Rui Peralta,
Luanda
As
grandes operações de desestabilização são antecipadas por campanhas de
desinformação e manipulação, com o objectivo de descredibilizar e isolar o
alvo, de modo a neutralizar a rejeição e a solidariedade face á ingerência em
curso. Todas as campanhas imperialistas da actualidade começam desta forma,
seja em África, seja na América Latina, seja onde for. Observemos o processo
bolivariano na Venezuela, um exemplo (entre muitos outros que ocorrem em
simultâneo na América Latina, Médio-Oriente e África) de agressão em curso.
A eleição de Hugo Chávez para a presidência da Venezuela em 1998 marcou o
início do processo bolivariano, que promoveu grandes transformações sociais,
económicas e políticas, permitindo que milhões de venezuelanos tivessem acesso
á saúde, educação, habitação, cultura, melhores condições de vida, água e
electricidade em todas as casas. Este processo emancipador foi desde o início
desestabilizado pela oligarquia venezuelana e pelos USA, que temeram o âmbito
das transformações e o alargamento deste processo na região.
Os efeitos da crise económica foram matéria de fundo. A queda do preço do
petróleo – o país é exportador – associado á guerra económica lançada ao país
(as associações empresarias e confederações patronais efectuaram acções de
boicote), a inflação agravada (consequência, em muito, das acções de boicote
económico através do açambarcamento e da especulação, impedindo o acesso a bens
essenciais), conduziram às dificuldades sentidas pela população e levaram á
derrota nas eleições parlamentares. A acção do governo ficou paralisada e as
instituições tornaram-se disfuncionais. Em paralelo os USA decretaram, em 2015,
que a Venezuela constituía uma ameaça para a sua segurança na região e tentaram
pressionar a Organização dos Estados Americanos (OEA) a isolar o país.
Foi promovida a criação de uma situação caótica. A desconfiança, o temor e a
insegurança instalaram-se na sociedade venezuelana. O apelo feito nos USA pelo
ex-presidente da Colômbia (um homem com ligações ao narcotráfico e aos grupos
paramilitares da extrema-direita colombiana), Álvaro Uribe, a uma intervenção
militar na Venezuela, a bem orquestrada campanha de desestabilização e de
manipulação efectuada nos oligopólios da comunicação social internacional
contra a Venezuela, inserem-se nas ofensivas que as oligarquias nacionais, com
o apoio dos USA, têm efectuado contra os processos progressistas na América
Latina.
Compreender
o que está em causa na América Latina é essencial para África. Os processos de
destruturação em curso no continente africano necessitam de respostas soberanas
e solidárias. Muito do que se passou na Venezuela, em termos de campanha de
desestabilização, manipulação da informação, passa-se em África. Observem-se os
constantes planos de desestabilização na RDC, na região dos Grandes Lagos, em
Angola, Moçambique, Zimbabwe, as tragédias somalis e líbias, a Nigéria e muito
mais. Seria uma lista extensa que cobre o continente de Norte a Sul e do
Atlântico ao Indico. Repare-se, com atenção, nas constantes campanhas lançadas
contra Angola, que a propósito recebeu um pedido de ajuda da Venezuela para
reorganizar a produção artesanal diamantífera venezuelana e nos processos de
identificação de novas reservas diamantíferas, além do papel desempenhado por
Angola para que a Venezuela deixasse de estar sujeita às sanções impostas no
Processo Kimberley.
Compreender
o que está em causa na Venezuela, assim como o que está em causa nos processos
soberanos que decorrem na América Latina e em África, assim como desmascarar as
campanhas de desestabilização e de ingerência nos assuntos internos é um factor
central da luta pelo desenvolvimento e pela emancipação dos povos na busca de
um mundo melhor.
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