Foi
no recém passado dia 5, quarta-feira, que os caboverdianos comemoraram 42 anos
de independência. Festejaram a efeméride com a importância que merece. Tal não
impediu que apontassem ao governo o muito que falta fazer, a descentralização é
uma das tarefas que tarda ser cumprida após a independência. Por isso mesmo
houve populações que se manifestaram a favor da descentralização. Principalmente
nas ilhas de São Vicente e de São Nicolau as populações não perderam a
oportunidade para exigir ao governo o cumprimento de promessas que desde a
independência todos os partidos e governos eleitos fazem mas que demoram a
cumprir. Para documentar recorremos à Deutsche Welle, numa reportagem de Nélio
dos Santos. (PG)
Cabo-verdianos
reclamam maior descentralização em Dia da Independência
Em
São Vicente, reinvindicou-se uma "distribuição mais criteriosa dos
recursos”. Em São Nicolau, quis-se alertar o Governo para a deficiente ligação
marítima e aérea de e para a ilha e para o desemprego jovem.
Milhares
de pessoas participaram esta quarta-feira (05.07) numa manifestação cívica no
Mindelo (ilha de S.Vicente) que durou cerca de uma hora e meia. Sob o lema
"Estamos cansados de ser ignorados, basta!", a manifestação decorreu
em ambiente de muita festa. Os participantes percorreram várias artérias da
cidade, sem quaisquer incidentes, empunhando cartazes com palavras de ordem
como "basta de centralismo”, "distribuição mais criteriosa dos
recursos” e reivindicando autonomia.
A
ideia da manifestação surgiu por iniciativa do movimento Sokols (uma
organização de massa juvenil fundada em S. Vicente), cujo atual mentor,
Salvador Mascarenhas, lançou o desafio através da sua página na rede social
Facebook. Em declarações à Rádio de Cabo Verde, Mascarenhas explicou que
"o que se passa no país é que os partidos políticos têm estado a não
responder aos anseios da população”. Para Salvador Mascarenhas, "o Governo
tem de agir consoante as vontades populares”, no entanto, o que tem acontecido
tem "sido exatamente o contrário”.
Salvador
Mascarenhas foi dos que mais gritou durante a manifestação. Com um megafone na
mão, foi repetindo palavras de ordem: "Povo de São Vicente, povo de Cabo
Verde, fizemos jus ao Dia da Independência. Hoje foi um dos maiores exercícios
da liberdade de expressão em Cabo Verde. De uma forma sem precedente o povo
saiu à rua para dizer o que lhe vai na alma. Queremos que nos deem autonomia e
liberdade para trabalhar”, gritou.
Os
manifestantes pediram ao Governo central que olhe por São Vicente. Um dos
cidadãos presentes na manifestação afirmou à DW África que "São Vicente
não está satisfeito e todos estão a sentir isso na pele”. Um outro mindelense
mostrou-se satisfeito com a manifestação que descreveu como
"extraordinária”. "Foi com civismo estonteante, não se manifestou
contra nenhum Governo ou político, mas sim a favor de São Vicente, a favor da
descentralização”, acrescentou.
"Inicialmente
pensei que estava pouca gente, mas a manifestação superou as expectativas”,
afirmou ainda outro manifestante.
Protestos
em São Nicolau
Na
ilha de São Nicolau, o povo também saiu à rua alertando o Governo para a
deficiente ligação marítima e aérea de e para a ilha e para o desemprego jovem
que se regista atualmente.
José
Almeida, promotor desta manifestação, afirma que, tal como clamou o povo
durante a manhã, "a ilha de São Nicolau foi abandonada”. "Prometeu-se
muita solução, mas tudo ficou em promessa. Queremos que o Governo preste mais
atenção à ilha. São Nicolau já foi uma ilha de referência e berço da
intelectualidade cabo-verdiana”, deu conta.
"Vitalidade
da democracia"
Numa
primeira reação, o Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca, disse que
estas manifestações provam a vitalidade da democracia cabo-verdiana. Afirmando
que "vê [a realização] de manifestações com toda a naturalidade”, o
Presidente da República cabo-verdiano acrescentou que "nas democracias, o
direito de manifestação, à greve, de expressão, à crítica, à diferença, à
indignação e ao protesto são coisas absolutamente normais e traduzem-se de
certa forma na vitalidade da democracia que nós temos”.
Também
o Primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, afinou pelo mesmo diapasão.
"Estamos em democracia e as pessoas têm toda a liberdade para se
manifestarem. O facto de estarmos a ver isso representa que há mais liberdade,
não há medo e os cidadãos podem manifestar-se”. Sobre as motivações das
manifestações, o Primeiro-ministro afirmou "não ter nada que opinar”.
Janira
Hopffer Almada, líder do principal partido da oposição (Partido Africano de
Inpedendência de Cabo Verde-PAICV), disse também que as manifestações foram um
acto de cidadania. Para esta cabo-verdiana, "em democracia temos de
assumir que quem dá o poder é o povo e é preciso auscultar o povo em
permanência e os sinais que [este] vai emitindo”.
O
presidente da União Cabo-verdiana Independente e Democrática (UCID), António
Monteiro, que reside em São Vicente, concorda com os manifestantes e afirma que
a ilha precisa de uma atenção especial. Para este responsável, "quando o
povo demonstra, de forma ordeira e civilizada, o seu descontentamento, nós os
políticos devemos ouvir, porque em democracia é o povo quem mais ordena”.
Nélio
dos Santos (Praia) | Deutsche Welle
Fotos:
1 - Manifestação em São Vicente no 42º aniversário da Independência de Cabo
Verde; 2 - Manifestação em São Nicolau
Sem comentários:
Enviar um comentário