Paulo
Baldaia | Diário de Notícias | opinião
Bem
lembrava o Presidente da República, no 25 de Abril, que o país, além de ter de
produzir mais, tem de distribuir melhor a riqueza que produz. Por isso, o DN faz manchete com algo que parece chuva no
molhado. A notícia não é nova, o que surpreende é que nada mude ano após ano.
Não me incomoda o salário de ninguém nem defendo leis que estipulem salários no
privado, para lá daquela que existe para determinar um salário mínimo
obrigatório.
Mas
é olhando para uma empresa onde existe muita gente a ganhar pouco mais do que o
ordenado mínimo que se percebe como há ainda um longo caminho a percorrer. Quem
mais ganha, ganha cem vezes mais do que o ordenado médio da empresa. Se
compararmos com o caixa do supermercado dessa empresa, a diferença será maior.
Para
ver se percebemos! Mesmo para um defensor da iniciativa privada, como eu, não
pode ser moralmente aceitável que na mesma empresa alguém precise de trabalhar
oito ano para receber o vencimento do chefe máximo num só mês. Para evitar
perigos como Trump, Le Pen e outros quejandos não é preciso procurar antídotos
na retórica política. O que se joga nas democracias é a organização da
sociedade, a satisfação do bem comum e uma certa ideia de justiça. Que alguém
possa ganhar muito dinheiro com o seu trabalho é até desejável, que outros
dentro da mesma empresa tenham de fazer das tripas coração para esticar o
ordenado até ao final do mês diz muito sobre a sociedade que estamos a
construir.
Em
matéria de disparidade salarial, na União Europeia, só a Polónia, a Roménia e
Chipre estão pior do que nós. No extremo oposto está a Bélgica no meio dos
países nórdicos (Finlândia, Dinamarca e Suécia). Os dinamarqueses são, nem por
acaso, os que se dizem mais felizes entre todos os europeus. Repartem melhor a
riqueza produzida, gerem muito bem o tempo gasto a trabalhar, em lazer e com a
família. Lá também há ricos, mas há uma repartição mais justa da riqueza.
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