Quando
a EDP era pública investiu na construção e manutenção de várias centrais
elétricas. Quando preparava a venda da empresa a privados, o Estado criou os
Contratos de Aquisição de Energia (CAE), que obrigavam à compra de toda a
energia produzida naquelas centrais e barragens.
Mariana
Mortágua | Jornal de Notícias | opinião
Depois
da privatização, a propaganda do capitalismo popular depressa terminou (chegou
a ter 800 mil pequenos acionistas) sob a pressão dos grandes interesses
financeiros e a empresa acabou nas mãos do Estado chinês. Mais, a liberalização
do mercado que, garantiam, ia trazer a Portugal as maravilhas da concorrência,
não resolveu nenhum problema. O mercado continuou concentrado, dominado pela
EDP, e a conta da luz astronómica. Porquê? Porque os donos da EDP instalaram-se
no melhor de dois mundos: lucros privados com subsídios públicos. A partir de
2007, por ação de governos do PS e depois do PSD, os CAE dão lugar aos Custos
de Manutenção de Equilíbrio Contratual (CMEC) a pagar pelos consumidores para
sustentar os lucros da empresa. Em poucas palavras, são contratos que garantem
que a rentabilidade daquelas centrais da EDP não será inferior a 14% ao ano.
Descobrimos
então o segredo do sucesso da EDP, a empresa que lucra mil milhões ao ano, e do
seu supergestor milionário, António Mexia. O truque são estas rendas excessivas
que a EDP coloca na fatura com a cumplicidade dos governos. Os CMEC já chegaram
a atingir um terço dos lucros da elétrica. É também por isto que pagamos uma
das eletricidades mais caras da Europa. A promessa de "capitalismo
popular" da privatização da EDP mostra a sua verdadeira face: os cidadãos
são postos a pagar o suposto sucesso dos gestores no mercado livre.
A
investigação judicial que agora decorre, e que constituiu como arguidos o
superadministrador Mexia e outros três altos responsáveis da EDP e da REN, é
mais uma página desta longa história. Da justiça só podemos esperar que faça o
seu trabalho, de forma isenta e célere. Do ponto de vista político, o essencial
mantém-se: as rendas da energia são excessivas, resultam da promiscuidade entre
política e negócios e têm de ser finalmente cortadas. O acesso automático à tarifa
social, proposto pelo Bloco, pôs a EDP a assegurar um desconto significativo
para mais de 700 mil famílias carenciadas. É um passo, mas está muito longe de
ser suficiente. Basta olharmos para o peso dos custos energéticos na economia
das famílias e das empresas. É preciso coragem e vontade política para cortar
nestes subsídios e colocar um ponto final no rentismo do setor elétrico.
*
Deputada do BE
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