Mariana
Mortágua – Jornal de Notícias, opinião
Foi
preciso uma enorme fuga de informação e uma notável investigação do Consórcio
Internacional de Jornalistas de Investigação para expor um outro mundo ao
Mundo. É muito mais que uma exceção à regra. O mundo offshore é um sistema
paralelo, construído à vista de todos, com o único propósito: a fuga.
A
fuga partiu de uma poderosa firma de advogados - Mossack Fonseca - sediada no
Panamá. Em tempos idos, também o Grupo Espírito Santo usou a sua filial ES Bank
Panama para ocultar operações financeiras. Pois bem, os documentos mostram
centenas de milhares de operações criadas por centenas de escritórios de
advogados e vários bancos bem conhecidos para servir milhares de clientes,
entre eles a oligarquia russa, o presidente da China, o jogador Messi, e pelo
menos 29 multimilionários da revista "Forbes". Estão juntos por um
interesse comum.
Messi
quer fugir aos impostos, há bancos - como o BES - que querem fugir ao
regulador, traficantes que querem fugir à lei, políticos que querem ocultar
pagamentos de corrupção. Todos querem fugir, e todos querem sigilo absoluto. É
disso mesmo que vive esta complexa teia, que não começa nem acaba no Panamá.
Conforme o grau de beneficio fiscal, proteção e descrição que se procura,
poder-se--á escolher entre Bahamas, a Suíça, o Luxemburgo ou mesmo a Madeira.
É
um sistema paralelo "legal" em que se oferece a possibilidade de
fugir aos impostos ou branquear capitais. Este sistema não só lava o dinheiro
do Mundo, como permite que, em nome da "competitividade fiscal", as
regras nos outros países vão mudando, ficando cada vez menos apertadas, cada
vez mais facilitadoras.
Ao
mundo dos offshore só acedem os mais ricos. Para os outros, os que trabalham e
ganham o salário mínimo, ou o médio, fica o peso de uma administração
tributária implacável, e a responsabilidade de, com os seus impostos, financiar
os estados.
Só
resta esperar que o choque do Panamá faça aprovar as propostas que o Bloco já
tantas vezes apresentou para limitar o acesso a este sistema paralelo. Se assim
não for, saberemos que não passa, mais uma vez, da mesma hipocrisia que
alimenta os offshore de quem ninguém gosta, mas que ninguém quer eliminar.
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