Futuro
do presidente depende da aprovação da reforma trabalhista. Se ele não
conseguir, vai virar um "pato manco" já no início do mandato, afirma
correspondente Barbara Wesel.
Barbara
Wesel (as) | Deutsche Welle | opinião
O
presidente Emmanuel Macron não teve um verão muito feliz. A criação de um cargo
oficial de primeira-dama para sua mulher deu errado e foi mal recebida na
imprensa, assim como a divulgação dos gastos com a maquiadora que o prepara
para aparecer na televisão. A popularidade dele está em queda livre. Na verdade
tudo isso é insignificante, mas mostra com que impaciência os franceses
acompanham seu novo presidente. A reforma trabalhista é que vai mostrar se ele
tem condições de governar e vai decidir sobre a sua sobrevivência política.
Os
antecessores de Macron, Nicolas Sarkozy e sobretudo François Hollande,
fracassaram retumbantemente na tentativa de reformar as enferrujadas leis
trabalhistas. O primeiro não aguentou o ronco das ruas, e o socialista diluiu
tanto as reformas que, no fim, não tinha mais apoio em nenhum dos lados.
Os
socialistas fracassaram na última eleição, e mereceram. E como também na
direita o que predomina é o conflito, com republicanos e Frente Nacional
ocupados em brigas internas, Macron tem, politicamente, as mãos livres para
agir. Os seus próprios deputados podem até cometer erros e se envolver em
escândalos, mas garantem uma maioria parlamentar ampla e estável ao presidente.
Além
disso, o poder dos sindicatos diminuiu. O moderado CFDT anunciou, apesar de
meses de debates com o governo, sua esperada rejeição às reformas, mas não vai
sair às ruas contra elas. Os linhas-duras da CGT, porém, já estão rufando os
tambores e querem levar os franceses às barricadas a partir de meados de setembro.
Porém,
o que interessa a eles é menos a proteção dos direitos dos trabalhadores, como
afirmam suas bandeiras, mas a própria sobrevivência. A esquerdista CGT perde
membros e influência. Só 11% dos franceses estão em sindicatos. Os gritos são
mais altos do que o número de trabalhadores representados. Ninguém precisa,
portanto, se intimidar com um mar de bandeiras vermelhas e uma elevada
disposição para o quebra-quebra – os sindicatos radicais falam em nome de uma
pequena minoria de franceses.
Porém,
eles são reforçados pelos esquerdistas de Jean-Luc Mélenchon. Ele
representa a única oposição que funciona e alcançou 17% dos eleitores, um
resultado expressivo. Seu furor de tons comunistas e sua disposição para a luta
não devem ser subestimados.
Mas,
mesmo que em setembro as pedras voltem a voar e o trânsito seja interrompido em
Paris, Macron precisa encarar tudo isso. A maioria dos franceses não vai
sair às ruas, e muitos querem as reformas, mas o presidente precisa voltar
a se comunicar com a população. Sua atitude divina e o celebrado
distanciamento o prejudicam. Ele precisa se mostrar destemido, como na
campanha, e buscar o contato com os trabalhadores, mesmo que seja vaiado.
O
direito trabalhista francês é um monstro. Essas centenas de páginas devem ser
jogadas fora. É um milagre que ainda haja postos de trabalho na França. Por
isso é correto que Macron, com a sua reforma, mire sobretudo nas pequenas e
médias empresas. Ele precisa tornar a vida delas mais fácil, pois é lá
que está o maior potencial de criação de empregos.
Não
se trata de acabar com o Estado de bem-estar social e com os direitos dos
trabalhadores na França, isso é propaganda. Trata-se da abertura para
negociações entre empresas e sindicatos, mais espaço para as pequenas empresas,
uma certa flexibilização da proteção contra a demissão. Hoje os trabalhadores
na França se dividem em duas classes: aqueles que têm postos de trabalho
protegidos e os que têm contratos temporários, sem chance de entrar no sistema.
A prova de que isso não funciona é o desemprego, que está em torno de 10% há
anos.
Para
o presidente, porém, é tudo ou nada. Ele precisa vencer essa primeira rodada da
disputa e fazer a reforma dar certo. Do contrário, vai virar um "pato
manco" já no primeiro semestre na presidência. Durante uma viagem ao Leste
Europeu, ele reclamou que é impossível reformar a França e que os franceses têm
muitas expectativas. Ele deveria tomar mais cuidado, pois essas são coisas que
se pode pensar, mas não dizer – elas soam arrogantes.
E
arrogância é um dos grandes riscos do presidente. Ele precisa arregaçar as
mangas e botar a mão na massa, mesmo que se considere fino demais para o corpo
a corpo político. Aqui o líder francês tem algo a aprender com a chanceler
federal Angela Merkel: não deixe o poder subir à cabeça e mantenha os pés no
chão. Do contrário, ele poderá fracassar já no primeiro mandato.
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