Em
saudação aos 60 anos do MPLA, aos 52 anos da passagem do Che por África e aos
43 anos do 25 de Abril… e assinalando os 50 anos do início do “Exercício
ALCORA” e os 50 anos do início da Guerra do Biafra.
Martinho Júnior, Luanda
3-
Há 50 anos, em Abril de 1967, (dois anos depois da passagem do Che pelo Congo e
do início da primeira linha da frente progressista e informal entre Dar es
Salam e Brazzaville, envolvendo e apoiando os esforços da FRELIMO e do MPLA),
o “Ministro da defesa sul-africano Pier W. Botha”visitou secretamente
Lisboa, avistando-se “com Salazar, com Franco Nogueira (Negócios Estrangeiros),
Gomes de Araújo (Defesa) e Silva Cunha (Ultramar)”, dando “início
formal do apoio militar da África do Sul à guerra colonial em Angola (leste e
sudeste) e Moçambique (Tete), sob impulso e inspiração doutrinal do célebre
general A. P. Fraser, teórico da contrassubversão, recém-empossado como chefe
das Forças de Combate Conjuntas da África do Sul”… (Prefácio à Primeira edição
do livro “ALCORA – O acordo secreto do colonialismo”, pag. 10, Fernando
Rosas).
O
início do Exercício ALCORA ocorreu precisamente na mesma altura do início da
Guerra do Biafra (1967/1970) e integrando ingredientes sócio-políticos comuns
no âmbito da formulação da internacional fascista na parte austral do
continente africano.
Sob
os pontos de vista ideológico e doutrinário, começava a haver uma aproximação
entre as linhas maoistas e trotskistas, à esquerda e as mais reacionárias
linhas da ortodoxia “cristã-ocidental”, na sua “cruzada” contra
o comunismo, representado pela “ameaça soviética” e seus aliados.
Para
o baluarte da internacional fascista, era imprescondível, “contra os
ventos de mudança” que alimentavam o “perigo
comunista”, “defender a civilização cristã ocidental”!…
O
Governo de Salazar correspondia no Biafra às projecções da Aginter Press
(componente das“redes stay-behind” da NATO, que integrava remanescentes
nazis e fascistas da Alemanha, França e Itália, com vocação na América Latina e
em África), pelo que aos enlaces comuns (a que se adicionaria a influência
directa do “Le Cercle” por via do estímulo da então multinacional
francesa do petróleo ELF Aquitaine), determinaram geoestratégias comuns que na
África Austral potenciaram o Exercício ALCORA, no quadro dos interesses da
internacional fascista (a ter presente “A guerra secreta de Salazar em
África”, da autoria de José Manuel Duarte de Jesus, diplomata português e Inês
de Carvalho Narciso).
O
Biafra foi um teste de intervenção comum, tal como o apoio a Tschombe no
Katanga, que aproximou Salazar do “apartheid”, uma pista que os autores
do “ALCORA – O acordo secreto do colonialismo” não exploraram, apesar
de essas terem constituídos experiências prévias ocorridas imediatamente antes,
que testaram o que se iria forjar a sul.
No
Katanga e no Biafra foi estimulado desde logo o carácter secreto de múltiplas
iniciativas do Estado Novo e do “apartheid” em relação a África,
incluindo operações de inteligência contra os Movimentos de Libertação
em “territórios vizinhos” do próprio Exercício ALCORA, que obrigavam
a conexões dos serviços diplomáticos e de inteligência de forma conjugada, em
direcção aos pontos de apoio principais do Movimento de Libertação
(Brazzaville, Kinshasa, Lusaka e Dar es Salam).
A
internacional fascista na África Austral teve no Exercício ALCORA a sua
formulação geoestratégica, proporcionando a integração de todos os elementos
afins colectáveis (desde os aspectos físico-geográfico-ambientais em função das
diversas bacias hidrográficas da toda a região, até ao agenciamento humano
conforme o caso de Savimbi, desde logo afectado pelo âmbito“introdutório” da
Operação Madeira).
Os
principais cabos de guerra intervenientes no Exercício Alcora foram tocados
pela influência ideológica e sócio-política do “Le Cercle”: o general
Charles A. P. Fraser (África do Sul), o general Kaulza de Arriaga (em Moçambique),
o general Costa Gomes (Angola) e ainda o general António Spínola (na Guiné
Bissau), o que permitiu a aproximação das linhas de tendência maoista (em
ruptura como marxismo-leninismo desde 1958) e trotskista, das linhas
democratas-cristãos ultra conservadoras, uma “escola” que
sobreviveria ao colonialismo e ao “apartheid”, por que, não pondo o
imperialismo hegemónico em causa, eram nutrição a favor da globalização
neoliberal.
A
linha da frente progressista informal entre Brazzaville e Dar es Salam,
resultante dos enlaces do Movimento de Libertação (MPLA e FRELIMO sobretudo)
com os revolucionários cubanos que seguiram em duas colunas o
Che, “justificava” a formação da internacional fascista aplicável aos
termos geoestratégicos do Exercício ALCORA, pelo que Savimbi se haveria de
sentir “como peixe na água” na sua contínua subversão armada em
relação a Angola e a África (Austral, Central e Golfo da Guiné).
