hoje à Lusa que só na segunda-feira, após pagamento da multa, que resultou na conversão de uma pena de prisão de dois meses decidida pelo Tribunal do Lobito, é que estes jovens poderão ser colocados em liberdade.

Isto depois de, conforme a Lusa noticiou na sexta-feira, dia do julgamento sumário, que se prolongou por nove horas, o juiz não ter permitido que aquela associação - formada por juristas para a defesa dos direitos humanos em Angola - se constituísse como fiadora do pagamento da multa, pelo que os 18 jovens ativistas permanecem detidos, desde 30 de outubro.

"Foram emitidas as ordens de soltura, mas estão pendentes do pagamento em dinheiro da multa. Na segunda-feira, o nosso representante em Benguela vai ao tribunal fazer o pagamento", garantiu David Mendes.

Estes jovens foram absolvidos do crime de desobediência à autoridade, tendo o tribunal considerado que a manifestação fora "lícita". Contudo, foram condenados a dois meses de prisão (pena convertida em multa) pela prática de um crime de "assuada", por terem distribuído panfletos.

Cada um dos 18 jovens foi condenado ao pagamento de uma multa diária de 40 kwanzas, totalizando 2.400 kwanzas (16 euros). Além disso, cada um ainda terá 15 dias para pagar o Imposto de Justiça (custas judiciais), fixadas em 52.000 kwanzas (cerca de 360 euros), mais do dobro do salário mínimo em Angola.

"Isto é uma exorbitância. Ainda tentei recorrer da decisão, mas o senhor juiz não aceitou e disse que se tinham [os jovens ativistas] constituído advogado [da "Mãos Livres] é porque também tinham dinheiro para pagar. O ideal para ele era não ter advogado. Foi uma resposta absurda", criticou hoje o advogado David Mendes.

Em causa está uma manifestação pacífica contra o regime liderado pelo Presidente José Eduardo dos Santos e em solidariedade para com os 15 ativistas detidos desde junho em Luanda, promovida a 30 de outubro pelo autointitulado "Movimento Revolucionário de Benguela".

"Se a manifestação é lícita, então a distribuição dos panfletos também era", criticou anteriormente o advogado e dirigente da associação "Mãos Livres".

"O juiz exigiu que eles pagassem a multa no momento. Se não ficavam na cadeia até segunda-feira, mesmo contra a vontade do Ministério Público [que aceitou outras formas de garantia do pagamento da multa]. E assim aconteceu, ficam na cadeia", lamentou David Mendes, em declarações à Lusa na sexta-feira.

Na impossibilidade de reuniram na hora os quase 300 euros para pagamento de todas as multas, já com o terminal bancário desligado - com David Mendes a assumir esse pagamento por cartão bancário - por ausência do funcionário do tribunal e perante a recusa do juiz em aceitar que o advogado fosse fiador do pagamento até segunda-feira, os jovens permanecem na cadeia pelo menos mais dois dias.

"Mas, no final do julgamento, o juiz ainda lhes pediu para não fazerem manifestações, que não era preciso, que o Executivo não deve ser pressionado. Aconselhou os jovens a não fazerem mais manifestações, o que para nós é um absurdo, o juiz tomar um posicionamento político", relatou o advogado.

Estas detenções e manifestações surgem numa altura de forte pressão internacional sobre as autoridades angolanas devido à detenção, desde junho, em Luanda, de 15 jovens, acusados de atos preparatórios para uma rebelião e um atentado contra o Presidente angolano.

PVJ//GC / Lusa

Angola. PAÍS VAI TER DE FAZER MAIS E MELHOR COM MENOS DINHEIRO - FMI



O grande desafio de Angola nos próximos anos é "fazer mais e melhor com menos", adaptando as políticas públicas à descida das receitas, disse à Lusa o representante permanente do Fundo Monetário Internacional no país.

"O grande desafio de Angola é fazer mais e melhor com menos. Num contexto de uma menor receita por causa da quebra do preço do petróleo, um melhor uso dos recursos disponíveis é necessário para atingir os grandes objetivos de criar uma base para o crescimento forte sustentado, aumentando o papel do setor privado; diminuir a dependência do petróleo apostando na diversificação da economia; e também reduzir a pobreza", disse Max Alier.

Em entrevista à Lusa a propósito dos 40 anos da independência de Angola, que se assinala a 11 de novembro, Max Alier concretizou que "são precisas reformas estruturais para diminuir os custos do setor não petrolífero, através de uma melhoria do ambiente de negócios e uma diminuição da burocracia, para além de aumentar a produtividade do capital e do trabalho: o primeiro continuando a construção de infraestruturas críticas, e o segundo através de investimentos fortes na saúde e na educação".

Max Alier lembrou que nestas últimas quatro décadas Angola reconstruiu rapidamente as infraestruturas críticas e conseguiu reduzir a pobreza, num processo que se acelerou bastante com o fim da guerra civil, em 2002, e com o início da produção de petróleo.

