Ana
Alexandra Gonçalves*
Embora
a actualidade internacional, nos dias que correm, acarrete um peso
incomensurável, importa regressar a Portugal. E para dizer o quê? O óbvio: anda
muita gente a torcer para que tudo corra mal - muita gente numa comunicação
social agarrada aos interesses económicos e descredibilizada; muita gente dos
partidos da oposição que, desprovidos de ideias, agarram-se também eles à ténue
possibilidade do desgaste e eventual fim da solução política de esquerda.
O
vazio de ideias é assim preenchido com azedume ou com a mais abjecta hipocrisia
- Assunção Cristas, por exemplo, afirma agora que austeridade e os cortes foram
longe de mais e que é necessário apoiar os serviços de saúde. Demagogia? Sim,
em larga medida. Hipocrisia? Sem margem para dúvidas.
Para
além das críticas hipócritas e do azedume, pouco resta para além da esperança
de que tudo acabe mesmo por correr mal, nem que essa eventualidade acarrete
custos incomensuráveis para o país. De resto, o país nunca foi a principal
preocupação de partidos como o PSD e CDS, como ainda hoje essa é uma evidência
com a trapalhada da TSU e eventos similares.
Ora,
no cômputo geral temos um governo que, sendo apoiado por partidos de esquerda,
no âmbito parlamentar, não pode esperar que esses partidos defraudem as suas
identidades; um Presidente empenhado em ser garante de estabilidade, com mais
ou menos episódios de hiperactividade; e uma oposição vazia, apoiada por uma
comunicação social também ela inane, que aguarda pelo desastre para poder
regressar ao poder. Sem nada para oferecer, para além do quanto pior melhor, a
oposição vai vivendo à custa da ausência de alternativas internas, dos
discursos vazios e da esperança do pior que estará - julgam eles - para vir.
*Ana
Alexandra Gonçalves, em Triunfo da Razão
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