Adelino
Cardoso Cassandra | Téla Nón | opinião
Soube,
há dias, que o governo Santomense, resolveu, de supetão, como habitualmente se
faz na nossa terra, sem qualquer estudo, reflexão, amplo debate ou simples
apresentação de um projeto fundamentado que alicerçasse tal ambição, criar uma
contribuição, (não sei se imposto ou taxa) paga por todos os cidadãos através
da fatura da luz, como mecanismo de financiamento do serviço da rádio e
televisão públicas.
Isto
não é só incompetência ou mediocridade, caracterizador do nosso modus
faciendi habitual, tipifica, também, um certo Chico-espertismo promotor da
perversão dos valores básicos de um verdadeiro Estado de Direito Democrático.
Já
não bastava termos uma televisão e rádio públicas, deprimentes e com pendor
imobilista, ao serviço do ADI e do atual governo, agora temos todos que,
financiá-la, também, para cumprimento de uma agenda ou propósito
político-partidário bem definido.
Faz-me
muita confusão a forma como as pessoas aceitam, caladas e ordeiras, como gado
adestrado, esta autêntica afronta e engodo, em nome do interesse público,
contribuindo com o seu próprio dinheiro e esforço, uma agenda ou necessidade
privada, comportando-se como fiéis daquelas igrejas que passam a vida a
entregar as suas poupanças aos pastores das mesmas. Isto não é imposto ou taxa
nenhuma! É uma espécie de dízimo que, mensalmente, as pessoas entregam,
contrariadas ou não, ao pastor, para diariamente terem direito, nas antenas da
rádio e televisão públicas, à bênção, banalidades, inaugurações de templos bem
como comunicados e proposta pastoral.
Faz
algum sentido as pessoas estarem a financiar, com o seu próprio dinheiro, um
bem, que, eventualmente, provoca, a médio e longo prazos, impactos indesejados
na sociedade sem qualquer relevância para as nossas necessidades ou propósitos
como comunidade? Os cidadãos, de uma forma geral, devem contribuir, individual
e coletivamente, com os seus esforços financeiros, para a função de propaganda
de uma rádio e televisão públicas que simplesmente servem os interesses de uma
força política em detrimento das outras?
O
serviço público de rádio e televisão, contando ou não com uma contribuição
financeira por parte de todos os cidadãos, só faz sentido se incorporar, na sua
formulação estratégica, a montante, a ideia de fomento e promoção da liberdade
de expressão e pluralismo de opinião. Isto é o mínimo que se poderia exigir aos
nossos governantes responsáveis por esta iniciativa.
O
episódio recente em que o Conselho Superior de Imprensa deliberou a favor dos
partidos da oposição, MLSTP e PCD, instruindo a televisão pública Santomense
que criasse condições para que estes partidos exercessem os seus direitos de
respostas, na TVS, tendo em conta o conteúdoda entrevista anterior do
primeiro-ministro, na mesma estação de televisão, só vem demonstrar que, de
facto, não existe liberdade de expressão e pluralismo de opinião na rádio e
televisão públicas. Como é possível que estejamos todos a pagar uma rádio e
televisão públicas que têm este comportamento?
Não
podemos estar a dizer todos os dias, que o nosso objetivo, como comunidade, é a
criação de uma sociedade livre, informada e plural e, paradoxalmente, criar
condições para que a rádio e televisão públicas funcionem como obstáculos ao
desenvolvimento destes preceitos, sendo, por absurdo, ainda por cima,
financiadas pelos próprios cidadãos.
Sempre
tive imensas dúvidas de que quem, objetiva ou subjetivamente, criou condições
para acabar com um programa de debate público e plural numa rádio privada, que
era dos programas radiofónicos com maior audiência no país, não poderia estar
em condições de configurar um verdadeiro serviço público de rádio e televisão
no país que desse resposta aos nossos problemas como comunidade. Provavelmente,
o dinheiro que é retirado às pessoas, mensalmente, como contribuição, em forma
de taxa ou imposto, para garantia deste hipotético serviço público de rádio e
televisão públicas deveria ser canalizado para a rádio Jubilar para o
cumprimento de obrigações neste âmbito. Isto, sim, era um verdadeiro serviço
público e é uma pena que seja uma rádio privada a fazê-lo.
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