"Isto foi possível porque o país aumentou significativmente a receita do petróleo, não só pelo preço, mas também pelo aumento da produção a seguir ao fim da guerra civil, e também porque houve um crescimento muito rápido do setor não petrolífero", acrescentou o costa-riquenho que lidera a delegação do FMI em Angola desde junho.

Em Angola, o petróleo ocupa uma parte central da vida, mas Max Alier diz que isso tem aspetos positivos e negativos: "A existência de grandes quantidades de petróleo é uma bênção porque permitiu que a reconstrução da economia e a redução da pobreza nos anos seguintes ao conflito fosse mais rápida, mas por outro lado, como acontece noutros países produtores de matérias-primas e que dependem delas, a velocidade com que fazem as reformas para diversificar a economia é mais lenta e tornam-se complacentes e ficam expostas às flutuações dos preços".

A dependência do petróleo foi sendo disfarçada pelos altos níveis de produção e pelo preço alto, que permitia que o Governo construísse reservas e ao mesmo tempo fosse apostando em infraestruturas, mas sem apostar decisivamente noutros setores da economia, o que deixou Angola completamente vulnerável à crise petrolífera de 2008 e 2009.

"Angola sofreu muito com a quebra do preço do petróleo em 2009 e a crise financeira mundial, mas as políticas macroeconómicas seguidas na altura foram as adequadas e isso, combinado com a rápida subida dos preços no pós-crise, permitiu que o país mantivesse as finanças públicas em ordem e, chegados a 2014, tinham o nível mais baixo de inflação da história (6,5%) e quantidades expressivas de reservas internacionais", diz Max Alier.

Desde então, acrescenta, o país tem melhorado e ganhou consciência de que a diversificação é mesmo uma necessidade imperativa: "Após as eleições de 2012 foi aprovado o Plano Nacional de Desenvolvimento 2013-2017, que está focado diretamente em criar as condições para a diversificação da economia".

O problema, aponta, é que "o Plano foi preparado quando o petróleo estava acima dos 100 dólares, por isso o grande desafio é fazer grandes esforços para melhorar a eficiência da despesa pública para fazer mais e melhor com menos, porque têm de cumprir os objetivos, mas têm muito menos recursos para os atingir".

Como vai Angola conseguir fazer isso, então, num contexto de menores receitas? Max Alier diz que os angolanos agora acordaram: "A crise de 2009 deu o primeiro toque para se focarem na diversificação, mas com a quebra do preço do petróleo no último ano, acordaram; as autoridades estão determinadas a diversificar, e já fizeram várias reformas, como a lei do investimento privado e o guichet único, mas há muito para fazer ainda".

Assim, conclui, "saber como vão emergir no pós-crise vai depender fundamentalmente de conseguirem ou não fazer as reformas que consigam diversificar a economia, reduzindo os custos e aumentando a produtividade".

MBA // PJA / Lusa

Portugal. O XX ENTREGOU-SE A DEUS



João Quadros – Jornal de Negócios, opinião

Cavaco Silva atribuía a Nossa Senhora os sucessos nas avaliações da troika, Cristas pedia aos agricultores para rezarem por chuva, Passos andava de crucifixo em campanha

Cavaco Silva atribuía a Nossa Senhora os sucessos nas avaliações da troika, Cristas pedia aos agricultores para rezarem por chuva, Passos andava de crucifixo em campanha e, agora, o novo ministro da Administração Interna culpa o diabo pelas cheias em Albufeira. Portugal é uma reunião da IURD com um dízimo ao cubo. Não é por acaso que o principal candidato a Presidente da República fazia homilias ao domingo e que até os comunistas apostam no padre para PR.

A partir do momento em que um ministro da Administração Interna vem atribuir a culpa dos estragos de umas cheias ao demónio, tudo é possível, incluindo o exorcismo da Constituição. O ministro da Administração Interna vai propor presentes a Deus para dominar o temporal. Calvão acha que um presente de 14 milhões de euros é natural e que uma cheia é obra do demónio. Calvão da Silva, decididamente, não acha que o diabo está nos detalhes. Quando o recém-responsável pela Administração Interna diz que "o que aconteceu em Albufeira foi uma força demoníaca", é uma acusação grave. É verdade que Albufeira é um bocado sinistra, mas parece-me exagerado apontar o dedo ao diabo pelas falhas na construção, ordenamento, etc. Seja como for, não deixa de ser o ministro das Polícias a acusar o Demónio. Já ouvi falar muitas vezes no advogado do Diabo, se eu fosse o Mefistófeles ligava-lhe.

Claro que, do ponto de vista teológico, estas cheias também podem ser atribuídas a Deus. Não era a primeira vez que Ele usava água em excesso; e a destruição foi em Albufeira e o Criador é conhecido como o grande arquitecto. Provavelmente, há uma corrente que, ao contrário da força demoníaca do Calvão, defende que foi um acto divino de arquitectura paisagística.

O que já me parece mais estranho é que o ministro da Administração Interna encomende a Deus as vítimas das cheias. É verdade que este Governo misturou o Ministério da Cultura com a Igualdade e a Cidadania, mas não acredito que este seja um Ministério da Administração Interna das Almas. Ver um ministro encomendar o paraíso para alguém é um passo em frente para este ministério que, com o antecessor, apenas metia cunhas para vistos Gold de residência.

