Paulo
Tavares | Diário de Notícias | opinião
Estão
todos, por fim, onde queriam estar. Livres do luto e disponíveis para um debate
político miserável e que mais não é do que o mesmo de sempre. Depois do que se
passou nos últimos dias, o país pedia e merecia mais. Entre as inúmeras
personagens secundárias, dos dois lados da barricada, que vão multiplicando-se
em acusações absurdas e maniqueístas, salva-se a sugestão do PSD, para a
criação de uma comissão técnica independente que nos dê as respostas que
procuramos. Salva-se igualmente a rapidez com que o governo aceitou a sugestão.
Já agora, se mal pergunte, "independente" vai significar exatamente a
mesma coisa para governo e oposição? Quem vai escolher os nomes dos técnicos?
Vamos ter votações no Parlamento para essas escolhas? Não me parece que seja o
caminho, mas enfim.
Seja
como for, que venha a comissão. Que seja rápida nas conclusões e que permaneça
o mais independente possível. Já dou de barato que haja fogos florestais e que
nem sempre seja possível contê-los nos primeiros momentos, ou seja, que alguns
fiquem fora de controlo. Há um longo historial de casos semelhantes, com
destruição de vastas extensões de floresta, em países com meios de combate bem
mais sofisticados e numerosos - Estados Unidos (sobretudo Califórnia), Canadá e
Austrália, apenas como exemplo. A grande diferença é que não há registo, nesses
casos, de uma lista tão grande de vítimas - mortos ou feridos. Diga-se o que se
disser - ou, nesta fase, adivinhe--se o que se adivinhar - sobre as ignições e
as condições de propagação do incêndio de Pedrógão Grande, há uma certeza. Em
caso algum deviam ter morrido ou ficado feridas pessoas sem qualquer ligação ao
combate ao fogo. Por outras palavras, não é aceitável que morram civis.
Voltando
à política. Já ouvi autarcas a disputar em direto na rádio o seu quinhão da
solidariedade nacional. "Aqui também ardeu!", gritam, com as
autárquicas ali ao virar do verão. Também já começou o empurrar da culpa de um
lado para o outro. Ainda ontem, em direto numa televisão, outro autarca garantia
que a limpeza daquela estrada - a EN236-1 - não era com ele, logo estava
descansado. E há de chegar a fase em que a GNR empurra para os bombeiros, e os
bombeiros para a coordenação da Proteção Civil, e por aí fora. Por respeito a
tudo o que se passou, exigia-se mais ponderação e tranquilidade, sobretudo a
quem tem tido acesso aos diversos palcos da comunicação social.
Foto: Lusa
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