- “Países
ALCORA”, os signatários do acordo;
- “Territórios
ALCORA” em função dos Governos signatários do acordo (África do Sul,
Rodésia, Angola e Moçambique);
- “Países
com influência na segurança dos seus territórios”, como os casos do Botswana,
Suazilândia, Lesoto e Malawi;
- “Países
vizinhos com fronteiras com territórios da África Austral”, tendo em conta a
definição em termos políticos de “África Austral”, como a Tanzânia, a
Zâmbia, a República do Zaire, a República Popular do Congo e a República
Malgache. (Pag 245, “Conceito estratégico militar para os territórios
ALCORA, Anexo C”).
Essa
consideração obrigava aos signatários do acordo, entre outros, a expedientes de
inteligência (“segurança”) nesses “países vizinhos”, facto que dadas as
experiências comuns, anteriores e correntes (Biafra e Zaíre), não
negligenciaram e em alguns casos, como o de Jorge Jardim (tirando partido do
seu relacionamento com o Presidente Hastings Banda, do Malawi que propiciava a
aproximação ao Presidente Kenneth Kaunda na Zâmbia consumada em 1973,
precisamente quando eclodiu a Revolta do Leste no seio do MPLA, sob liderança
de Daniel Chipenda), tendo mesmo como base um dos “países com influência
de segurança”, para melhor chegar e equacionar acções nos“países vizinhos”.
A
abrangência da UNITA, como a transitoriedade dos “Flechas” sob chefia
do Inspector da PIDE/DGS Óscar Piçarra Cardoso, tal como
a “transferência” e “absorção” dos efectivos às ordens de
Daniel Chipenda tiveram assim garantida origem desde logo, no quadro do “conceito
estratégico”do Exercício ALCORA, uma verdadeira antecipação à que viria a ser
a “guerra de fronteiras” que implicou mais tarde, depois do
desaparecimento do colonialismo português, na constituição da Linha da Frente
formal contra o “aparheid”.
Em
relação a Savimbi o processo introdutório foi a Operação Madeira cujos efeitos
foram aproveitados muito para lá da permanência desse colonialismo português, o
que explica por exemplo e tanto quanto o foi possível,
a “repescagem” de sua figura e papel (no que a Angola dizia respeito),
pelos Presidentes portugueses Mário Soares e Cavaco Silva, uma vez que além do
mais Savimbi foi estimulado pelo “apartheid” (e ainda pela CIA dos
estados Unidos), a ganhar capacidade própria (com cobertura particularmente
do “lobby” dos minerais até quase ao fim de sua vida), tirando
partido de nexos pré-estabelecidos com os Presidentes Mobutu e Kenneth Kaunda.
A
tentativa paulatina de aproximação de Savimbi ao Presidente Nelson Mandela, com
resultados pouco animadores uma vez que o Presidente zairense Mobutu e o seu
estado autocrático estavam em “fase terminal” , deve ser encarada como
uma “inércia” dessas projecções, após o fim do“apartheid”.
A
consultar de Martinho Júnior:
A
ambiguidade feita cultura política – http://paginaglobal.blogspot.com/2013/11/a-ambiguidade-feita-cultura-politica.html
Assim
se faz a hegemonia – http://paginaglobal.blogspot.pt/2013/07/assim-se-faz-hegemonia.html
Eleições
na letargia duma colónia periférica – http://paginaglobal.blogspot.com/2013/10/eleicoes-na-letargia-duma-colonia.html
Assimilação
neocolonial sem precedentes – http://paginaglobal.blogspot.com/2017/03/assimilacao-neocolonial-sem-precedentes.html
Neocolonialismo
em brandos costumes e dois episódios – http://paginaglobal.blogspot.com/2017/03/neocolonialismo-em-brandos-costumes-e.html
Portugal
à sombra de ambiguidades ainda não ultrapassadas – I – http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/04/portugal-sombra-de-ambiguidades-ainda.html
Outras
fontes:
Lista
de entidades do “Le Cercle” – https://isgp-studies.com/le-cercle-membership-list
Daniele
Ganser – http://www.voltairenet.org/auteur124764.html?lang=es
La
guerra secreta en Portugal – http://www.voltairenet.org/article170116.html
Imagens:
Capa do livro “ALCORA – o acordo secreto do colonialismo”; “Rogue
agentes”, livro que descreve a acção do“Le Cercle”; “A guerra secreta de
Salazar em África”, da autoria do diplomata português José Manuel Duarte de
Jesus e de Inês de Carvalho Narciso; “Os exércitos secretos da OTAN”, onde
se inscreve a “Aginter Press”, da autoria do historiador Daniele Ganser; o
general Spínola, que tinha ligações ao “Le Cercle”, tal e qual acontecia
com Charles A. P. Frasier ao serviço do “apartheid” na África do Sul.
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