Quando o ministro Calvão da Silva afirma que o senhor de "oitentaianos", que morreu em Boliqueime, "entregou-se a Deus, com certeza que lhe reserva um lugar adequado", no fundo está a dizer que o senhor fez o que fez a malta que aceitou o convite de Passos para este Governo de quinze dias. De certa forma, é impossível não ter a certeza que Deus nos reserva um lugar adequado, quando o Sérgio Monteiro vai liderar a venda do Novo Banco. Aleluia! 

Meia dúzia de fúrias demoníacas

1 Ministério da Cultura e da Igualdade - "a nova ministra da Igualdade e Cultura vai ter de fazer uma ópera só com ciganas".

2 "Nuno Magalhães recandidata-se à liderança da bancada do CDS" - Nuninho X: "mamã, o papá vai ser líder da bancada!".

3 "Marta Rebelo, ex-deputada do PS, termina namoro por causa do namorado ter deixado fugir o gato" - isto terminava em beleza com o namorado da Marta a deixar SMS - "Marta, lembras-te daquele jantar de arroz de coelho que eu fiz na sexta"?

4 "Sérgio Monteiro deixa Governo para liderar venda do Novo Banco" - já está na altura de fazer o grupo os Beneficiados do BES.

5 Francisco Assis vai reunir-se com militantes do PS no sábado, na Mealhada - antes a esquerda caviar que a direita leitão. Assis vai fazer a rodagem do Clio à Mealhada.

6 Ministério da Cultura e da Igualdade - tanto vendem a arte da Joana Vasconcelos como os quadros do Miró.

Portugal. “AS TRÊS CONDIÇÕES QUE O BLOCO IMPÔS FORAM ACEITES PELO PS” - Catarina



Catarina Martins demonstrou-se satisfeita com o acordo à Esquerda

A líder do Bloco de Esquerda, Catarina Martins viajou até ao Funchal onde elogiou os trabalhos feitos pelo Bloco de Esquerda na Madeira. "Antes de mais, tenho de referir o extraordinário trabalho do Bloco de Esquerda na Madeira. Sabemos que muita gente dizia que o Bloco não era capaz de fazer diferença no país e estava condenado à indiferença. Foi nas eleições regionais que o Bloco provou que isso era mentira", referiu. 

"Estas eleições alteraram realmente, concretamente, a relação de forças no país.  O que mudou foi o resultado das eleições. O que mudou foi a proposta política do Bloco ter mais força e a Direita ter menos força", adiantou. 

Catarina Martins explicou ainda que "a Direita coligada não conseguiu ter maioria. Desta vez, PSD e CDS candidataram-se juntos e não tiveram maioria. A  maioria dos votos foi expressa nos partidos que fizeram oposição à Direita". 

"Há uma maioria diferente hoje na Assembleia da República. Precisa que algum dos partidos que lhe fez oposição durante quatro anos lhe dê a mão para ter condições para governar", acrescentou. 

Antes de se referir ao acordo que fez com o PS, a bloquista sublinhou que a Direita "não contente continua a querer vender tudo. Inventam sempre qualquer coisa para vender. Este é o programa da Direita, de perseguir quem trabalhou toda uma vida. Esse programa foi derrotado e porque não tem maioria é que vai ser derrotado esta semana".  

Já sobre as vozes contrárias ao acordo de Esquerda, Catarina Martins afirmou que "não há nenhum golpe, a isto chama-se democracia". 

"Não há ninguém que não conheça as divergências entre o Bloco e o PS.  Os pensionistas não podem ser os porquinhos mealheiros dos défices orçamentais.  Sabemos por isso que uma maioria do PS teria lá o regime conciliatório, como teria tantas outras matérias que em tanto nos afastam do PS. Mas o PS aceitou falar", explicou.

"As três condições que o Bloco impôs foram aceites pelo PS", garantiu, acrescentando que "o Bloco já assumiu o compromisso de fazer para de uma maioria para um governo socialista, que tem um programa que é diferente e que responde mais pela vida das pessoas.  O acordo assenta na recuperação dos rendimentos do trabalho, na recuperação de salários e pensões ao longo da legislatura".

Notícias ao Minuto

Portugal. HORA DE RECUPERAR RENDIMENTOS



Carvalho da Silva – Jornal de Notícias, opinião

Os portugueses têm o direito à recuperação dos rendimentos que perderam nos últimos anos. Por razões de justiça e porque é indispensável para o desenvolvimento do país. Um novo Governo comprometido com os valores da democracia e com a Constituição da República terá de mexer de forma cirúrgica e com eficácia nas políticas salariais, na atualização das pensões de reforma, na política fiscal e em mecanismos de acesso a direitos sociais fundamentais.

