Malabo,
12 nov (Lusa) - O dia eleitoral, hoje, na Guiné Equatorial, é típico: não há
internet, as ruas estão vazias de carros não-credenciados e dois militares
armados vigiam de perto cada uma das centenas de mesas de voto, espalhadas por
um país onde o álcool está proibido desde sábado.
"Não
há internet, é normal aqui", diz Plácido, 17 anos, que usava um
'smartphone' apenas "para fazer chamadas" já há dois dias, porque o
'Facebook' ou o 'WhatsApp' já apresentavam vários problemas, graças à
interferência dos serviços de segurança.
A
própria televisão do Estado transmite com recurso a cabos, porque não há outra
hipótese e porque "no dia das eleições essas são as regras", diz uma
jornalista contactada pela Lusa.
Essas
regras estendem-se ao resto. Os carros que circulam são apenas as viaturas
autorizadas e não há álcool distribuído.
"Hoje
à noite já vou poder beber aqui", diz Salvador Assung, instantes depois de
votar na esplanada do bar 'Miguel Angel', hoje transformado durante o dia em
mesa de voto.
Em
cada rua povoada existem várias assembleias de voto devidamente vigiadas cada
uma por dois militares armados com metralhadoras.
Cada
mesa serve quatro centenas dos 300 mil eleitores espalhados pelo país, um
quarto da população de 1,2 milhões.
"Eu
não vou votar, não estou recenseada. Estava fora nos Camarões e por isso não
estou recenseada", diz Cristina, como que a justificar-se enquanto
acompanhava a avó a votar num dos bairros populares de Malabo, a capital
insular do país.
Em
cada mesa de voto, os três partidos que concorrem às eleições são o Partido
Democrático da Guiné Equatorial (PDGE, no poder com uma maioria de 99 deputados
em 100 lugares), a coligação "Juntos Podemos" e o recém-legalizado
"Cidadãos pela Inovação".
Os
carros são poucos, porque é necessário um salvo-conduto, mas agora os
equato-guineenses dizem que as coisas estão mais fáceis.
"Noutros
anos só podíamos vir à rua para votar e ficávamos em casa. Hoje há liberdade
para andar a pé", explica António, 73 anos, para quem "a internet é
coisa dos miúdos".
A
própria página oficial do Governo da Guiné Equatorial continua por atualizar
hoje.
Tudo
porque não há exceções: a internet está bloqueada.
"É
uma questão de segurança por causa da sensibilidade das pessoas", disse
Clemente Engonga Onguene, presidente da Junta Eleitoral, à Lusa.
Ao
seu lado, a poucos metros, estavam seguranças israelitas, guarda-costas
pessoais do presidente Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, no poder desde 1979.
O
país tem sido alvo de várias acusações de violações dos direitos
humanos e das liberdades políticas.
Terceiro
maior produtor de petróleo da África subsariana e com uma população de apenas
1,2 milhões de pessoas, a Guiné Equatorial é um dos países com mais rendimento
'per capita' do mundo, com dezenas de edifícios públicos de grandes dimensões e
uma construção urbana única no continente.
Paulo
Jorge Agostinho, enviado da agência Lusa
Sem comentários:
Enviar um comentário