Rafael
Barbosa* – Jornal de Notícias, opinião
Mais
tarde ou mais cedo, haveria de chegar mais uma fatura para os contribuintes. Quando ainda se fazem contas ao que vão custar os buracos da CGD e do Novo
Banco, eis que surge mais um banco na liça, desta vez o Santander Totta, pronto
a cobrar milhões por conta dos famigerados swaps assinados pelo conjunto de
"boys" do PSD, PS e CDS que costumam alternar na gestão das empresas
públicas de transportes. Depois da ex-ministra das Finanças Maria Luís
Albuquerque ter empurrado o problema com a barriga (um pouco a exemplo do que
fez com o BES/Novo Banco, com o Banif e com a CGD), com isso aumentando a
conta, vem agora Mário Centeno anunciar as "vantagens" do acordo. Que
se podem resumir assim: o Estado (os contribuintes) paga 1,7 mil milhões de
euros ao Santander e este, por sua vez, soma-lhe 600 mil euros e empresta 2,3
mil milhões ao Estado, por 15 anos e com uma taxa de juro de 1,8%. Diz o
ministro das Finanças que, com este acordo, os custos são menores, nomeadamente
por via da poupança futura com juros. É uma forma de olhar para o problema,
compreensível se tivermos em conta que Centeno, não sendo responsável pelo
buraco, teve de encontrar uma forma de o tapar. Outra é perceber que assim se
vai delapidando o dinheiro público, agravando o défice, aumentando a dívida,
sem que ninguém seja verdadeiramente responsabilizado pelos atos de gestão
danosa.
Há
uma empresa, a Tecnórem, que ganha um concurso público de 21,5 milhões de euros
para a construção da Escola de Comunicações da NATO, em Oeiras. Há uma outra
empresa, a Mota-Engil, para a qual trabalha agora Paulo Portas, que já foi
ministro da Defesa, que fica em segundo lugar no mesmo concurso e apresenta uma
reclamação. Há um diretor-geral, Alberto Coelho, que fez parte da Comissão
Política do CDS com Portas, que decide pedir o aconselhamento a uma sociedade
de advogados, a Sérvulo Correia, a partir do qual a empresa que tinha ficado em
segundo lugar passa para primeiro, e em que a empresa que tinha ficado em
primeiro lugar é desclassificada, aparentemente à revelia de alguns dos membros
do júri do concurso. Há uma tentativa da empresa que passa de bestial a besta
para travar o processo em Tribunal Administrativo que esbarra na invocação do
interesse público por parte do atual ministro da Defesa, Azeredo Lopes. A
Tecnorém faz uma denúncia junto do Ministério Público, em que acusa Paulo
Portas de participar num esquema de favorecimento à Mota-Engil. O contrato é
assinado, assunto arrumado. Ou haverá por aí algum mal-intencionado que ache
que algumas destas coincidências precisam de esclarecimento?
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