A austeridade deve ser substituída pelo rigor. Os apelos dos governantes à submissão do povo e à pacífica aceitação de injustiças e humilhações têm de dar lugar a um diálogo responsável com os cidadãos e a sociedade, à transformação dos direitos e interesses das pessoas e das suas organizações no verdadeiro interesse nacional.

As políticas económicas terão de ser estruturadas não em função dos interesses egoístas de umas quantas centenas que detêm o fundamental da riqueza e do poder, mas servirem a sociedade no seu todo, assegurando redução de desigualdades, progresso social, desenvolvimento humano, científico e tecnológico. Só teremos um futuro melhor tomando estes objetivos como estratégicos. Como já tenho escrito, o enfoque no crescimento económico, sem cuidar da distribuição da riqueza e sem considerar todas as componentes do nosso desenvolvimento, pode ser um logro rotundo.

O Observatório sobre Crises e Alternativas divulgou na passada sexta-feira um barómetro sobre o salário mínimo nacional (SMN)1 que analisa e projeta cenários de um possível aumento para valores entre 532 e 600 euros. Aí podemos observar que i) com um reduzido impacto na massa salarial global das empresas se pode atingir um efeito positivo no rendimento de muitas centenas de milhares de trabalhadores; ii) sendo as remunerações e outros gastos com o pessoal (que inclui contribuições para a Segurança Social) apenas cerca de 20% do valor dos custos de produção e os gastos gerais com pessoal bem menores do que o que as empresas gastam com serviços externos contratados, é fácil constatar que há medidas de redução de custos bem mais influentes que a velha receita de espremer salários; iii) as pequenas empresas são mais atingidas pela subida do SMN mas, em contrapartida, podem beneficiar bastante do crescimento da procura; iv) num país com uma grande parte da população depauperada, a atualização do SMN poderá impulsionar o investimento privado e, por outro lado, reforçar as receitas da Segurança Social.

Mas, não é suficiente atualizar o SMN. É preciso uma melhoria progressiva da maioria dos salários, pois 50% do total dos trabalhadores auferem até pouco mais de 600 euros por mês. A revitalização da contratação coletiva é, assim, uma urgência sob pena de o SMN se transformar no salário "normal" da maioria dos portugueses e porque é através da negociação entre os trabalhadores e os patrões que essa atualização pode ser feita com estabilidade e se podem alcançar compromissos dinamizadores do emprego, da qualificação dos trabalhadores e do investimento produtivo.

A reposição de rendimentos tem de ser feita também através da atualização das pensões de reforma. Sem dúvida que todas as pensões mínimas deverão constituir uma primeira preocupação, mas, tal como na política salarial, temos de olhar para o universo dos reformados. De forma equilibrada mas regular, todas as pensões devem ser atualizadas. O atual sistema de cálculo das pensões já está bastante blindado no sentido de evitar benefícios indevidos e tem mecanismos mais que limitadores do valor das pensões futuras.

Nos sistemas públicos universais e solidários da Segurança Social não existem e jamais poderão existir reformas douradas, do tipo dos 90 mil euros mensais que Ricardo Salgado recebe do "Fundo de Pensões" daquele que era o seu banco. Contudo, como o Estado tem assumido responsabilidades na sobrevivência dos bancos e nos encargos destes, acaba por ser o povo a pagar a fatura.

Há muita "legalidade" a favor dos muito ricos que tem de ser posta em causa, e novas leis que agora devem ser feitas para repor justiça e rendimentos ao comum dos cidadãos.

Angola. MARTINS DA CRUZ, DE MINISTRO (PORTUGUÊS) A ASSALARIADO (DO MPLA)



MERCENARISMO POLÍTICO PARA LIMPAR REGIME

Folha 8 digital

Estávamos em Outubro de 2001. António Martins da Cruz anunciava a sua demissão do cargo de ministro dos Negócios Estrangeiros, aceite pelo primeiro-ministro, Durão Barroso. Horas antes, o diplomata divulgara um comunicado garantindo que não se demitia e reafirmando que nunca fez qualquer diligência junto do ex-ministro Pedro Lynce de Portugal para favorecer a entrada da sua filha no Ensino Superior.

O comunicado de Martins da Cruz surgia na sequência de notícias segundo as quais Rui Trigoso, ex-chefe de gabinete de Pedro Lynce, teria tentado por duas vezes alterar a lei de excepção de acesso à universidade para filhos de diplomatas sem o conhecimento do ex-ministro da Ciência e Ensino Superior. 

O facto de Rui Trigoso estar na altura convidado por Martins da Cruz para ser seu chefe de gabinete adensou as suspeitas sobre o ministro dos Negócios Estrangeiros, até porque, segundo a SIC, esta seria a primeira vez que haveria um chefe de gabinete de um ministro dos Negócios Estrangeiros não diplomata. 

O PS reagiu de imediato a este desenvolvimento, pedindo a comparência do Ministro dos Negócios Estrangeiros na Assembleia da República. A este pedido juntaram-se requerimentos semelhantes de outros grupos parlamentares. O Bloco de Esquerda quis a comparência de Martins da Cruz na Comissão Parlamentar da Educação. O PCP e Os Verdes exigem uma audição com carácter de urgência de Martins da Cruz e de Rui Trigoso.

