sábado, 27 de fevereiro de 2016

Ex-PM timorense Mari Alkatiri diz atuar com "ousadia" e lamenta comparação a ditador



O ex-primeiro-ministro timorense, Mari Alkatiri, disse hoje que sempre atuou e continuará a atuar com ousadia e coragem, lamentando ter sido comparado pelo chefe de Estado ao ditador indonésio Suharto.

"Fui muito criticado, de abuso de poder, de um ditador que se compara com o Suharto. É uma pena", afirmou o atual responsável da Zona Especial de Economia Social de Mercado (ZEESM) de Oecusse e Ataúro.

"A verdade é que a minha preocupação, a preocupação do Estado, é a estabilidade social e económica da população nesta fase de desenvolvimento, quando queremos sair de uma mentalidade de economia de autossubsistência para uma de mercado", considerou.

Alkatiri comentava assim, para uma plateia de empresários lusófonos reunidos em Díli, o discurso que o Presidente da República, Taur Matan Ruak, proferiu na quinta-feira no Parlamento Nacional, sem nunca o mencionar diretamente.

O chefe de Estado comparou os benefícios que dirigentes do país têm dado a "familiares e amigos" com práticas do ex-ditador indonésio Suharto.

"Desde 2013, Xanana Gusmão, Mari Alkatiri, Lu-olo [Francisco Guterres, presidente da Fretilin] usam a unanimidade para quê? Não usam a unanimidade e o entendimento para resolver todos os assuntos que há por resolver. Usam-na para poder e privilégio", disse ainda o chefe de Estado.

Mari Alkatiri falava numa conferência organizada no âmbito do 1.º Fórum Económico Global da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), que termina hoje, com a aprovação de uma declaração final e a assinatura de vários protocolos.

O também secretário-geral da Fretilin disse que Timor-Leste tem mostrado nos últimos anos "ousadia, coragem e, acima de tudo, vontade de mudar paradigmas", procurando ser "um interveniente na área política e, agora, na área económica".

Com uma intervenção marcada por referências à crise política em Timor-Leste, Mari Alkatiri disse que tem trabalho com os seus "cúmplices" para tentar liderar uma mudança de paradigma no país.

"Coube-me a mim neste país a ousadia de tentar fazer isso e por isso receber dos meus cúmplices, daqueles que são meus cúmplices - fala-se muito de cúmplices em Timor agora -, a responsabilidade de o fazer", disse.

"Cumplicidade no que poderá ser bom par ao país e para o nosso povo. Porque não?", questionou, dando conta das dificuldades de concretizar esse objetivo num país "onde a visão do desenvolvimento ainda é baseada em conceitos que se transformaram em preconceitos" e onde alterar "os velhos paradigmas não é muito fácil".

Numa referência a Taur Matan Ruak - que desde que assumiu a Presidência tem visitado praticamente todos os 'sucos' (freguesias) do país - Alkatiri diz que é difícil "conseguir convencer outros", "especialmente num país em que o desenvolvimento é medido à medida das visitas aos sucos", deixando ainda recados sobre o que diz ser o "novo 'riquismo' do país".

"Somos um país de novos-ricos mas pensamos como pobres, não sabemos usar os nossos recursos para gerar mais riquezas, pensamos no dia-a-dia do consumismo, à maneira do novo 'riquismo'. E é esse um dos obstáculos ao desenvolvimento", afirmou.

Sobre os planos para Oecusse, explicou que está a ser concluído, com uma equipa da Universidade Nova de Lisboa, o plano de ordenamento do enclave, a que se seguirá o plano de desenvolvimento do território, assente em três pilares: turismo, agroindústria e o setor financeiro, "uma praça financeira ética", explicou.

Alkatiri explicou que os estudos preliminares apontam que daqui a dez anos Oecusse poderá contribuir com 8% do PIB agrícola nacional (ou cerca de 35 milhões de dólares), com o emprego a alcançar 40% da população e a pobreza a cair de 60 para 20 por cento.

O turismo, antecipou, poderá ter um contributo anual de 25 milhões de dólares, com cerca de 40 mil visitantes por ano.

ASP // MP

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