O
Pravda, ou Boletim Oficial, do regime de José Eduardo dos Santos (também
conhecido por Jornal de Angola) volta hoje – como todos os dias – a ser a voz
canina do dono, alvejando Portugal. É o estertor dos sipaios e do regime.
Orlando
Castro* - Folha 8
Em
editorial, o pasquim acusa Portugal de “cumplicidade criminosa” de alguns
“sectores” na guerra civil que terminou há 14 anos e a actual “incompreensão
absurda” portuguesa e europeia. Na perspectiva de que o fim está próximo, os
ratos preparam-se para abandonar o navio mas, é claro, não podem deixar de
cumprir as ordens do patrão.
Sob
o título “As lições da História”, o Pravda recorda o 4 de Abril de 2002, quando
foi assinado o acordo de cessar-fogo no país entre as forças governamentais e a
UNITA, concluindo quase 30 anos de guerra civil, hoje celebrado como dia Paz
(ausência de tiros) e daquilo que ainda não existe, a Reconciliação Nacional.
“Há
14 anos o país estava completamente devastado. A guerra lançada após as
eleições de 1992 pela UNITA de Jonas Savimbi foi das mais destrutivas que
Angola e África alguma vez viram e contou com a cumplicidade criminosa de
sectores em Portugal e na Europa que preferiam continuar a ter uma Angola fraca
a uma Angola igual entre as nações do Mundo”.
Como
sempre, os sipaios atiram a pedra e escondem a pata. Falam (isto é como quem
diz!) mas não põem o nome às coisas. Isso é, reconheça-se, um acto de
inteligência. Não fosse algum dos visados contar e provar histórias que
envolvessem estes invertebrados bajuladores.
Recordando
que em 2002 o país precisava do apoio dos doadores europeus, o Boletim Oficial
do regime justifica a parceria entretanto encetada com a China, para a
reconstrução nacional.
“As
autoridades angolanas precisavam do cumprimento das promessas feitas pelos doadores
internacionais em Bruxelas, mas essas foram-lhes recusadas pelos mesmos que
criticam hoje o facto de Angola querer fazer o seu caminho sozinha. Quando as
portas são fechadas — como hoje volta a acontecer — como não seguir pela
alternativa que sobra, a de caminhar caminhando”, questiona o editorial.
Está
justificado. Como justificado está o apoio que o regime teve ao longo dos
últimos 40 anos da URSS, Cuba, Coreia do Norte, EUA, Israel, Brasil, Roménia,
Portugal etc. etc..
Depois
de ter criticado as posições críticas assumidas pelo Governo e Assembleia da
República de Portugal e pela União Europeia no caso das condenações — e
proporção das penas aplicadas -, pelo tribunal de Luanda, de 17 activistas a
penas de prisão de até oito anos e meio de cadeia, o pasquim volta a apontar o
dedo à gestão portuguesa e europeia da relação com Angola.
É
claro que para esta demanda, o regime não fala (o Pravda só diz o que o regime
manda) dessa abominável coligação PCP, PSD e CDS de apologia da ditadura
angolana, nem de décadas de servil bajulação dos governos de Lisboa.
“Hoje
as atenções estão viradas para o processo de reforço das instituições do Estado
democrático de direito e de diversificação económica. Os angolanos estão outra
vez a arregaçar as mangas, mas novamente contam com a incompreensão absurda de
Portugal e da União Europeia”, lê-se nesta putrefacta montra de propaganda do
esclavagismo do regime.
Mas
que têm algum sentido de humor, isso têm. Falar de instituições democráticas em
Angola ou, também, dizer que Angola é um Estado de Direito só é aceitável no
âmbito do anedotário nacional onde, aliás, o Jornal de Angola ocupa o primeiro
lugar.
O
Jornal de Angola vai mais longe e garante que não há alternativa de poder no
país, elogiando o desempenho de José Eduardo dos Santos, Presidente do MPLA,
Titular do Poder Executivo e Presidente da República desde 1979 (sem nunca ter
sido nominalmente eleito) e que anunciou em o mês passado que deixa a vida
política activa em 2018.
Pela
nossa parte acrescentamos que José Eduardo dos Santos desempenhou um papel
único na pacificação e desenvolvimento de Angola, de África e até de todo o
mundo, incluindo… Marte.
“Os
dirigentes europeus não se coíbem de mentir aos seus próprios povos sobre a
realidade angolana e afirmam abertamente que pugnam pelo isolamento
internacional do Governo angolano, como se houvesse uma alternativa ao actual
poder em Angola que não fosse mais um aventureirismo político”, conclui o
pasquim.
E
tem razão, reconheça-se. Quando se tem um “querido líder” que foi “escolhido de
Deus”, que tem poderes divinos, que é o mais alto representante de Deus em
(pelo menos) Angola, que está muito, mas muito mesmo, acima dos seus pares
(caso de Nelson Mandela), que só tem rivais – embora a grande distância – como
Teodoro Obiang ou Kim Jong-un, não há mesmo alternativa.
*Orlando
Castro é diretor-adjunto do jornal Folha 8
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