No comunicado então emitido, Martins da Cruz revelou que o secretário de Estado das Comunidades, José Cesário sugeriu aliterações aos regimes especiais de acesso ao ensino superior. As alterações propostas contemplariam as habilitações académicas com que Diana Martins da Cruz concorreu ao Ensino Superior, mas Martins da Cruz assegurou – no comunicado – que o requerimento apresentado pela sua filha foi anterior à iniciativa de José Cesário. A sugestão de alteração dos regimes especiais feita pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros ao Ministério da Ciência e Ensino Superior foi apresentada por escrito, mas Martins da Cruz retirou-a no dia seguinte. 

No dia 1 de Agosto de 2003 foi despachado favoravelmente o requerimento de acesso à universidade apresentado por Diana Martins da Cruz. Poucas horas após a divulgação destas informações, Martins da Cruz anunciou a sua demissão. 

“Continuo disposto a fazer todos os sacrifícios pelo País, mas não tenho o direito de pedir os mesmos sacrifícios à minha filha”, disse o ministro demissionário. Para os partidos da oposição, a demissão só pecou por tardia e não chegava para encerrar o caso. O PS quis ouvir explicações do próprio primeiro-ministro. O então secretário-geral socialista, Ferro Rodrigues, considerou que Durão Barroso tinha de explicar ao País. 

O ano e meio em que Martins da Cruz chefiou a diplomacia portuguesa foi marcado por várias polémicas, a primeira das quais começou pouco depois de ter assumido o cargo, ao lançar a reforma interna do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Na altura, Martins da Cruz foi acusado de tentar levar a cabo um saneamento político depois de ter retirado o embaixador Francisco Seixas da Costa – com quem não tinha as melhores relações pessoais – da representação portuguesa na ONU num gesto que levou à movimentação de três dezenas de embaixadores. 

Nova polémica surgiu quando substituiu toda a hierarquia do MNE, o que aconteceu pela primeira vez na história da instituição. A restruturação da rede consular que levou ao encerramento de vários consulados, entre os quais o de Osnabruck, na Alemanha, e o de Hong Kong, desencadeou fortes protestos das comunidades afectadas.

MERCENARISMO POLÍTICO DIPLOMÁTICO E DINHEIRO DA CORRUPÇÃO

Um recente debate na portuguesa TVI, em que a estação televi-siva fez mais um frete ao MPLA, o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, agora como assalariado do regime de José Eduardo dos Santos, reproduziu as ordens recebidas de Luanda e criticou a forma “leviana e irresponsável” como Rafael Marques tem mostrado que o patrão de Martins da Cruz vai nu. 

Rafael Marques mostrou que o caso Luaty Beirão foi e é uma “fabricação” do sistema de justiça angolano, mas o antigo ministro português, hoje funcionário do MPLA, afirmou – tal como consta do despacho que recebera de Luanda – que o processo “foi posto pelas autoridades angolanas no plano judicial e não no plano político”. 

Martins da Cruz sempre quis afirmar-se como perito dos peritos. Que trate os portugueses como matumbos, é um problema dos portugueses. Agora que queira pôr os angolanos no mesmo plano, isso não. Seguindo à risca as instruções recebidas de quem lhe paga, Martins da Cruz disse que além de terem sido cumpridos os prazos, a justiça angolana foi até mais rápida que a portuguesa, pois marcou o julgamento num tempo recorde. O MPLA sorriu. De facto, não é fácil encontrar um sipaio tão submisso. 

António Martins da Cruz, certamente ainda a querer acertar contas antigas, disse mesmo que, enquanto a justiça angolana agiu dentro dos prazos, na fase de instrução, na acusação e na marcação do julgamento, a portuguesa manteve um ex-primeiro-ministro na prisão perto de um ano, sem deduzir acusação e sem marcar julgamento. 

“O facto de o Procurador da República receber instruções do Presidente da República nada tem a ver com a independência do poder judicial”, esclareceu António Martins da Cruz. Quem diria, não é? Terá sido, mais ao menos o que ele fez no caso da sua filha. Dão-se instruções mas, pasme-se, não se influencia a independência. Recorde-se que, de acordo com o Club-k, as autoridades angolanas indicaram sem alarido, António Martins da Cruz, como consultor do governo de Angola. A nomeação ocorrida devido aos bons ofícios de Manuel Vicente, aconteceu logo após as últimas eleições.

Como consultor do governo angolano, o seu contributo com maior dimensão foi na assessoria externa à TAAG, na altura das sanções na União Europeia que Martins da Cruz terá ajudado a resolver. O Presidente José Eduardo dos Santos tem sido identificado como um dos líderes africanos que mais recruta antigos governantes estrangeiros como seus consultores. Ao tempo do conflito armado, conseguiu recrutar como seu consultor um ex-secretário adjunto dos EUA para os assuntos africanos, Herman Cohen. Depois de ter cessado funções no departamento de Estado norte-americano, Herman Cohen passou a prestar consultoria ao governo de angolano através da sua empresa de consultoria Cohen & Woods.

Angola. OS ATIVISTAS E A “MEMÓRIA DE PASSARINHO”



Jornal de Angola, em A Palavra ao Diretor - opinião

De forma recorrente temos ouvido a oposição angolana a propalar que em Angola vive-se num regime ditatorial. Os autoproclamados activistas políticos fazem coro em fila indiana com a oposição e, cá dentro e lá fora, vão repetindo a mesma cantilena.

O objectivo dessa campanha - é disso que na verdade se trata - é o de criar as condições psicológicas para mais facilmente poderem justificar as acções de subversão política e desacreditar tudo de bom que até agora tem sido feito em Angola e apresentar ao mundo o Executivo angolano como uma instituição que atropela todos os valores da democracia.

É preciso ser pouco criativo para conceber e alinhar numa campanha desse tipo.

Em Angola o partido que perdeu as primeiras eleições multipartidárias na história do país, realizadas em Setembro de 1992, rejeitou os resultados eleitorais e partiu para a guerra. Esse partido foi militarmente derrotado e os seus dirigentes foram salvos da morte certa, levados a reorganizar a sua formação política e a concorrer de forma livre em eleições. Em que ditadura isso acontece?

Em que ditadura se permite que esse mesmo partido seja a maior formação política da oposição e tenha uma rádio que ataque diária e sistematicamente o Governo?

Em que ditadura já se realizaram três eleições, duas das quais simultaneamente legislativas  e presidenciais, e os partidos políticos ocuparam os seus lugares no Parlamento? Em que ditadura existe legislação que permite a constituição de diferentes partidos políticos e se admite, por lei, que possam ser criadas associações das mais variadas matizes e se pratique o activismo político na forma em que ele é desenvolvido?

Em que ditadura se consagra a existência de publicações com as mais diversas linhas editoriais e elas até aparecem à luz do dia como cogumelos e se mantêm ou desaparecem ao sabor das regras do mercado?

Em que ditadura é que se permite que uma eurodeputada visite o país, contacte os partidos políticos da oposição, associações cívicas e vozes críticas ao Governo e ao partido que venceu com maioria qualificada as eleições?

Em que ditadura se permite que presos acusados de prepararem uma rebelião possam ser visitados por delegações de partidos e outras instituições? Não teriam já sido eliminados?

Simplesmente nenhuma dessas realidades se ajusta à etiqueta de ditadura que se pretende, à força de repetir tantas vezes, colar a Angola. É incompreensível a forma como a oposição se entrega totalmente a essa campanha fazendo do extremismo verbal uma bandeira, pensando que assim estará a dar mostras de ser aguerrida, mas que na realidade é remar em sentido contrário à promoção dos valores essenciais que devem nortear a construção da democracia, como o respeito pelos símbolos do Estado. Não é o extremismo uma evidência eloquente do quão frágeis são os seus argumentos?

Nisso não há diferença entre a oposição e os activistas políticos. São a face e a contra face da mesma moeda. Vira-se o disco e toca a mesma música.

E por esse prisma todos os atalhos e expedientes são válidos para se chegar ao poder. Nota-se a impaciência dessa “frente de falsários”, constituída pela oposição mais os activistas, que quer-se substituir aos órgãos instituídos e prefere o caos instalado a ter de enfrentar nas urnas o veredicto popular. Em 2017 os angolanos vão às urnas, pela quarta vez na sua história, e todas as forças políticas devem preparar-se para disputar o pleito com fair play. Digam-nos em que ditadura é que os órgãos do Estado primam para que haja regularidade nos pleitos eleitorais e empenham-se para que seja apenas o voto nas urnas a ditar quem deve governar?

É preciso ter “memória de passarinho” para não entender que a realidade que pintam, propalam e vendem lá fora não se compagina com o que se vive em Angola, onde, graças ao esforço do Executivo e de todos os angolanos que almejam o progresso, podemos dizer que somos mais felizes agora porque soubemos pôr ponto final à guerra e estamos a construir um novo país. Com todas as falhas que podem ser apontadas, e que não podemos ignorar que existem e deverão ser ultrapassadas, os angolanos são mais felizes agora do que há 13 anos, quando as línguas de fogo do conflito militar devoravam vidas humanas e semeavam por todo o país a destruição.

Graças ao esforço do Executivo podemos dizer que somos mais felizes porque os angolanos souberam impedir que a guerra fosse de novo imposta ao país, por via da exportação das “primaveras árabes” para dentro das nossas fronteiras.

Sabemos que muitas das manifestações que estavam a ser preparadas não seriam tão pacíficas como se pretende fazer crer. Temos consciência do que a imprudência é capaz de gerar. Angola inteira não se pode permitir a um recuo da economia, ao regresso à destruição e ao atraso no processo de construção de uma realidade política assente na estabilidade das instituições.

O contrário seria deixar que se reproduzissem no nosso país as realidades que hoje marcam a Líbia, o Iraque e a Síria, porque a democracia tudo permite… Até incendiar o país. Por isso se inventa que em Angola há um regime de ditadura, que precisa de ser derrubado através de manifestações de rua incendiárias e não através do voto. Essa é a lógica da campanha em curso.

“ANGOLA É UM ESTÍMULO ÀS MUDANÇAS EM ÁFRICA” – PM de Cabo Verde



Angola vai ser um factor estratégico para a transformação não só da África Austral  mas também de todo o continente africano e do mundo, afirmou ontem, em Cabinda, o primeiro-ministro de Cabo Verde, José Maria Neves.

O chefe do Governo cabo-verdiano fez esta afirmação no final de um encontro que manteve, no aeroporto “Maria Mambo Café”, com a governadora provincial de Cabinda, Aldina da Lomba, no âmbito da sua visita privada de algumas horas à província mais a norte do país.

José Maria Neves, que cumpre desde quinta-feira uma visita de uma semana a Angola, realçou que o país, depois de 40 anos de Independência Nacional, tem-se transformado positivamente: “Com certeza vai ser uma torre fundamental para a África do futuro, porque hoje é um país diferente que se afirmou, tem a sua liberdade e que está a lançar as bases para se transformar num grande país do continente africano. Vim a Cabinda para conversar e dialogar com a governadora da província sobre a necessidade do reforço das relações de cooperação”, disse José Maria Neves, que justificou a sua ida à província deCabinda com o facto de a província ter uma grande comunidade cabo-verdiana.

No quadro da sua visita a Angola, o Primeiro-Ministro cabo-verdiano lançou sexta-feira, em Luanda, o livro “Cabo Verde-Gestão das Impossibilidades”, que retrata  aspectos ligados à vida sociopolítica, económica e social do povo daquele país africano. 
Apresentada pelo jurista angolano Carlos Feijó e pelo o filósofo português José Maria Carrilho, a obra foi já apresentada em Cabo Verde, Estados Unidos da América e Portugal. 

José Maria Neves representa Cabo Verde no acto central das comemorações dos 40 anos de Independência de Angola.

Jornal de Angola – foto Francisco Bernardo

FILIPE NYUSI CHEGA HOJE A ANGOLA PARA VISITA DE TRÊS DIAS



O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, chega hoje a Luanda para uma visita de três dias a Angola, no âmbito do reforço das relações bilaterais e para assistir às celebrações dos 40 anos da Independência Nacional.

O porta-voz do Conselho de Ministros de Moçambique, Mouzinho Saíde, disse que a deslocação de Nyusi é dividida entre uma visita de Estado, de 8 a 10  de Novembro, a que se segue, no dia seguinte, a participação nas celebrações do 40º aniversário da Independência Nacional.

Mouzinho Saíde apontou como objectivos da visita “o reforço dos laços históricos, de amizade, solidariedade e cooperação bilateral, bem como a revitalização das relações económico-empresariais”.

A possibilidade da visita de Nyusi a Angola já tinha sido admitida em Julho pelo então embaixador moçambicano Domingos Estêvão Fernandes, após um encontro com o Vice-Presidente da República, Manuel Vicente.

Segundo disse na ocasião Domingos Estêvão Fernandes, a visita do Chefe de Estado moçambicano deve envolver ainda a realização de um fórum de negócios entre empresários dos dois países. “Vimos as questões que se prendem com a cooperação bilateral, vimos também a necessidade do reforço na área económica, de forma a que possamos envolver cada vez mais os nossos empresários, de maneira a trazer essa cooperação mais dinâmica e que traga resultados com vantagens mútuas”, declarou o diplomata. A Assembleia Nacional realiza amanhã uma sessão especial por ocasião da visita do Presidente de Moçambique, que é marcada com discursos do Presidente da Assembleia Nacional, Fernando da Piedade Dias dos Santos, e do Chefe de Estado moçambicano. Filipe Nyusi visitou Angola em Julho de 2014, então na qualidade de candidato da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) às presidenciais de 15 de Outubro do mesmo ano, que viria a vencer. O novo embaixador de Moçambique em Angola, Santos Álvaro, anunciou recentemente a intenção dos dois países operacionalizarem o acordo de cooperação bilateral existente, com a criação de uma comissão conjunta permanente no domínio da Defesa.

O diplomata moçambicano afirmou que em tempo de paz urge reforçar a cooperação no domínio da defesa, para o asseguramento dos recursos naturais, da população e das conquistas alcançadas com a Independência. Além de realçar a irmandade existente desde os tempos da luta de libertação nacional e da luta contra o apartheid, dois inimigos comuns, o diplomata moçambicano aproveitou a ocasião para sublinhar que a situação político-militar em Moçambique é estável, as instituições funcionam e a vida faz-se com tranquilidade.

Angola assinala a 11 de Novembro 40 anos da proclamação da independência do país do regime colonial português, enquanto em Moçambique o 40.º aniversário da independência nacional foi assinalado a 25 de Junho.


Jornal de Angola – foto AFP

Moçambique. CAÇA AO TUBARÃO CONTINUA NA BAÍA DE INHAMBANE



Maputo, 07 NOV (AIM) A caça ao tubarão que nas últimas semanas vem criando um ambiente de terror na baia de Inhambane, Sul de Moçambique, onde uma pessoa foi morta e outras duas sofreram amputação dos seus membros superiores, ainda continua.

Na última sexta-feira, foi capturando um tubarão com cerca de 200 quilogramas naquela baia, só que este pertence a uma espécie considerada inofensiva e em risco de extinção.

O Administrador marítimo de Inhambane, Américo Sitoe, citado pela Rádio Moçambique, afirmou que esforços vão continuar a ser empreendidos no sentido de devolver o sossego aos homens que diariamente se fazem ao mar.

Esta semana, a imprensa nacional reportou a captura de dois filhotes de tubarão-touro.

Estes dois tubarões teriam sido encontrados mortos numa isca colocada pelos pescadores, na região de Muelé, próximo à zona onde ocorreu o ataque que matou uma pescadora moçambicana, segundo o jornal
O País.

A caça aos tubarões em Inhambane, que iniciou depois de sucessivos ataques aos pescadores, envolvendo 60 homens, autoridades locais e biólogos, vai custar ao Estado perto de 90 mil meticais.

(AIM) ht/dt

Moçambique. NYUSI EXIGE FORMAÇÃO MILITAR QUALITATIVA



Anacleto Mercedes, da AIM, Boane

Boane (Moçambique), 05 Nov (AIM)
O Presidente da República e Comandante-em-Chefe das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), Filipe Nyusi, exige que o Estado-Maior General garanta a formação de sargentos em quantidade e qualidade, com base num curriculum actualizado e ajustado aos novos desafios para o alcance do alto desempenho militar interventivo.

Nyusi falava hoje durante a cerimónia de encerramento do VI Curso de Formação de Sargentos, um evento que teve lugar na Escola de Sargentos das FADM no distrito de Boane, província meridional de Maputo.

Explicou que os sargentos são o veio de transmissão do apoio logístico necessário para o cumprimento bem-sucedido da tarefa militar, pois, é deles que os praças continuamente bebem os ensinamentos de aprumo, aspectos técnicos, éticos e postura militar.

Também é sua tarefa garantir o cumprimento do dever no quadro das missões constitucionalmente consagradas às FADM, incluindo as de interesse público, humanitárias e de apoio à paz. Aliás, ele é o verdadeiro encarregado que cuida e defende os seus elementos (os praças), dos quais ouvem todas as preocupações e buscam soluções equilibradas sem os descriminar nem dividir.

A presença dos sargentos deve-se sentir em todos os ramos, unidades e serviços das FADM. Ao comando da escola, encorajo a procederem com as regras de maior rigor, inovação e elevados padrões de qualidade para que o sargento formado seja digno e merecedor da patente que passa a ostentar no quadro hierárquico das FADM pela sua qualidade de formação, disse.

Neste quadro, segundo o Comandante-em-Chefe das FADM, a formação deve privilegiar a investigação, a paciência militar, a ligação e extensão com as unidades militares no terreno.

Aos recém-graduados, o Presidente da República explicou que ser sargento exige uma aprendizagem contínua no processo de aplicação prática dos ensinamentos colhidos durante a formação teórica.

Tenham, sempre, presente que a vossa avaliação não é um fim em si, mas uma simples conclusão de uma etapa formativa teórica. O período que se segue será um longo percurso de aprendizagem prática. Lembrem-se que cada batalha será diferente da anterior. A vossa avaliação nesta formação apenas iniciou, devendo prolongar-se por toda a vossa vida, toda a vossa carreira militar, referiu.

Disse que o povo moçambicano, a quem juraram servir, vai aferir o seu nível de organização, solidariedade e competência, pelo que, diante do cumprimento das missões, o grau de disciplina será continuamente inspeccionado.

O Presidente disse ainda que a sua bravura e prontidão profissional avaliadas pela sua resposta aos desafios da defesa da pátria e pela capacidade da manutenção de paz e estabilidade no país, bem como serão honrados pela garantia da defesa da unidade nacional e soberania nacional e pela imposição do respeito da Constituição da República.

O ministro da Defesa Nacional, Salvador Ntumuke, disse, por seu turno, que a formação de quadros a altura de garantir a defesa da pátria, integridade territorial, salvaguarda da independência nacional constitui um dos desafios do sector da defesa para o presente quinquénio e se enquadra nos quatro pilares eleitos pelo sector, nomeadamente formação, infra-estruturas, logística e saúde militar.

Por isso, o encerramento deste curso constitui o caminhar para a prossecução do desafio e a prova de que a formação do Homem constitui a principal aposta da estratégia de desenvolvimento institucional.

A nossa esperança e convicção é que, no exercício das suas funções, estes sargentos irão observar os princípios de hierarquia vertical, subordinação e obediência ao comando, que rege as FADM, traduzindo-se em ensinamentos de justiça, cumprimento de deveres, respeito de direitos, correcção de soldados e estima reciproca, afirmou.

(AIM) ALM/SG

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